ENTREVISTA: EARTHEN SEA – LIBERDADE PRA CRIAR

Eu não sou nenhuma autoridade, mas desde que venho ouvindo os trabalhos de Jacob Long (que atualmente lança pela alcunha de Earthen Sea), acho difícil encontrar outro artista cujas transições na música eletrônica e ambient se imponham tanto com tantas abordagens diferentes.

É impressionante como suas participações em bandas variam do screamo do Amalgamation, onde ele cantou, seu multi-instrumentalismo pelo Black Eyes e o visceral trabalho de contrabaixo pelo Mi Ami, num dos discos mais emblemáticos da década, entre outros. Tanto tempo e tantos projetos não exauriram o músico de continuar lançando trabalhos consistentes, pisando forte no terreno techno pra desenhar uma ambiência a partir de paralelos entre os lugares em que viveu. Earthen Sea lança o ouvinte num mundo de cores vibrantes cuja estridência – o próprio ato da distorção de barulhos tão bonitos – é capaz de redimensionar a interação com o espaço físico.

Long respondeu-me algumas perguntas sobre a influência dos lugares em sua música, entre outras coisas.

Floga-se: Os títulos de suas músicas sugerem que seu último álbum é composto por espaços físicos. Como é absorver o lugar em que você está e transformá-lo em música?

Jacob Long: Eu sinto que é uma daquelas coisas que simplesmente acontecem… Não é mesmo algo que você possa controlar ou “decidir” por si mesmo. Quer dizer, acho que tenho certa sensibilidade até certo ponto e tenho alguma abertura pra permitir que minha música vá aonde possa ir… Em São Francisco, fazer sons que eram muito escuros e sombrios fazia muito sentido pra mim e, sem nem pensar nisso, desde que moro Nova Iorque, venho fazendo um trabalho muito mais ousado… muito mais cores, em que até mesmo tons obscuros são muito mais ousados e menos sombreados / sombrios… mas também tenho a sorte de viver em um espaço com alguma luz excelente (durante boa parte do ano); então, isso também tem um efeito forte sobre as composições.

F-se: “Grass And Trees” soa mais brilhante, menos noturno do que “An Act Of Love”. Eles foram compostos com essa ideia intencional de dualidade ou estão de alguma forma relacionados aos lugares onde foram criados?

JL: Não foi uma ideia intencional, mas eu definitivamente me movi em direção a uma maneira diferente de fazer música entre os dois álbuns que contribuiu, um pouco, pra mudança de sensações. Também, involuntariamente, acho que a mudança na minha situação de vida (mudando-me de São Francisco pra Nova Iorque) alterou a sensação… ambas as cidades passam sentimentos muito diferentes, mas também ambientes muito diferentes e luzes etc., e acho que isso teve um efeito, maior do que eu esperava, no meu sentimento expresso através da música.

F-se: Você usou algum software novo que não usou em “An Act Of Love”? Como foi o processo de gravação e por que demorou um tempo pra lançar outro álbum?

JL: O principal software / equipamento usado pra fazer o novo álbum foi o mesmo, mas eu usei um sequenciador de software diferente como a “espinha dorsal” das músicas, que na verdade era uma grande diferença. Isso e eu aprendi a fazer mais coisas em Ableton também e meio que me aperfeiçoei e mergulhei mais fundo em ideias e técnicas que eu havia usado, no passado, naquele programa. Eu acho que o tempo demorado entre os discos foi o resultado de, primeiro, encontrar uma direção que me satisfizesse em seguir com a minha nova música e, em seguida, aprender essas coisas novas e descobrir como colocar tudo junto de uma forma que eu estivesse feliz.

F-se: Como o seu tempo tocando baixo em bandas ressoa em seu trabalho solo?

JL: É difícil identificar exatamente, mas acho que todas as diferentes experiências que tive tocando música de maneiras diferentes têm um efeito cumulativo sobre o que vem a seguir. Dito isso, sinto que tenho certa sensibilidade rítmica que desenvolvi ao longo dos anos tocando baixo (e especialmente tocando com ótimos bateristas) que se transferiu pra música que estou fazendo agora.

F-se: Quais são alguns produtores de música ambient que você percebe influenciarem diretamente no seu trabalho?

JL: Eu diria que, ao longo dos anos, os que mais escutei e que tiveram um impacto duradouro incluem Aphex Twin (especialmente “SAW II” – “Selected Ambient Works Volume II”, lançado em 1994), Vladislav Delay (praticamente qualquer coisa que ele tenha feito), Basic Channel (especialmente a compilação “BCD”… ambos porque foi minha exposição inicial a eles e algumas das mixagens desse CD levaram seu techno a formas muito nebulosas), e os discos de Harold Budd e seu jeito de tocar piano foram uma grande coisa pra mim nos últimos anos…

F-se: Suas apresentações ao vivo acompanham os sons dos álbuns ou você gosta de improvisar?

JL: Um pouco dos dois, acho… quero dizer, as músicas que acabam no álbum são criadas de uma maneira similar às minhas performances. Tudo é sempre uma “mistura ao vivo” de uma configuração… nada é muito definido ou planejado. A maior parte do trabalho de composição pra mim é obter uma sequência rítmica que gosto e fazer muitas coisas de design de som. Então, volto e começo a descobrir uma estrutura na minha cabeça, na medida em que começa, constrói, quando as coisas entram e saem, etc., mas é muito livre… só pra ter uma ideia na minha cabeça… então eu pressiono o play e mixo as coisas ao vivo e faço isso até que eu tenha algo que me agrade. Então, ao vivo é semelhante… ao planejar um conjunto eu venho com uma sequencia de peças que acho que fluem bem, mas é muito livre… um tipo de cruzamento entre mixagem ao vivo e DJ… Sou um mixer DJ por me permitir misturar diferentes partes de diferentes músicas e tocar um conjunto perfeito pra permitir que tudo seja construído como uma longa canção.

F-se: Você faz música há algum tempo. Você mantém o mesmo entusiasmo que teve quando começou ou outras razões que o atraem?

JL: Sim, tenho tocado música de uma forma ou de outra há mais de trinta e cinco anos, então tem um tempo… mas é algo infinitamente fascinante pra mim de todas as maneiras e sempre há algo novo pra aprender ou criar ou apenas ouvir… então, sim, foi mágico quando eu tinha cinco anos e comecei a tocar violino e na maioria das vezes ainda existe essa magia.

F-se: Como você entrou na música eletrônica e como é essa cena musical no lugar em que vive?

JL: Eu provavelmente entrei na música eletrônica através de um chart sobre música ambient nesta antiga revista chamada Details (coincidência bizarra)… mas já sabia um pouco sobre minimalismo e Phillip Glass em função de crescer tocando música clássica e ele estava nesse chart, mas também estavam My Bloody Valentine e Dinosaur Jr, que eu realmente amava naquele momento, então eu estava realmente curioso sobre mais música e aconteceu que eu consegui encontrar o “SAW II”, do Aphex Twin, em uma loja de discos local e de lá eu fui fisgado… então, alguns anos depois, eu ouvi jungle, drum and bass pela primeira vez e minha curiosidade foi despertada completamente. Quanto à cena musical em Nova Iorque… quero dizer, é enorme… Eu não me sinto totalmente conectado ao que está acontecendo aqui, mas há definitivamente uma tonelada de cenas diferentes pra todos os tipos diferentes de música…

F-se: Você poderia me dizer como “Steal Your Face” (do Mi Ami, lançado em 2010) envelheceu pra você, se é que você retorna ao disco às vezes? Eu me lembro de não parar de ouvi-lo em 2010.

JL: Oh, isso é demais! Eu não ouço muito, mas vou dizer que acho que é um dos melhores discos em que eu estive envolvido e eu tenho boas lembranças de tocar essas músicas com Daniel e Damon e daquela época da minha vida como um todo. E apenas o nível que alcançamos como um trio, naquele momento, foi um dos pontos altos da minha produção musical.

F-se: Qual foi o último “boom” da música eletrônica? Lembro que nos anos 2000 a coisa toda do dubstep era grande. A nossa Era da Internet está restringindo os possíveis “booms” apenas às bolhas de gênero?

JL: Sim, dubstep foi definitivamente uma grande coisa por um tempo! Não tenho certeza se realmente sei muito sobre o que é enorme agora… Eu meio que apenas sigo meus próprios interesses e vejo aonde eles me levam.

F-se: Ouvindo todos os seus trabalhos solos, é possível entender que você está retratando uma escala considerável na música eletrônica e ambient. É uma decisão consciente de cobrir todos os cantos possíveis que você pode ou está acontecendo de forma fluida?

JL: Sim, definitivamente não é uma decisão consciente… apenas seguir as ideias aonde elas levam e, quando eu sinto que estou em um beco sem saída, explorar pra manter as coisas frescas que me deixam interessado no que estou criando.

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