ECHO & THE BUNNYMEN NO HSBC BRASIL – COMO FOI

Adoro o Echo & The Bunnymen e fui um dos privilegiados que estiveram no clássico show de 1987 no Anhembi (e nos shows seguintes também). Mas a paixão pelo grupo não me provoca uma cegueira total típica de fãs idiotas: sei bem que o Echo é uma ex-banda em atividade, que já devia ter acabado há tempos e que vive de passado.

Ou não. O próprio tempo e o talento desses ingleses tratou de dar uma reviravolta nessa percepção. Em 2014, o Echo lançou um dos grandes discos do ano, o divertidíssimo e um tanto difícil “Meteorites” (leia resenha aqui). Provou que tinha gás ainda, que não era uma ex-banda em atividade.

Fez mais. Saiu em turnê. E a turnê deu uma meia-trava no Brasil. Primeiro, no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso. Os relatos foram de um show sofrível por conta do som. Nem bis teve. O senhor McCulloch saiu enfezado do local.

Mas o show em São Paulo prometia um final mais feliz. Não que o som do HSBC Brasil seja lá essas maravilhas todas – não é e se mostrou cruel com a banda (bateria baixa, baixo sumido, vocal oscilante), mas foi bom o suficiente pro Echo se entregar com a vontade de sempre.

Os detritos do tempo estão todos lá. A voz de Ian vai cada vez pior. E ele, nem aí, segue tragando e baforando em cima do palco. Se em disco, a tecnologia dá um trato e deixa a voz como nos áureos tempo, ao vivo não dá pra enganar. Mas ok, ninguém espera um jovem de vinte anos cantando. Os clichês das inserções de trechos musicais também apareceram e são os mesmos de sempre, com Doors, Pickett, James Brown e por aí vai. Faz parte do show, é o que a plateia quer ouvir.

Bem, se a plateia (em sua maioria, de quarentões e cinquentões) que pagou cento e sessenta dinheiros por ingresso espera ver isso é isso que a banda vai dar. E fez muito bem.

Após a abertura (com vinte minutos de atraso), com a lenta e climática “Meteorites”, a banda tratou de vasculhar seu enorme acervo de sucessos e ofereceu um a um: “Rescue”, “Do It Clean”, “Never Stop”, “Seven Seas”, “Bedbugs And Ballyhoo” e, de quebra, a clássica versão pra “People Are Strange”, do Doors.

Do disco novo mesmo, apenas três: a faixa título, “Holy Moses” e “Constantinople”. Ficaram de fora as ótimas “Lovers On The Run” e “Market Town”. Mas o público, em sua esmagadora maioria, não queria as músicas novas, queria os clássicos, queria a velha banda remoendo o seu passado e não a revigorada por um bom disco.

Mesmo que ao vivo essas canções novas não funcionem tão bem como em estúdio, a turnê é desse disco. É pra promovê-lo. Porém, a plateia que encheu bem o HSBC, em torno de sessenta por cento do local, talvez até desconhecesse a novidade daquela banda que se esforçava em olhar pra frente.

Velhos de guerra, Ian e sua turma trataram de agradar os leões. Mais sucessos, pra cantar numa só voz, como pediu o vocalista: “Bring On The Dancing Horses”, The Killing Moon” e “The Cutter”, na ordem. E dois bises, que incluíram “Lips Like Sugar” e a linda “Ocean Rain”. A música mais nova data de 1999. É “Rust”, de “What Are You Going To Do with Your Life?”.

Uma hora e quarenta minutos depois, não havia nos rostos da plateia calejada o resultado de uma “catarse”. Mas ninguém podia reclamar de voltar algumas décadas no tempo. O pessoal saiu satisfeito.

Não sei se isso incomoda à banda, tendo um disco tão bom e fresco pra mostrar. Eu não me importaria de ouvi-lo. Mas prevaleceu a lógica.

Pelo menos, com o disco e com a boa apresentação, o grupo mostrou que eu estava errado: o Echo & The Bunnymen não é uma ex-banda em atividade.

01. Meteorites
02. Rescue
03. Do It Clean
04. Never Stop
05. People Are Strange (The Doors cover)
06. Seven Seas
07. Bedbugs And Ballyhoo
08. Holy Moses
09. Rust
10. All My Colours
11. Over The Wall
12. Constantinople
13. All That Jazz
14. Bring On The Dancing Horses
15. The Killing Moon
16. The Cutter

BIS
17. Nothing Lasts Forever (com Walk On The Wild Side, Lou Reed cover)
18. Lips Like Sugar

BIS 2
19. Ocean Rain

Fotos (na raça): André Yamagami

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