CROCODILES E THE SOUNDSCAPES NA SERRALHERIA – COMO FOI

Em 11 de agosto de 2015, dia do primeiro show do Crocodiles em São Paulo, o dólar estava cotado a R$ 3,49. Levando-se em conta a fantasia de que o mercado realmente utiliza-se dessa cotação, a matemática nos indica que o valor do ingresso do último lote pro show (com preço de R$ 30,00), custou 8,59 dólares.

Menos de dez dólares pra ver uma banda que deu uma bem-vinda reprocessada no estilo do Jesus & Mary Chain de fazer barulho, colocando uma dose de bubblegum, Ramones e sessentismo na mistura e recalculou um novo sentido de diversão.

Pra se ter uma ideia do que esse valor representa, o estacionamento ao lado do show custava R$ 20,00.

O Crocodiles é Brandon Welchez, vocalista e guitarrista, e Charles Rowell, guitarrista e contorcionista. Ao vivo, tem Robert Moutrey na bateria e David Claxton no baixo. São quatro pessoas, que tocaram, se divertiram e nos divertiram por cerca de uma hora. O ingresso, pois, custou 2,14 dólares por integrante e 0,03 dólares por minuto de apresentação. Uma pechincha.

Ainda: foram treze músicas, sendo duas do primeiro disco, “Summer Of Hate” (2009); duas do segundo, “Sleep Forever” (2010); três do quarto, “Crimes Of Passion” (2013); cinco do mais recente, “Boys” (2015); e uma cover matadora de “Jet Boy, Jet Girl”, eternizada pelo Damned. Cada música nos custou 0,66 dólares.

Se contarmos ainda a divertida e barulhenta apresentação de abertura, com os melódicos-em-disco-mas-ensurdecedores-no-palco The Soundscapes, tocando sete canções (e uma introdução instrumental viajante), a conta fica ainda mais interessante – ao vivo, “She’s Gone” e “Lion’s Dream” foram vibrantes.

Veja “Bright Young Hope”:

Pena que apenas cento e quarenta ingressos foram colocados à venda. Tudo foi vendido – e seriam vendidos mais, certamente, caso o evento fosse num lugar maior (a plateia do Serralheria comporta apenas cento e sessenta pessoas).

O que nos faz perguntar qual a mágica desenvolvida pela Balaclava, produtora/selo responsável pelo show, pra cobrar tão pouco por uma noite tão completa – a Balaclava, vale lembrar, não é mais nenhuma iniciante, ela já trouxe Mac DeMarco e Sebadoh, por exemplo, sempre a preços curtos, plateias cheias, e benefício da satisfação que vale o custo.

Alguma matemática o pessoal da concorrência precisa aprender – ou explicar – pra deixar de vender ingressos a R$ 150,00 ou R$ 180,00, alguns por show de bandas apenas um tiquinho maiores.

Há bandas e bandas, é claro, e quanto mais popular ela for, mais caro ela cobrará por suas apresentações e mais caro o ingresso será. Não há como escapar disso. Mas o Crocodiles, apesar da sólida carreira, e do barulho que faz pelos inferninhos que toca mundo afora, não deve nada em diversão pra quem procura e paga… por diversão.

Além do mais, não é uma banda tão inacessível assim. É palatável. Músicas como “Marquis De Sade”, “Kool TV”, “Peroxide Hearts” e, principalmente, “Fooling Around”, são assobiáveis e nossas mães, na época de adolescentes, adorariam. Anima qualquer festa.

Paralelamente, a entrega que Charles Rowell oferece em cima do palco, contorcendo sua guitarra numa dança contagiante, contrapõe com os ruídos que seus pedais soltam. É um show a parte. É visível como os quatro fazem valer cada um dos seus 859 centavos de dólar gastos pra vê-los ao vivo.

No calor insuportável do inverno da Serralheria (imagine no verão!), os quatro saíram ensopados do palco. A plateia idem. Mas não só pela alta temperatura meteorológica, e sim pela entrega, pelo tesão de tocar e se divertir. Quanto eles devem cobrar por isso? Como precificar um espetáculo desses?

Não há conta negativa pra uma noite de boa música. A barulheira de “Cockroach”, a pauleira urgente de “Refuse Angels” e “I Wanna Kill”, ambas da fase mais suja da banda, e o empolgante epílogo com a cover de “Jet Boy, Jet Girl”, toda essa energia faz você imaginar que o ingresso poderia ser ainda mais caro que pouco importaria. A relação custo-benefício já estava a favor do público.

Foram os trinta reais mais baratos e bem gastos dos últimos tempos.

Setelist The Soundscapes

01. (instrumental)
02. Bright Young Hope
03. Tides Of Time
04. Back Of Life
05. Shooting Stars
06. You Are Love
07. She’s Gone
08. Lion’s Dream

Setlist Crocodiles

01. Mirrors
02. Foolin’ Around
03. Marquis De Sade
04. Billy Speed
05. Kool TV
06. Cockroach
07. Crybaby Demon
08. Peroxide Hearts
09. Refuse Angels
10. Me And My Machine Gun
11. Do The Void
12. I Wanna Kill

BIS
13. Jet Boy, Jet Girl (Elton Motello cover)

Veja o show do Crocodiles na íntegra:

Fotos: André Yamagami

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