DORGAS NA CASA DO MANCHA – COMO FOI

Uma camisa do Botafogo e um microfone aberto às molecagens. O Dorgas não se resume a isso, embora pareça fazer um esforço enorme e inocente pra tal.

Assim que começam tocar, os quatro se transformam. Deixam de ser aqueles guris de 18, 20 anos, cujo tempo de vida todo mundo insiste em sublinhar, como se fosse um espanto fazer música de qualidade nessa idade, pra exibir algumas das canções mais inventivas hoje no alternativo nacional.

Gabriel Guerra e seu vocal gutural, com seus espamos divertidos na guitarra, comandam as atenções, enquanto os ouvidos tendem a se curvar à bateria exuberante em elegância de Lucas Freire e à inventividade de Eduardo Verdeja, com sua guitarra insinuante. Cassius Augusto se desdobra entre vocal, teclado e o baixo forte, que pinta as canções com tintas interessantes do gótico oitentista.

Eis que os quarenta e poucos minutos com eles na acanhada Casa do Mancha, em São Paulo, numa noite gelada de sábado, são suficientes pra valer o dia. O Dorgas realiza um show intuitivo, que se faz sentir na plateia (acanhada do diminuto local): o talento parece brotar em cada gesto de quem tá aprendendo o ofício na marra.

A fusão de jazz com experimentalismo e uma pitada (dispensável) de MPB não é sequer proposital. A audiência pode até se confundir: como pode aqueles guris falarem tanta besteira ao microfone, em brincadeiras infantis, e, à primeira nota, se transformarem nessa banda contundente?

A resposta está em shows como esse. O Dorgas faz um tipo de música que, acredite, é mais contestadora que duzentos rappers bradando incorformismo, ou trocentos universitários clamando por liberdade de expressão numa passeata festiva, porque é uma música diferente do que se anda fazendo pelo Brasil.


“Campus Elysium” abriu o show…

Aqui, “música jovem” é sinônimo de guitarras xerocadas do Strokes, pose de mau menino com tatuagens diversas, revivalismo atroz pra animar festas de uma classe média conservadora, ou regionalismos baratos de uma xenofobia mórbida que os Jenecis da vida andam surrupiando. O Dorgas, é bom repetir, não deve nem compor pensando nisso – seria um tanto falso ou até mesmo vil se o fizesse – mas entrega um pacote certeiro que o diferencia de todo o resto.

As trinta ou quarenta pessoas que estiveram na Casa do Mancha nesse sábado, dia 4 de junho, ainda tiveram o prazer de ouvir algumas composições não lançadas da banda (que é bom lembrar, tem apenas um single e um EP): “Fez-se Cristo” e “Grangongon”, o próximo single, apareceram.

Das mais conhecidas, “Salisme” é exigência do público já fiel, e “Loxhanxha”, com participação especial de Márcio Barcha, baterista do Inverness, no teclado, um epílogo de respeito.

Quarenta minutos depois de um show praticamente intimista, saímos satiasfeitos: foi perfeito pra uma noite fria de sábado e ideal pra mostrar que há alternativa na música alternativa brasileira.

1. Campus Elysium
2. Fez-se Cristo
3. Vaanderglock
4. Dito Antes
5. Grangongon
6. Salisme
7. Loxhanxha

Veja “Fez-se Cristo”:

“Dito Antes”:

“Grangongon”:

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