BATALHA PERDIDA

Tem um malucão aí, o deputado Geraldi Tenuta Filho, do Democratas de São Paulo, “bispo” da bancada evangélica, que resolveu meter o bedelho no lance dos downloads e direitos autorais. Ele apresentou um projeto que pretende punir que faz downloads ilegais, o que é que isso queira dizer.

O lance do deputado é o seguinte: os provedores de acesso são obrigados a identificar os “infratores” e notificá-lo por e-mail; na reincidência, outro e-mail, só que agora avisando que o cidadão estaria cometendo um crime; na próxima vez, o acesso é suspenso por seis meses; até que na sexta vez, o “criminoso” teria o serviço cancelado. Durante o período de suspensão, o usuário deveria ainda continuar pagando a fatura do provedor. Maravilha.

De acordo com a Folha de S.Paulo, “O projeto de lei é inspirado em uma decisão da Assembleia Nacional da França com os mesmos objetivos, que aconteceu em maio passado. No entanto, menos de um mês depois, a medida foi suspensa pela corte francesa — justificando que ela violava, entre outros, o direito do livre discurso”.

A mesma visão tem José Vaz, Coordenador da Diretoria de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura. Ele é uma parte do Governo, bem entendido. É um projeto que “parte de uma perspectiva meramente repressiva, que fere os direitos individuais e a neutralidade da tecnologia”. Ele resume bem o lance: “Vemos que a sociedade encara o direito autoral de uma maneira que vai totalmente na contramão dessa ideia. É só observar a eleição do partido pirata [Pirate Party] para o Parlamento Europeu e o número de pessoas que admitem fazer download ilegal”.

Ou seja, é dar murro em ponta de faca. Pra quê? O deputado-bispo que aparecer?

Ainda segundo o jornal, “Para José Vaz, as discussões devem se focar na mudança das práticas sociais, no modelo de negócios e na maneira como as gravadoras encaram a internet. ‘Não podemos negar que existe um problema em relação ao direito autoral. No entanto, é nítido também que a indústria musical está pagando o preço pela sua inércia’, completa”. Exatamente, muito bem resumido.

Ninguém nega que os músicos mereçam e devam ser remunerados pela sua criação, pela sua arte. Mas como fazê-lo? O que se vê é que dói mais no bolso das gravadoras, porque os músicos (pelo menos os mais antenados, os que compreenderam essa nova era) estão buscando alternativas para se livrar delas e viver de shows. Afinal, quanto mais a música é divulgada, mesmo que gratuitamente pela Internet, mais gente deverá querer ir aos seus shows e mais ele vai ganhar. Isso apenas numa ponta do negócio.

O erro é encarar a Internet com vilã e não como ferramente de divulgação e potencialização de negócios. As gravadoras são cegas, porque elas sempre foram cegas e pouco tinham que pensar antes. Bastava pegar um artista qualquer, pagar para tocar nas rádios e em novelas e pimba, tinham um sucesso. Agora, é preciso trabalhar de fato, buscar alternativas, ser criativo, entender o consumidor… E isso tudo dá um trabalhão danado…

A solução é punir. Posar de moralista e punir. Vamos nadar contra a maré e meter o dedo na cara de quem é “criminoso” porque busca as músicas que gosta na Internet. Fácil dessa maneira.

Mas não tá dando muito certo. Alguns muitos pelo mundo afora já foram punidos, dançaram grandão. Mas a maioria deles é porque eram espertões também, querendo ganhar dinheiro revendendo a criação dos outros. É o caso dos camelôs que vendem discos piratas. Aí, é sacanagem. Por trás desses camelôs, há os piratas profissas mesmo.

Agora… Punir um moleque porque quer baixar um disco qualquer pra ouvir no seu iPod? É demais. É burrice até! É assustar um potencial consumidor.

Se dá melhor quem viu a coisa antes, com bons olhos.

Quando o Radiohead lançou o “In Rainbows” naquele esquema pague-quanto-achar-que-vale, deu um nó na cabeça de muita gente. E ninguém duvida que eles ganharam uma bela grana em cima disso. Nada indica que eles se arrependenram.

Agora, até o Estado de São Paulo, um dos maiores jornais do país, aderiu a esse método. Na propaganda que rola na TV, oferecem um mês de assinatura pelo preço que o assinante quiser pagar. Instiga o consumidor a mostrar quanto vale o conhecimento – e não a informação, que essa…. bom, essa é de graça na Internet, no rádio, na tevê…

Primeiro filme, o teaser:

Segundo filme, a venda:

Quem luta contra, tá perdendo tempo, vamos admitir. A música é de graça, tá aí. Quanto mais cedo a indústria da música chegar a essa conclusão, mais cedo poderá achar uma solução para voltar a ganhar dinheiro. Ou para procurar um outro emprego.

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