ENGRENAGEM #3: THISQUIETARMY – VESSELS

Bem, pra falar sobre o Thisquietarmy, vou voltar alguns anos no tempo até a época em que comecei a me interessar por post-rock.

O que mais me chamou atenção na época, além dos primeiros discos do Mogwai, do Bark Psychosis e do Slint (esse também tendo ligação com o inicio de meu interesse por algumas coisas de outro gênero, que as pessoas batizaram de math-rock), estava na Constellation Records, que contava com a GY!BE, a Hangedup, a Do Make Say Think, dentre outros.

Com esse interesse pelo som experimental canadense e pelas bandas que recebiam a alcunha de post-rock, descobri algumas coisas de fora da constallation nessa mesma época. Entre essas descobertas estava o Destroyalldreamers, uma ótima banda que fundia elementos do shoegaze com post-rock, uma banda legal de garimpar.

Eric Quach, guitarrista e um dos membros fundadores do Destroyalldreamers, começou a trabalhar sozinho sob a alcunha de Thisquietarmy, por volta de 2005. O projeto já contabiliza um bom número de discos e EPs, dentre os quais colaborações com grandes nomes do drone e da música experimental, como o também canadense Aidan Baker (Nadja).

Em 2011, o Thisquietarmy lançou “Vessels”, um disco que me fascinou por demais e, como o próprio nome sugere, parece ter sido composto sobre temas náuticos. Resolvi descrevê-lo aqui e indicar os trabalhos desse excelente artesão de sons.

Estamos falando de drone/ambient e nesse caso, guitarra, muitos pedais, ocasionais batidas e muito grave. Um som considerado dificil. Tende a parecer entediante se ouvido com pressa, mas com bons fones e no momento certo pode, além de ser inspirador, te levar ao mais profundo êxtase, dada a sensibilidade com que ele faz vibrar os tímpanos.

Eric cria ápices inacreditáveis em suas músicas, que vão lentamente sendo construídas por paredes sonoras que tomam todo o ambiente. O disco te leva de fato à submersão, como se todos os navios do título afundassem lentamente. Melodias lindas vão nascendo dos ruídos, num som que vai alienar sua percepção da passagem de tempo por meio de doses cavalares de delay.

“The Pacific Theater” introduz tudo com maestria, uma música arrepiante costurada por beats grandiosos. Não deixa a desejar em nada para “The Hierarchy Of Angels”, a incrível música de abertura de seu disco anterior, o ótimo “Aftermath”.

“Lost Crusades” mantém o frio na barriga e constrói paisagens cinzentas de prenúncio à tempestade. Ruídos com timbres que me remetem de imediato ao industrial: os rangidos de uma velha nau. Uma música pesada que vai sendo abraçada por fortes graves até se tornar uma espécie de massagem cerebral, a música parece navegar dentro de você num dia chuvoso. É como se desse pra sentir a ressaca do mar.

“Shipwrecks” flui silênciosa pra o que considero o ponto alto: “Black Sea”, minha preferida do disco, onde a batida forte volta potente.

Mas isso não quer dizer que “Vessels” perca o brilho nas duas seguintes. “Spanish Galleon” surpreende com o arranjo de cordas e quando você acha que não há de se esperar por mais nada, percebe a grande surpresa no fim: de bonus track, “New Dawn Fades” – sim!, uma de minhas músicas preferidas do Joy Division – ganha uma versão drone de chorar…

Bem, é isso. Como todo disco que carrega essa tag (drone), à primeira vista pra muitos soará como algo abstrato, mas eu não acredito que as pessoas não tenham o dom de contemplar essa sonoridade. É bonito, acredite. Se você é um desses que implicam com a coisa, espere o momento certo, ouça com paciência e bons fones, trilha sonora perfeita pro trânsito ou para ler um bom romance. Aliás, reparando nas construções dos ápices e na entrada das baterias épicas, diria que é uma boa escolha pra se começar a ouvir esse tipo de som.

Meu veredicto: épico, um dos discos do ano até agora.

UM POUCO MAIS
O Thisquietarmy também já fez alguns remixes bem interessantes, dentre eles um de “Reckoner”, do Radiohead, QUE especial achei sensacional. Ouça clicando aqui.

Um dos selos que já lançou material do Thisquietarmy – não foi o caso do Vessels, que saiu pela aurora borealis – é um dos grandes selos de música experimental canadense, que se chama Alien8 e vale muito a pena ser garimpado. Corra lá agora, você vai encontrar dentre muitas coisas, trabalhos solo do Aidan Baker, do próprio Nadja, o incrível Tim Hecker, dentre muitos outros.

1. The Pacific Theater (11’59”)
2. Lost Crusades (9’03”)
3. Shipwrecks (1’36”)
4. The Black Sea (10’04”)
5. A Spanish Galleon (8’55”)
6. New Dawn Fades (8’03”) – faixa bônus do CD

Data da lançamento (EUA): maio de 2011
Gravadora: Aurora Borealis (Inglaterra)
Produtor: Eric Quach
Tempo total (do CD): 49 minutos e 37 segundos

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