A PLACE TO BURY STRANGERS NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – COMO FOI

Quando o U2 monta aquela parafernália toda em cada turnê – palcos giratórios, estruturas gigantescas, telões amplos, fogos, luzes etc. – é pra ampliar o sentido do espetáculo. Só a música aparentemente não bastaria, por mais popular que ela seja. O público precisa de mais, precisa estar presente em algo grandioso. O entretenimento necessita agregar valor pra atrair gente o suficiente pra encher as enormes arenas onde se faz palco os maiores espetáculos.

O A Place To Bury Strangers segue o caminho inverso. Não é uma questão de valorar o que é melhor ou pior, mas nos “extremos” imaginários entre “arte” e “entretenimento” (sim, é bem possível ambos coexistirem) o trio estadunidense está mais próximo da “arte”, embora o que apresente seja puro entretenimento pros tímpanos treinados.

Não há artifícios pra ampliar o valor do que apresenta. Pelo contrário: nem a banda quer aparecer. Com as luzes fortes e coloridas, a fumaça intensa e boa dose de escuridão, o trio se mostra em sombras e silhuetas e o que sobra ao público é basicamente mergulhar no mar de ruídos, microfonias, barulhos e gritos. É a música que importa.

A banda trabalha ao contrário da mágica dos grandes espetáculos. Ilusionistas costumam dizer que pro truque dar certo, basta tirar os olhos da plateia onde a mágica está acontecendo, oferecendo outro foco de atenção – seja uma piada, seja o cenário, seja uma dança, qualquer coisa. É um tanto o que shows como o do U2 fazem – a mágica, a música, já é conhecida e talvez não tivesse força comercial por si (um ponto discutível, dirão os fãs), precisando de ilusionismo atraente pra agradar. A plateia sabe que são firulas, mas aprova e até pede por isso.

No caso do A Place To Bury Strangers, não há ilusionismo. É tudo cru, direto e forte o suficiente pra não precisar de mais nada, nem mesmo de banda. Nem mesmo de música – uma angustiante e longa sessão de improvisos num canto do palco, com uma drum machine e dois baixos, emulou uma festa gótica intimista, sem nexo, sem motivo a não ser dançar e se divertir.

Curiosamente, a banda tocou duas vezes no mesmo palco nesse dia 9 de maio de 2019. Um dia antes, o trio até tentou se apresentar, mas tocou apenas um minuto, por conta de uma falha de energia elétrica do Centro Cultural São Paulo. O show foi adiado pro dia seguinte, executando o terceiro disco, “Worship”, na ordem e na íntegra. Essa foi a primeira sessão. Na segunda, o show cujo setlist está abaixo. Os três poderiam estar cansados e esmorecer a fúria na segunda sessão.

Não foi o que aconteceu. Oliver Ackermann e, principalmente, o baixista Dion Lunadon, na linha de frente, fizeram o diabo com seus instrumentos. O baixo, coitado, foi ao chão, voou, tomou porrada, e no fim, após duas das mais conhecidas canções, “Keep Slipping Away” e “I Lived My Life To Stand In The Shadow Of Your Heart”, guitarra e baixo aumentaram tanto o volume, em “Ocean”, que os protetores auriculares que a banda vendia na barraquinha de merchan seria item obrigatório.

Acontece que até chegar lá, durante pouco mais de uma hora (em cada sessão), o público aceitaria qualquer nível de ruído porque a mágica era justamente essa – até baixos voando, pulos agressivos de Lunadon e lanternas nas mãos de Ackermann seria dispensáveis. Não há ilusão ou ilusionismo num show como esse. A música e as distorções falam por si.

01. Ego Death
02. We’ve Come So Far
03. So Far Away
04. Deadbeat
05. Drill It Up
06. There’s Only One Of Us
07. Exploding Head
08. Fill The Void
(momento improviso)
09. Never Coming Back
10. Keep Slipping Away
11. I Lived My Life To Stand In The Shadow Of Your Heart
12. Ocean

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