6 DISCOS: SUZUKI JUNZO, REMPIS-JOHNSTON-OCHS, KEMPER NORTON, JOHN CHANTLER, OVERTONE ENSEMBLE, TRISTAN PERICH

SUZUKI JUNZO – “IF I DIE BEFORE I WAKE”
Levemente inspirado no krautrock, o guitarrista Suzuki Junzo se une ao baterista Ikuro Takahashi (Fushitsusha e High Rise) pra uma sessão rítmica em que o intercambio entre ambos é baseado principalmente num minimalismo que prioriza a construção de estruturas e texturas (a progressão sonora ao mesmo tempo que satura – sempre com elementos progressivos – credita à vastidão que ela cria um espaço para livre improviso).

Os efeitos decorrem também de um transe psicodélico que é capaz de provocar uma imersão “meditativa” enquanto não nega nunca o improviso (influências óbvias de Derek Bailey neste último).

A utilização de sintetizadores e efeitos distorcidos que são capazes de criar densas atmosferas em nenhum momento interrompe as sessões de improviso – ao contrário, ambiência construída e instinto caminham juntos aqui. Usando e abusando de feedback e delay, “If I Die Before I Wake” é um campo vasto em que imersão e efêmero caminham lado a lado.

NOTA: 7,0
Lançamento: 26 de agosto de 2016
Duração: 66 minutos e 23 segundos
Selo: Utech Records
Produção: Suzuki Junzo
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REMPIS/JOHNSTON/OCHS – “NEUTRAL NATION”
Três dos mais radicais instrumentistas de sopro no tocante ao jazz livre – Dave Rempis (sax alto/barítono), Darren Johnston (trompete) e Larry Ochs (sax tenor) – se reúnem pra uma sessão em que compasso/descompasso são conceitos inofensivos, uma vez que há a reunião/repulsa sonora a todo instante. Fica irreconhecível saber quem toca exatamente o quê, mas há uma fuga-retorno ao elemento de origem (melodia).

Este álbum foi gravado ao vivo num estúdio com os três em 2015. Todo o arsenal é utilizado: gritos, sussurros e respirações prolongadas – são elementos dinâmicos que os três dominam e encontram nessa relação a capacidade de explorar ainda mais essas técnicas (que deixa de ser técnica pra ser o prolongamento de respectivos sistemas nervosos). Apesar de, individualmente, eles se basearem no jazz livre, o que temos aqui é uma música que melhor chamada seria de apenas “espontânea”, pois há uma expansão de encontros possíveis estendidos em toda essa junção.

São duas faixas longas que têm em sua grande duração o trunfo de ser o espaço necessário que permite tantas interações diferentes. O espaço é explorado, revisitado e preenchido – é um movimento contínuo de crescimento redução e das variações que estes polos permitem. A imprevisibilidade se estabelece na origem crua que as movimentações se baseiam e destinam-se entre melodia, dispersão e catarse. Apesar de toda a dificuldade, é realmente uma gravação que se baseia no sentimento pra esbanjar técnica, como qualquer arte deveria ser.

NOTA: 6,0
Lançamento: 8 de março de 2016
Duração: 49 minutos e 06 segundos
Selo: Aerophonic Records
Produção: Dave Rempis
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KEMPER NORTON – “TOLL”
“Toll” é, acima de tudo, uma evocação. Uma evocação sinistra em seu método, vá lá. Mas os dispositivos de Kemper (sintetizadores, delay, reverb na voz) são como uma onisciência em um cemitério – uma evocação de memórias e pesadelos. Ou as memórias são pesadelos.

“Toll” tem um conceito vago de abordar – um antigo acidente ambiental que ocorreu na Inglaterra, mas é difícil não relacioná-lo às tragédias contemporâneas; desde os imigrantes destroçados nas fronteiras europeias, ao colapso financeiro da Argentina.

A melancolia de “Toll”, portanto, transcende o real pra constatar o lado mais perverso e sombrio da humanidade: que é infelizmente a própria razão.

NOTA: 7,0
Lançamento: 4 de julho de 2016
Duração: 46 minutos e 25 segundos
Selo: Front&Follow
Produção: Kemper Norton
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JOHN CHANTLER — “WHICH WAY TO LEAVE”
Pra forjar um vazio, pra criar a ideia de um buraco, Chantler aproveitou sua mudança pra Suécia pra tentar sonorizar o ambiente que o cercava.

“Which Way To Leave” se impõe na unidade intransponível que a parede sonora (de muitos blips!) organiza do início ao fim de cada faixa. É um monólogo evidentemente terapêutico, pois a forma que Chantler preenche o espaço tem mais a ver com involuntariedade do que qualquer racionalismo. Em seu terceiro lançamento pelo selo Room40, Chantler mostra-se um manipulador cada vez mais ambiciono e que recicla suas ideias com formidável sensibilidade.

NOTA: 8,0
Lançamento: 24 de agosto de 2016
Duração: 46 minutos e 24 segundos
Selo: Room40
Produção: John Chantler

OVERTONE ENSEMBLE — “OVERTONE ENSEMBLE”
Possibilidades: Tim Catlin trabalha com estruturas sonoras modificadas, potencializando os escapes. Revertendo métodos de construção (ambiência) em uma estética própria. Mas ele não busca por uma estética, ele evidencia que o próprio processo de desconstruir é um fenômeno que vale por si.

Nós nos concentramos no instante prolongado que é “Overtone Ensemble”. O Overtone Ensemble vem neste processo contínuo desde 2012. A repetição do eco, a fortaleza dos resquícios – é a saturação tensa, criada por repetição e dissonâncias.

Há um tom fundamental, há os vários sobretons que se originam dele. Realmente, possibilidades.

NOTA: 7,0
Lançamento: 5 de agosto de 2016
Duração: 36 minutos e 27 segundos
Selo: Important Records
Produção: Byron Scullin

TRISTAN PERICH — “NOISE PATTERS”
Tristan Perich liberou seu último disco com uma sequência de “arquivos soltos”. Mas é lógico que ele prefere que o ouvinte ouça como uma unidade e de preferência de fones de ouvido.

E aí entra a metalinguagem provavelmente involuntária em seu jogo sonoro (repetição de ruídos com constante alteração de volume e frequência), pois esta disponibilidade “solta” faz questionar como a unidade se forma (e ai sua música é perfeita; fragmentada, brusca, irritante).

“Noise Patterns” foge então do conceito de “unidade produtiva” pra estabelecer uma relação direta com o ouvinte; nós e os fones de ouvido, o botão de ir e avançar nas músicas, o botão de volume. “Noise Patterns” é uma busca constante por uma frequência impossível, é o fenômeno de buscar uma frequência que lhe agrade. “Noise Patterns” é uma extensão das possibilidades da bateria, dos smartphones – com certeza é fruto da ultramodernidade e representação da sua perigosa subjetividade.

NOTA: 7,5
Lançamento: 22 de julho de 2016
Duração: 40 minutos e 53 segundos
Selo: Physical Editions
Produção: Tristan Perich
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