BLACK SABBATH EM PORTO ALEGRE – COMO FOI

E finalmente a nova turnê do Black Sabbath chega ao Brasil. A turnê de reunião da banda (objetivamente chamada de “The Reunion Tour”), promovendo não só o mais recente disco, “13”, de 2013, como a volta de uma instituição musical, é um dos grandes acontecimentos da esfera pop (sim, pop) nos últimos anos. Não é, pois, de se estranhar que milhares de brasileiros, em Porto Alegre, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte se estapeassem por ingressos rapidamente esgotados. Era preciso participar disso.

A banda que colocou o pé na estrada é Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo), os três com 65 anos, e Tommy Clufetos (substituindo Bill Ward na bateria, um Bill Ward que também gostaria de estar por aqui, segundo entrevista ao Passagem de Som). Os fãs adoraram, pularam, transformaram uma brincadeira de caras bizarros em algo tão espetacular quanto um show de qualquer diva pop, motivo de culto pelo histórico e pelos serviços prestados à música, como conta abaixo a repórter Janaína Azevedo Lopes: “era uma brincadeira há quarenta anos. Hoje é um estilo musical sedimentado e um motivo de culto. Em cima do palco, o Black Sabbath honrou seu lugar na linha do tempo do rock”.

Não dá pra perder a chance de ver uma banda dessas ao vivo, participar desse momento. É um teatro, as pessoas sabem, mas o peso não só histórico ainda está ali no palco. Sabe-se lá quando a oportunidade vai pintar de novo. Com o culto não se brinca.

QUATRO CARAS BIZARROS, MOTIVO DE CULTO
por Janaína Azevedo Lopes
Fotos: Bruno Alencastro/Agência RBS e Fábio Codevilla

Não era nem meio-dia e já surgiam relatos de uma movimentação incomum no centro de Porto Alegre: muitas pessoas de camisetas pretas se dirigindo juntas ao mesmo lugar. Era o estacionamento da Fiergs, onde o Black Sabbath estreou a turnê “The Reunion Tour” no Brasil, no dia 9 de outubro de 2013.

O anúncio do show foi recebido com glórias, e os ingressos de pista comum e vip já estavam esgotados desde meados de agosto. Pra banda, era só subir no palco e tocar.
E isso aconteceu uns quinze minutos antes do esperado. O horário marcado era 22:00h, mas bem antes disso, pegando todo mundo de surpresa, o som mecânico cessou, a voz de Ozzy surgiu num grito de “ôôô ôô ôôô”, praticamente como se estivesse tocando uma torcida organizada. Enquanto trinta mil pessoas se perguntavam se aquele era mesmo o vocalista, as sirenes de “War Pigs” começaram a soar, e os lendários senhores de Aston operaram seu primeiro milagre em terras gaúchas: pontualidade em um show.

Então Ozzy, Iommi, Geezer e Clufetos estavam no palco, amontoando os hits da dita maior, melhor, primeira, fundamental banda de metal da história, em um setlist que seria idêntico ao executado em toda a turnê, não fosse a ausência de “Zeitgeist” fechando o show. Mas isso não importava, o público estava por ver o que viesse, e urrou com cada movimento no palco. Nada mais justo: o Black Sabbath não está lá pra um show menos do que magnífico. Nota por nota, saem exatamente como nos discos, Tony Iommi é a figura imponente e magnânima, Ozzy é o doido varrido, Geezer assombra no seu canto e Clufetos reproduz com exatidão – quase – todos os movimentos de Bill Ward.

Os problemas na voz de Ozzy são notáveis, e em “Black Sabbath”, justo “Black Sabbath”, foi bem clara a sua dificuldade em acompanhar o ritmo tortuoso da música (Ozzy cantou um pouquinho mais rápido do que a banda tocava). E Clufetos também deu seu escorregão durante “Black Sabbath”, acrescentando umas viradas fru-fru em seu bumbo duplo na música mais sorumbática da banda. O solo de bateria não mereceria nem comentário, mas o público, bem, o público pareceu adorar.

Outros probleminhas desse tipo vieram com as músicas a seguir, mas ok, vá lá: considerando se tratar de um sexagenário e um rapaz que está no lugar de um ícone, dá pra relevar.

Os fãs de Porto Alegre relevaram e cantaram rife por rife, tal qual dito antes, como uma torcida organizada, pelas duas horas de show. O público parecia não dominar a parte mais recente do setlist (“Age Of Reason”, “End Of The Begining” e “God Is Dead”, do disco “13”, lançado este ano), mas vibrou tanto quanto na hora de “Children Of The Grave”, “Into The Void” ou “N.I.B.”. Segundo milagre operado pelo Black Sabbath naquela noite: fazer os tradicionalmente apáticos frequentadores de shows portoalegrenses (em sua maioria) cantar, pular e bater cabeça do início ao fim.

A despeito de intenções caça-níqueis, não há como negar que a turnê é um grande acontecimento. A primeira e provavelmente única oportunidade pra nossa geração testemunhar o resultado da união de quatro caras bizarros, que não teriam muitas chances na sociedade, não fosse a dedicação à música. Era uma brincadeira há quarenta anos. Hoje é um estilo musical sedimentado e um motivo de culto. Em cima do palco, o Black Sabbath honrou seu lugar na linha do tempo do rock.

Outras considerações: com um show deste porte e um jogo do Grêmio marcados pro mesmo dia, a cidade quase parou. Eu levei uma hora pra fazer um trajeto de vinte minutos, com a Freeway lotada. Vi cambistas ali mesmo, em plena estrada parada, tentando vender seus ingressos. Conheço gente que saiu tarde do trabalho, e simplesmente desistiu de tentar chegar na Fiergs pro show, por conta do engarrafamento monstro.

A saída também foi caótica: só havia um portão para encaminhar o fluxo de trinta mil pessoas. Muitos sofreram no empurra-empurra, e uma vez fora do estacionamento, penaram pra conseguir transporte (ônibus e táxis eram escassos). Quem foi de carro se meteu numa fila gigantesca ao sair do estacionamento).

Pelo atraso na chegada, perdi o show da Híbria. Consegui pegar todo o Megadeth, mas sinceramente, não tenho muito o que comentar. A banda nunca me apeteceu, e não foi dessa vez que conseguiram me fazer mudar de ideia.

Ouvi muita reclamação sobre o som baixo na apresentação em São Paulo, realizada no dia 11 de outubro, dois dias depois. No caso de Porto Alegre, felizmente isso não foi problema: o som estava em ótimo volume, totalmente audível em vários pontos da pista comum.

Veja “War Pigs”:

01. War Pigs
02. Into The Void
03. Under The Sun
04. Snowblind
05. Age Of Reason
06. Black Sabbath
07. Behind The Wall Of Sleep
08. N.I.B.
09. End Of The Beginning
10. Fairies Wear Boots
11. Rat Salad
12. Iron Man
13. God Is Dead?
14. Dirty Women
15. Children Of The Grave

BIS
16. Paranoid

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