BLACK METAL E O MUNDO INVERTIDO PT. 1: SANGUE NERO – VISCERE

A espécie de guerra em prol do vazio é estabelecida no black metal através de diversas evocações disponíveis, que alimentam investidas contra métodos contemporâneos. Assim, Sangue Nero, em “Viscere” (de 2017), retoma uma tradição antiga não como simples espiritualismo, mas com a agressividade de cânticos antigos unida a ofensivos bleast beats e guitarras com excessivas repetições temáticas.

O “vazio” não é um encontro consigo, ou algum enigma decifrado por práticas ritualísticas – o vazio é o processo de declínio vertical rumo à obscuridade. A negação não parte de uma simples diferenciação de música agressiva ou “anti” música ou alguma nomeação maluca. Nos gritos de “Viscere”, a penetração no simbólico é a declaração de guerra – que anuncia elementos fálicos na caminhada terrena. Mas não há revelação após esses signos serem destroçados: o que resta no “outro lado” é um local inadmissível pra quem vive regido sob o satanismo da luz.

Eu não posso assumir essas coisas através das simples audição de “Viscere”, mas – no entanto – eu posso tomar todo ódio impregnado no disco, em conjunto com a parte mais “tradicional” da música, e identificar uma necessidade de atravessamento no mundo instituído. O que parece ainda mais brutal com as consecutivas visitas ao disco: se não há nada depois “daqui”, por que ser abortado deste terreno?

Eu chego em local nenhum após o atravessamento, mas as pegadas do mundo transmitem-me a sensação de um mundo caprichosamente invertido.

Dizer, então, que se trata de uma guerra contra o simbólico valida a seguinte questão: mas quem é, precisamente, o inimigo? O mundo tal como é apresentando? As formas que os olhos divisam? Mas tais investimentos em radicalismos sonoros impelem num movimento que alça o ódio a um elemento primordial – ainda que nocivo – de restabelecer significativamente, também, o contato com o mundo.

Escrever isso torna a coisa mais pomposa do que deveria soar, do quão crua e simples essa batalha na verdade é. Ela é, realmente, cada urro defasado que ecoa em ” Viscere”, cada cântico antigo que tenta retomar a ideia de um outro mundo.

1. I
2. II
3. III
4. IV
5. V

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