COSMOPOPLITAN #4 – DIFICULDADES E ARTICULAÇÃO

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Outros textos analisando a tal cena independente (ou a situação do rock no Brasil) foram publicados nos blogues por aí afora ultimamente; um deles no batalhador Nada Pop (clique aqui pra ler).

O presumido Forastieri também escreveu um textículo (clique aqui pra ler). O grande Steve Albini mais uma vez andou falando umas verdades inspiradoras por aí – numa conferência na Austrália (clique aqui) e numa palestra no Primavera, festival em Barcelona, (clique aqui). E alguns posts no caralivro também atraíram minha atenção (principalmente no grupo da Sinewave (veja aqui), onde as discussões costumam prosseguir com altos e baixos.

Bem, eu fiquei de escrever esta coluna aqui analisando tudo isso, mas quer saber? Agora não.

O Junior vem batalhando em Curitiba com o 92 Graus desde 1991. Trata-se de um espaço independente que abriga shows de bandas de vários gêneros musicais, com aproximadamente quatrocentas bandas se apresentando a cada ano.

Dentre as milhares de bandas legais que já tocaram no 92 Graus, temos Fugazi, Pin-ups, Man Or Astroman?, Ratos De Porão, Agnostic Front, Second Come, Sick Of It All, Cólera, Tsol, Replicantes, Agent Orange, Raimundos, CJ Ramone, Killing Chainsaw, GBH, Mickey Junkies, The Lukers, Acústicos & Valvulados, Vibrators, Tod’s, Toy Dolls, Safari Hamburguers, Rezillos, Winter, Varukers, ruído/mm, Beach Fossils etc.

Eu já tive a oportunidade de tocar ali pelo menos duas vezes, com A Espiral De Bukowski e com Magic Crayon.

Nesses vinte e quatro anos de atividade o 92 Graus já teve de mudar de endereço sete vezes, pois nunca teve sede própria. Agora está pra acabar o contrato de aluguel e o proprietário está pedindo de volta o imóvel onde o 92 Graus funciona desde 2011.

Junior já deixou claro que não tem mais saúde pra procurar outro imóvel, mudar tudo de novo e reformular a empresa em outra sede alugada. Por isso decidiu tentar uma campanha de crowdfunding pra integralizar o valor pra aquisição da sonhada sede própria.

Enfim, mais um espaço independente brasileiro pode fechar as portas e deixar de existir por conta de dificuldades materiais. Você pode contribuir para que isso não aconteça, pra que o 92 Graus continue sendo esse abrigo único pro rock independente em Curitiba, clicando aqui.

Está se formando em São Paulo um grupo que propõe uma conversa aberta sobre questões da música experimental na cidade. Surgiu como uma articulação de diversos coletivos e artistas ligados à música experimental, com o intuito de se levantar e discutir pautas em comum. O primeiro encontro ocorreu no dia 16 de maio de 2015 e dentre as coisas discutidas ali, foi decidido que:

– Seria feita uma lista pública de discussão na Internet sobre o assunto (veja aqui);
– Seriam organizados encontros com alguma regularidade;
– Seria feito um dossiê da música experimental em São Paulo em 2014.

Eu fui convidado pelo pessoal do Ibrasotope (abrigo natural pra música experimental em São Paulo), por conta de minha atividade com A Espiral De Bukowski, e ainda não saquei bem que tipo de agenda pode vir por aí (por exemplo, que tipo de dossiê será esse e qual finalidade terá), mas espero que possa sair algo de bom e vou tentar participar.

Inclusive dia 1º de junho houve no CCSP uma reunião aberta, convocada pela Secretaria Municipal de Cultura, com os músicos que atuam em São Paulo, pra discussão de pautas pertinentes. Vários músicos desse grupo da música experimental compareceram. Eu também estava lá e apesar da minha impaciência com o (repetitivo e vagaroso) andamento e a (escassa) produtividade, achei positivo o fato do secretário se dispor a conversar com os músicos da cidade.

O encontro seguinte do grupo da música experimental em São Paulo – aberto a todo e qualquer interessado no assunto – foi sábado agora, dia 6 de junho, no Ibrasotope.

O grande Lê Almeida acabou de voltar de Goiânia (onde tocou no festival Bananada) e continua em turnê com outros cinco shows no sul e mais três no nordeste. Depois vou perguntar ao Lê como foi a turnê e conto pra vocês!

Ufa, sim, a coluna hoje está bem diferente das três anteriores, não é mesmo?

A ideia foi passear além do terreno teórico e partir também pra prática.

Vou continuar escrevendo sobre meus conceitos de independência e o que mais me apetecer, mas a partir de agora vou tentar dar mais nomes aos bois no que se refere também a coisas positivas e/ou proativas.

E já que logo no começo desta coluna eu já falei de três eventos que vão acontecer logo mais em São Paulo, vou então passar aqui uma agenda da tal cena independente que eu acho possível mudar pra melhor, isto é, os shows a que o cosmoPOPlitan aqui vai ou gostaria muito de ir:

+ 11 de junho
– “BEACH Combers + BOOM Project @casadomancha”: show às 21:00h, R$ 20,00 (clique aqui)

+ 13 de junho
– “[Silver Tape] HUNO + Animal Cracker no estudiofitacrepeSP”: 16:00h, R$ 20,00 sugeridos (clique aqui)

+ 18 de junho
– “Loomer e llOVNi no Zapata”: 22h, R$ 15,00 (clique aqui)

+ 19 de junho
– “MILIONÁRIO e JONATHAN GALL (set solo) na Associação Cecília”: 20:00h, R$ 10,00 (clique aqui)

+ 20 de junho
– “Dia da Música @SP – Palco Razzmatazz”: a partir das 15:00h, grátis – shows de: Mahmed, Justine Never Knew The Rules, The Soundscapes, Loomer, Terno Rei, Kid Foguete, Wry (clique aqui)

+ 21 de junho
– “Dia da Música @ SP – Palco Passagem Literária da Consolação”: a partir das 11:50h, grátis – shows de: ACAVERNUS, Vermes Do Limbo, Thiago Miazzo, Diversões Eletrônicas (clique aqui)

Nos dias 20 e 21, São Paulo ainda conta com três eventos de grande porte (ou seja, não muito a praia da cosmoPOPlitan):
– Virada Cultural do município de São Paulo;
– Festival Cultura Inglesa;
– Dia da Música.

Os eventos listados acima são aqueles que mais dizem respeito ao etos e ao gosto da cosmoPOPlitan aqui. Obviamente a cidade de São Paulo tem muito mais a oferecer do que os eventos listados acima e, claro, outros eventos cabíveis na lista podem ser criados após a publicação desta coluna pro período acima (além de possíveis alterações nos eventos listados), então mesmo com o meu esforço em te informar, saiba, é preciso ficar ligado.

Pra além da cidade de São Paulo, putz, temos uma quase infinidade de eventos independentes legais, espalhados por todo canto deste planetinha.

Aqui alguns exemplos de gente que faz, de gente que produz e mantém uma postura compatível com o DIY ou a independência fora do mainstream:
2nd Annual Indie 500 – to celebrate 11 years of Trunk Space!
AQUASERGE + Crayola Lectern + Marcus Hamblett + Wax Machine + DJ innerstrings (Synthesize Me)
Lexington London
Etcs Recs
Audio Rebel
Esses exemplos aqui estão todos na ativa. Tem muitos outros…

Se pensarmos em termos mais políticos, ou puristas, eu diria que será muito difícil apontar exemplos bem-sucedidos (em termos de $$ e de longevidade) de cenas autossustentáveis, do jeito que eu consideraria ideais. Mas se pensarmos em termos mais relativos, de modo mais pragmático, nesse caso tem um monte de exemplos lindos, sim.

Essa questão de descobrir-se público, dos agentes da tal cena independente (artistas, donos de selos, casas, blogues, estúdios etc.) se perceberem e se assumirem público, é mesmo espinhosa, pois mexe com o ego das pessoas e porque o mainstream é violentamente avesso a esse princípio (com motivação obviamente ligada ao lucro financeiro), mas temos muitos exemplos “ilustres” de músicos, empreendedores e agentes do mercado musical que “descobriram”, incentivaram e apoiaram talentos alheios, inclusive na faixa, e claro, nas cenas independentes existem inúmeros exemplos no dia-a-dia (no EC Walden eu pude presenciar vários), mas o que falta é o orgulho de reconhecer e divulgar isso como algo pertinente e relevante, algo a ser incentivado.

Basicamente, eu divido os empreendedores culturais (sejam músicos, donos de espaços etc.) em dois perfis:
1. Aqueles que buscam retorno financeiro e reconhecimento antes de tudo;
2. Aqueles que buscam continuar a produzir (no caso do músico, de acordo com a proposta/estética própria, compor, gravar, fazer show; no caso de dono de espaço, sediar eventos relevantes de acordo com a proposta do espaço).

A questão é definir qual seria um retorno financeiro aceitável.

O que vejo na prática é quase todo mundo tendo como alvo “ficar rico e famoso” e na prática acertando em “trabalhar de graça (quando se faz aquilo em que se acredita) ou encarnar uma síndrome de eterna entrevista de emprego”…

Se você não está familiarizado com os termos que eu uso aqui na coluna para descrever as coisas de que falo a respeito e pra apresentar minhas impressões e ideias, uma boa pedida é conferir os eventos listados acima e também ler as outras três edições da cosmoPOPlitan que eu já escrevi aqui pro Floga-se.

Até a próxima, onde provavelmente vou analisar os textos e posts que eu citei lá no início da coluna de hoje, beleza?
ciao!

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