A HISTÓRIA DO HINO OFICIAL DA LIGA DOS CAMPEÕES DA EUROPA

Era 1992 quando a UEFA (Union of European Football Associations, União das Associações Europeias de Futebol) incumbiu a Tony Britten a criação de um tema musical que anunciasse os jogos promovidos pela entidade, mais precisamente o campeonato continental de clubes.

Britten, até aquele momento, era conhecido por ser diretor musical de peças teatrais, como “The Rocky Horror Show” e “Oliver!”, além de jingles publicitários. Foi também professor do The Royal College Of Music, um dos mais importantes conservatórios da Inglaterra.

Mas o hino da Liga Dos Campeões da Europa foi o que fez seu nome ganhar fama mundial. Não é pra menos: essa é a mais conhecida música esportiva da história, mesmo que ela não tenha refrão, não tenha um ritmo considerado moderno, seja cantada em três idiomas (por um coro e não por uma diva pop qualquer) e jamais tenha figurado no topo de qualquer parada de sucessos.

Seu canal de veiculação, anunciando toda e qualquer partida da Liga Dos Campeões em campo e pra todos os países pra onde os jogos são transmitidos, deu a penetração entre o público-alvo que nenhuma música da história teve, excetuando-se, claro, os hinos nacionais ou músicas temáticas (de Natal, por exemplo). E lá se vão mais de vinte anos de execução.

O resultado é que 98% dos europeus pesquisados reconhecem a música e a conectam como parte da Liga dos Campeões.

“Eu tenho que dizer que estou totalmente surpreso o quanto de tempo que essa música durou e o quão popular se tornou. Pra ser honesto, quando eu consegui o trabalho, era só outro trabalho pra mim, como qualquer outro. O processo todo, do começo ao fim levou mais ou menos só um mês”, disse o próprio Britten em uma das muitas entrevistas que deu sobre o tema.

Quem sugeriu o nome de Britten foi seu próprio empresário, Craig Thompson, que era diretor de marketing da TEAM, empresa responsável à época pelo desenvolvimento da marca e promoção do torneio. Vale lembrar que no início da década de 1990, o futebol europeu tinha um rastro de violência deixado pelos hooligans e outros idiotas violentos que ainda sobrevivem, mas que hoje, graças à profissionalização da organização, viraram exceção. Lembra dessa história contada pelo Billy Bragg?

A ideia, pois, era criar uma marca classuda, transformar a Liga Dos Campeões num produto fino, de classe. Por esse motivo, o clichê “We Are The Champions”, do Queen, foi recusado. Thompson queria algo clássico, orquestrado, pomposo e grandioso.

O briefing tinha um adendo: nada de cantor solo, era preciso um coro. E havia uma indicação: Britten deveria trabalhar variando a partir de “Zadoque, o Sacerdote” (“Zadok The Priest”), um dos temas compostos pelo alemão George Frideric Handel pra coroação de George II, em 1727, e que é usado até hoje pras coroações.

A composição acabou sendo creditada a Handel, tal a similaridade, mas a letra, em três idiomas – inglês, francês e alemão, oficiais da UEFA – é de Britten, talvez o ponto mais fraco da obra. É uma bobagem que podia estar no portfólio de algum redator de campanhas e vídeos de incentivo – veja na tradução em português:

Estas são as melhores equipes / Elas são as melhores equipes / O evento principal / Os campeões / Os melhores / As grandes equipes / Os campeões / Uma grande reunião / Um grande jogo / O evento principal / Eles são os melhores / Eles são os melhores / Estes são os campeões / Os mestres / Os melhores / As grandes equipes / Os campeões!

Há, porém, uma explicação pra letra ser tão crua: ela está em três idiomas e precisa encaixar perfeitamente na harmonia. Não é, portanto, um trabalho fácil:

Ce sont les meilleures équipes / Sie sind die allerbesten Mannschaften / The main event / Die Meister’ / Die Besten / Les Grandes Équipes / The Champions / Une grande réunion / Eine große sportliche Veranstaltung / The main event / Ils sont les meilleurs / Sie sind die Besten / These are the champions / Die Meister / Die Besten / Les Grandes Équipes / The Champions

A letra separa uma surpresa que remete ao sucesso citado do Queen. O superlativo final, “The Champions”, se torna o ponto alto, o clímax, com o coro encerrando a ópera com uma palavra conhecida em qualquer língua.

Eis a felicidade da composição: uma música grandiosa, digna de coroação de reis (enaltecendo os campeões da bola), com uma letra clamando vitória, em reverência quase medieval. Não é pra ser cantada ou até mesmo compreendida. É pra ser sentida, aumentando a tensão que tais jogos carregam no torcedor.

A gravação ocorreu em Londres, no Angel Studios, com a Royal Philarmonic Orchestra e o coro da Academy Of St. Martin In The Fields.

A versão oficial tem três minutos. Foi lançada no iTunes com o nome de “Champions League Theme” e tem trocentos remixes, ringtones, versões pra piano e o que mais você pode imaginar.

A primeira vez que ela foi apresentada numa final foi na temporada 1992-1993, em 26 de maio, entre Olympique de Marseille e Milan. O jogo aconteceu em Munique, Alemanha. Placar: 1 a 0. Os franceses levaram nesse ano seu único título da competição. Romário, então no holandês PSV Eindhoven, foi o artilheiro do campeonato, com sete gols.

A crítica, embora não chamada de pronto a julgar a obra, pois nem necessidade havia pra tal, não se empolgou. Houve quem achasse que era um crime com a obra de Handel. Mas Britten deu de ombros: “sei que não é uma peça de arte, não pretendia fazer uma, só queria que servisse pra o que ela foi contratada pra ser”.

A história mostra que serviu muito bem.

Aqui, um vídeo feito pela própria UEFA sobre a música com depoimentos do próprio Britten:

E a versão final da música, completa:

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