6 DISCOS: DAVE BALL & JON SAVAGE, FIRE! ORCHESTRA, DANIEL HIGGS, R. SCHWARZ, SCOTT WALKER, IZABELA DIUZYK

DAVE BALL & JON SAVAGE – “PHOTOSYNTHESIS”
Em “Photosynthesis”, temos a união do lendário Dave Ball (fãs de synthpop lembrarão dele da lendária banda oitentista Soft Cell) com Jon Savage pra composição de uma suíte de oito peças com uma hora de duração.

A instrumentação analógica imprime texturas sensoriais palpáveis – o piano, o drone, os sons que cercam todo o álbum. E as anotações nas linhas introdutórias refletem bem isso: “sentado no jardim rodeado por árvores e plantas em um dia ensolarado, a ideia de organismos que usam a luz solar pra sintetizar os nutrientes de CO2 e água tornou-se uma inspiração pra nós. Esta ideia, justaposta com a destruição da humanidade do planeta através da poluição e da guerra nos deu a inspiração pra compor essa paisagem sonora “.

NOTA: 7,0
Lançamento: 2 de setembro de 2016
Duração: 56 minutos e 02 segundos
Selo: Cold Spring Records
Produção: Dave Ball e Jon Savage
Pra ouvir (um trecho): clique aqui

FIRE! ORCHESTRA – “RITUAL”
O Fire! Orchestra passa de vinte membros, a maioria toca instrumentos de sopro. Apesar de uma influência gritante que “Ritual” pega emprestado de Charles Mingus, não dá apenas pra chamar esse disco de jazz. Há uma fusão confrontante de facetas (o próprio swing, o krautrock, o funk, o soft pop dos anos 50…).

A abordagem das guitarras (com o foco no rife) utiliza o hard rock e estabelece neste uma linha tênue com a música psicodélica. Disso, tem-se a transição pra uma longa seção de guitarras no wave. Apesar de todas essas variações (e muitas outras relativamente difíceis de serem descritas), o que mais me chamou a atenção no disco foi a utilização das duas cantoras – Mariam Wallentin e Sofia Jernberg. Ambas partem de uma origem jazzística pra se deixarem influenciar (e influenciarem!).

Tudo isso só é possível, claro, graças à liderança inquestionável de Mats Gustafsson, que usa seu vasto conhecimento musical e faz um dos projetos musicais mais ambiciosos dos últimos tempos.

NOTA: 9,5
Lançamento: 29 de abril de 2016
Duração: 52 minutos e 48 segundos
Selo: Rune Grammofon
Produção: Linn Fijal, Mikael Werliin e Mats Gustafsson
Pra ouvir (a parte 1): clique aqui

DANIEL HIGGS – “THE FOOL’S SERMON, PART 1”
Daniel Higgs liderava a banda que extremava os limites do pós-hardcore e da música psicodélica, Lungfish. “The Fool’s Sermon, Part 1” mostra um Higgs com uma sensibilidade excêntrica e passeando pelo spoken word e pelo bluegrass (é sério!), enquanto fala sobre insanidades e loucuras – um tolo dando algum sermão.

É sem dúvidas um disco místico, dividido em duas partes (a “A”, no lado A; e a “B”, no lado B), e a implicação de tantas invocações talvez soem imprecisas. Mas inegavelmente exploradoras de territórios não tão confortáveis.

O principal instrumento pra gravação do álbum foi uma harpa judaica acompanhada pelo banjo do próprio Higgs (com Eli Winograd no baixo e Fumie Ishii na bateria). Judaísmo este que Higgs mantém na autodepreciação (o nome do disco), mas também em uma estranha exploração de dissonâncias e experimentalismo, ambos fundados em uma tradição antiquíssima.

NOTA: 5,5
Lançamento: 18 de agosto de 2016
Duração: 36 minutos e 49 segundos
Selo: Ideologic Organ
Produção: Daniel Higgs
Pra ouvir (trecho do lado A): clique aqui

R. SCHWARZ — “WIND 1-3”
Eu fui dar uma caminhada ouvindo essa gravação e é notável como o “suspense” e toda subjetividade de “Wind 1-3” te tomam por completo.

É uma cassete em que confluências que podem soar apenas como rascunhos destacam uma sonoridade que se esconde ao mesmo tempo em que representa uma ameaça à toda luz. Mas apesar de todo ocultismo que é a principal evocação da gravação, R. Schwarz (o “R” é de Robert) consegue impor traços harmônicos em meio à tudo isso. Isso porque ele reage às suas gravações de campo com sintetizadores modulares, estes que conseguem sobrepor à escuridão dita “natural” do ambiente que Schwarz registra (gravações de campo da Ilha Gomeira, localizada no arquipélago das Canárias).

A repetição e as alternâncias graduais de volume podem ser encaradas como registros de localização em um território desconhecido. É um jogo de forças: a força natural e seu caos, a força artificial e seus simulacros e a tentativa humana de se localizar em lugares.

Só sei que no fim da minha caminhada R. Schwarz tinha exercido suas impressões e justificado sua força (ou a falta dela).

NOTA: 7,0
Lançamento: 1º de setembro de 2016
Duração: 26 minutos e 26 segundos
Selo: Audio.Visual.Atmosphere
Produção: Robert Schwarz
Pra ouvir (“Wind 1”): clique aqui

SCOTT WALKER — “THE CHILDHOOD OF A LEADER”
Nos apenas dezesseis segundos de “Orchestral Tuning Up”, a faixa de abertura, a trilha sonora de “The Childhood Of A Leader” vai te conquistar (pode ter certeza!).

Bebendo diretamente da fonte de nomes como Stravinsky, o caos modernista subvertendo composições tradicionais, as dissonâncias que ao mesmo tempo em que se desencontram constroem uma estrutura – explorando a tensão entre elementos desassociados, extrapolam qualquer racionalismo reducionista – é o campo dos próprios fenômenos que se manifestam.

Você só precisa de dezesseis segundos.

NOTA: 9,0
Lançamento: 19 de agosto de 2016
Duração: 29 minutos e 17 segundos
Selo: 4AD
Produção: Scott Walker e Peter Walsh

IZABELA DłUżYK — “SOUNDSCAPES OF SUMMER”
“Soundscapes Of Summer” pode parecer inicialmente ingênuo, mas toda a ingenuidade idílica e possivelmente nostálgica pra maioria dos ouvintes é ameaçada no término do primeiro minuto da primeira peça; pode-se aliar a isto o fato de Izabela Dłużyk ser uma pessoa cega que busca registrar os sons que, como os olhos das pessoas que não passam por sua dificuldade, são o guia pra suas andanças.

“Soundscapes Of Summer” é sobre como preencher um vazio concreto e absoluto; aquele que começa todo dia quando os olhos são abertos…

NOTA: 7,5
Lançamento: 5 de setembro de 2016
Duração: 75 minutos e 38 segundos
Selo: LOM
Produção: Izabela Dłużyk
Pra ouvir: clique aqui

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