CHINESE COOKIE POETS NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – COMO FOI

Não se trata de ser bom ou ruim. Não se trata de você gostar da música ou não. Aqui, se trata de saber se o cérebro tem os mecanismos certos, as ferramentas certas, pra compreender o que está recebendo.

O Chinese Cookie Poets não parece que faz música. Na primeira sinapse, o cérebro recebe sons estranhos, ruídos desconexos, provocadores, nada muito usual. Se ele não está preparado pra isso, vai se incomodar e pode até repelir a intrusão. E mesmo se ele esteja acostumado a isso, precisará se reprogramar pra absorver aquelas informações e só então decidir se está disposto a gostar ou não.

Não dá pra enganar o cérebro, infelizmente (quer dizer, psicotrópicos existem pra isso), mas dá pra você educá-lo, amaciá-lo e, mais uma vez, reprogramá-lo. A melhor ferramenta hoje em dia pra isso é o Chinese Cookie Poets.

O trio carioca é o que há de mais sensacional em termos de experimentação musical no Brasil atualmente. E ao vivo a porrada é maior. De derreter o cérebro. De encantar a alma preparada.

Mas não é fácil. A abertura, com “Chinatown Blues” (veja o setlist no final), parece ser uma tentativa da banda de facilitar as coisas. Seu free metal jazz (ou como queira chamar) rola cartesianamente compreensível, embora não doce, ou leve, ou suave. É barulhento, é porrada, e enérgico. Vem uma improvisação limpa, com a bateria de Renato Godoy descompassada, um quase não-baixo de Felipe Zenicola e a guitarra de Marcos Campello estridente.



“Plastic Love” e “Bone Catcher” são as mais conhecidas, embora isso não queira dizer muita coisa, nessa altura do campeonato. Se o cérebro não derreteu ou se já se acomodou àqueles sons livres, o que vier é absorvido da mesma maneira, tudo é tão visceral que o sentimento está em todas as partes: o cérebro passou a responsabilidade pro coração, peito, pernas, estômago, fígado, intestino. É bílico esse som.

O cenário ainda amplia a sensação. A biblioteca do Centro Cultural São Paulo, às escuras, parece obra de um diretor de arte expressionista alemão.

O resultado é uma satisfação hipnótica. A banda até tenta quebrar o gelo com umas brincadeiras e uma ou outra palavra ao microfone, mas seu corpo está em processo de compreensão de algo pouco comum. Ele precisa de um tempo pra digerir tudo.

É uma reprogramação. Ver o Chinese Cookie Poets ao vivo é como aquele ditado que diz que “viajar é trocar a roupa da alma”: aqui é como viajar na viagem dos cariocas e se dispor a trocar a sua própria alma musical.

Olha, faz um bem danado de vez em quando. Reeduca o cérebro. Estimula. Emociona. Lava a alma.




01. Chinatown Blues
02. Free (limpo – improvisação)
03. Somalia
04. Plastic Love
05. Bone Catcher
06. Worm Love
07. Free (radial – improvisação)
08. Surf
09. Dissident Lounge
10. Free The Monkey

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