ENGRENAGEM #22: NURSE WITH WOUND – SOLILOQUY FOR LILITH

Pra quem não conhece, Steven Stapleton é o britânico responsável pelo Nurse With Wound . Ele é considerado um dos precursores da música industrial ao lado de bandas e artistas como Psychic TV, Monte Cazazza e tão logo Throbbing Gristle.

Com uma vasta discografia, o Nurse With Wound explorou climas variados ao longo dos anos. Discos viscerais e agressivos foram intercalados por outros de uma tranquilidade fantasmagórica mas sempre com o processo de criação focado no improviso. Tendo isso em mente, vale mencionar aqui o clássico “Chance Meeting On A Dissecting Table Of A Sewing Machine And An Umbrella” (leia também esta edição da coluna “Revisitando”), primeiro disco do projeto, que tem uma ótima história por trás, contarei de forma resumida:

O disco foi gravado em apenas seis horas de estúdio conseguidas por Stapleton graças a uma conversa com o engenheiro de som, Nick Rodgers. Nessa conversa Nick revelou o desejo que tinha de trabalhar com bandas mais experimentais e recebeu como resposta uma pequena mentira de Steven que disse estar em uma banda assim na época. Rapidamente Stapleton chamou dois amigos e estava pronta a primeira formação do Nurse With Wound que gravou sem nenhum ensaio prévio. O próprio Nick Rodgers gravou overdubs de guitarra na finalização do disco.

Mas essa edição da Engrenagem tem como foco outro disco, o clássico “Soliloquy For Lilith”. Então, vamos a ele, que sonoramente é o oposto do “Chance Meeting…”. “Soliloquy…” pareceu romper um pouco com o que Stapleton vinha fazendo na época, gerou divisão nas opiniões dos que acompanhavam o trabalho do artista. Mas terminou sendo um de seus trabalhos mais bem sucedidos, comercialmente inclusive.

Pra começar, Lilith é o nome de uma das filhas de Stapleton com Diana Rogerson, nascida no mesmo ano em que o disco foi gravado (1988). Diana ajudou no processo de gravação do album que, como de costume, foi focado na improvisação mas de uma forma bem peculiar.

O disco é composto de repetições, loops de feedback que têm pequenas alterações no decorrer das faixas. Alterações essas que modificam os climas propostos de forma sutil. Parece tudo muito simples, mas é de uma beleza assustadora.

Stapleton descobriu o mal funcionamento de uma de suas unidades de som, que no caso produzia um “hum” especifico que era alterado conforme ele aproximava os dedos. Um efeito similar ao de um teremim. E foi dessa forma que ele estruturou todas as seis longas faixas do disco: Criando loops com o auxilio de pedais e produzindo alterações no decorrer, movimentando vagarosamente os dedos.

O resultado final é de uma profundidade tremenda, os timbres dão frio no estômago. As faixas são poderosas e bem diferentes umas das outras apesar da unidade sonora dos feedbacks sempre presente. O disco consegue manipular o tempo com êxito. Ao meu ver, com esse trabalho Stapleton mostra o grande impacto e a influência que tem de compositores minimalistas como La Monte Young.

Em 2003, foi lançada uma edição do disco com duas faixas bônus, dois remixes do material original gravado em 1988.

Considero “Soliloquy For Lilith” um disco obrigatório.

Vale dizer que a discografia de Stapleton é enorme – não só como NWW – e vale a garimpada, inclusive em suas várias colaborações com nomes como David Tibet (Current 93) e William Bennet (Whitehouse).

Ouça o trecho da número um:

E ouça um trecho da número cinco:

1. Untitled (17’56”)
2. Untitled (17’06”)
3. Untitled (17’51”)
4. Untitled (17’51”)
5. Untitled (17’29”)
6. Untitled (17’30”)

Data de lançamento: 20 de maio de 1988
Gravadora: Idle Hole Records
Produtor: Diana Rogerson e Steven Stapleton
Tempo total: 105 minutos e 43 segundos

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