ENTREVISTA: SINEWAVE – MAIS PERGUNTAS QUE RESPOSTAS


Luiz Freitas (esq) e Elson Barbosa (dir)

Eu tinha pra mim que a Sinewave existia desde, sei lá, 2001, 2002. Mas a netlabel mais importante do Brasil na atualidade surgiu apenas em 2008. Esse lapso de tempo na minha cabeça se dá porque provavelmente hoje em dia não se imagina música brasileira alternativa de qualidade internacional sem a Sinewave, referência nacional em post-rock, noise e shoegaze.

Pra se ter uma noção, a Sinewave é responsável por lançamentos de maravilhas como o Loomer, This Lonely Crowd, lavalsa, Black Sea, Uppsala Solemne, Sobre A Máquina, Duelectrum, Neon Night Riders, Wry e muitos outros, num total de mais de 80 discos ou EPs (muitos em parceria com outros selos, como Popfuzz, Midsummer Madness e Senhor F). O próprio Elson Barbosa, um dos fundadores, toca baixo numa banda “da casa”, a ótima Herod Layne.

Ainda há coletâneas, mixtapes, podcasts e festivais nesse bolo. A Sinewave não para.

O nome do selo também já entrega o que se espera dele: foi tirado de uma música do Mogwai, banda ícone do post-rock mundial. “Sine Wave” está no terceiro disco dos escoceses, “Rock Action”, lançado em 2001. Ouça aqui:

Um trabalho tão recente e tão significativo tem os méritos dos seus criadores, Elson e Luiz Freitas. A dupla recebeu o Floga-se na “sede” do selo em Moema, São Paulo, numa tarde agradável de quarta-feira de março. O papo rolou solto, como se fosse numa mesa de boteco e o melhor da conversa vou tentar reproduzir aqui – porque muita coisa foi dita, muita mesmo.

Por isso, pulemos algumas etapas. Por exemplo, a pergunta básica, “o que é a Sinewave?”, essa o site oficial já responde: “é uma net label, um ‘selo virtual’. ‘Selo’ porque lançamos álbuns e singles. ‘Virtual’ porque não trabalhamos com CDs físicos, somente músicas em mp3 pra download gratuito. Temos um norte: trabalhar com bandas de post-rock, shoegaze, e experimentais em geral”.

Então, vamos tentar esclarecer como pensam esses dois abnegados em relação ao mercado musical brasileiro, seus gostos musicais, sua relação com a imprensa e talvez a pergunta que não queira calar… o que afinal eles ganham com isso, que vantagem maria leva?

A entrevista editada tá aí embaixo, mas já aviso: nesse negócio de música e Internet estamos todos engatinhando e tateando no escuro, portanto ainda há mais perguntas do que respostas. Tente entender, mas acima de tudo, acesse, garimpe, descubra, baixe, ouça e divirta-se.

Floga-se: Vamos começar do começo, certo? Como surgiu a Sinewave?

Elson: Foi no meio de 2008. A gente já tocava em bandas, eu na Herod Layne e o Luiz na Gray Strawberries, e a gente acabou se conhecendo por causa delas. Nós dois sempre teorizamos sobre a cena independente, falando bem, falando mal, observando, acompanhando tudo o que tá acontecendo, e víamos que tinha um monte de bandas boas por aí, escondidas no MySpace ou na Trama Virtual, com divulgação zero, e perguntávamos o que daria pra fazer pra ajudar essas bandas. Por que ninguém tá fazendo algo? Aí, ao invés de ficar esperando alguém fazer alguma coisa, a gente topou fazer por conta própria, mesmo sem ter uma ideia do que fazer: será que é um selo, um site, um blogue, uma comunidade…? O que dá pra fazer? Eu já conhecia algumas netlabels na época, tipo a Lost Children, especializada em post-rock; e a Pisces, aqui do Brasil; e gostava desse formato, um selo, alguém ali que disponibilize os discos de graça. E falei: “pô, a gente consegue fazer isso”. Não sei como funciona um selo de verdade, mas sei que é uma coisa burocrática, que tem contratos, advogados, não sei o que mais.. Agora, num selo virtual, a burocracia é zero, então a gente consegue fazer isso, pensei. É só bolar um nome, montar um site ali, instalar tal coisa e começar a procurar bandas que topem fazer a divulgação com a gente.

F-se: Daí acharam o nome. Obviamente, por causa da música.

Elson: Teve uma lista de várias músicas de bandas que a gente gosta, e esse nome foi o melhor, tem uma sonoridade legal. A minha banda favorita é o Mogwai, a do Luiz é o Slowdive, e por acaso, tempos depois, a gente foi descobrir que o Slowdive tem um lado b super obscuro que se chama “Sine Wave” também.

Luiz: No primeiro podcast da Sinewave, a gente tocou as duas.

F-se: A partir do momento que decidiram fazer nesse formato e com esse nome, quanto tempo levou e qual o objetivo principal naquele momento? Tinha a ver com as bandas de vocês?

Luiz: Tinha. Tanto que os dois primeiros lançamentos foram a Herod e a Gray. O motivo de criar tudo isso tem sim a ver com as dificuldades que a gente encontrava com as nossas bandas: não tinha um veículo de imprensa que falasse da gente. Vamos criar isso. Porque é aquele círculo vicioso: se você não conhece ninguém, ninguém vai falar de você e se ninguém fala de você, ninguém vai te conhecer e você não cresce, fica preso. Não existia nenhuma mídia repercutindo a gente. Então, que a gente fosse a mídia. Faltava tudo. E hoje a coisa mudou bastante. As bandas ajudam muito a Sinewave, é um lance meio de militância.

F-se: Qual a importância de um selo tão segmentado?

Elson: Foco. Uma das nossas primeiras decisões foi focar em post-rock, shoegaze, porque a gente acompanhava outros trabalhos que não tinham esse foco, que lançavam, sei lá, uma banda de post-rock, uma de rock’n’roll, uma de MPB e uma de carimbó. Todos os selos que eu gosto são segmentados. Se uma banda sai ali e você não a conhece, já sabe o que vai esperar dela. A gente queria criar essa imagem. A Sinewave tem que ter uma cara, um direcionamento artístico.

F-se: Como começou o esquema de divulgação e como é agora? Houve alguma mudança?

Elson: Mudou, sim, mas só porque na verdade a gente nunca teve uma regra de como fazer isso. Então vai de acordo com a necessidade e com o nosso tempo, do que é possível fazer: “bom, tô com tempo hoje, então vou fazer uma mixtape“. Não existe um plano por banda, sabe? Não se dá garantia pra banda que a gente vai fazer alguma coisa planejada, porque depende muito do nosso tempo. Isso fica claro.

Luiz: Até agora nenhuma banda reclamou. E acho que nem vai, porque elas vêem que a gente faz isso porque gosta.

Elson: Sim, elas percebem que a gente tá fazendo isso de coração, que a gente acredita… É uma coisa meio idealista, mas é por aí mesmo. Eu gosto pra caralho de ver uma banda da Sinewave crescendo, as pessoas falando bem… O disco foi lançado um ano atrás e tem gente falando ainda hoje… Pô, gosto pra caralho de ver isso.

Luiz: Só de ver a alegria das bandas por tocar num lugar legal, com estrutura legal, com outras bandas legais, como é o caso dos nossos festivais… Não tem preço. Isso a gente pode tentar proporcionar. Por isso nossos festivais são hoje o principal produto da Sinewave.

Elson: Num desses festivais, tinha muita banda e o público não foi tão grande assim. Deu mais ou menos setenta reais pra cada banda. Eu cheguei pra uma banda de outro estado, que gastou dinheiro pra vir pra São Paulo, e disse “pô, desculpa aí, só deu setenta reais…”. Eles ficaram felizes: “cara, setenta reais, pô, a gente tocou, vocês divulgaram nosso trabalho e ainda ganhou setenta reais!”. Eu vejo que eles acreditam no que a gente tá fazendo, que é pra ajudar.

F-se: Qual o alcance da Sinewave?

Elson: Vou teorizar: acho que os festivais dão um peso muito maior agora, de mídia, de pessoas acompanhando, mas é um público bem específico, não é muita gente. Não sei se a gente tá conseguindo formar alguém de fora, do tipo que hoje ouve MPB e passa a ouvir as bandas da Sinewave. Acho que é mais um público que já gosta do tipo de som. Em termos de números, aí sim dá pra falar de algo concreto: até dia 1º de março de 2011, temos 48 mil downloads de arquivos zipados, de discos. Mas não sei dizer se esse número é alto ou baixo, porque não tenho nenhum parâmetro de comparação. O disco campeão de downloads é do Andrei Machado, pianista de Brasília. A gente lançou dois discos dele e o próprio músico fez um trabalho divulgação bem legal, colocando a informação em tudo quanto é blogue. Esses blogues apontaram seus links pra Sinewave e daí o resultado. Foi mérito dele.

F-se: Quantos donwloads foram feitos desse artista?

Elson: Quatro mil e trezentos. Mas, de novo, não sei se esse número é alto ou não. Já ouvi alguns artistas falarem que o álbum deles chegou a dez mil downloads na Trama, então acho que quatro mil é pouco ainda.

Luiz: Se for verdade, né?

Elson: É. Bom, eu sou freak com números e sou incapaz de falar um maior do que a realidade. No site, por exemplo, a gente tem uma média de mil visitas por dia, com visitantes do mundo inteiro. O site é bilínqgue justamente por isso, pra ajudar a divulgar lá fora. E acontece bastante de ver que um disco nosso foi cair num blogue na Polônia ou na Rússia.

F-se: O que é considerado um sucesso pra Sinewave?

Elson: (pensativo) Bom… Downloads… Se o número for razoável… Se as pessoas tão falando… E gosto muito de feedback espontâneo, do tipo achar no Twitter alguém falando de uma banda nossa, do nada.

Luiz: A gente fica monitorando a Internet pra ver o que tão falando das nossas bandas. É um diferencial nosso.

Elson: O fato de alguém elogiar uma das nossas bandas, de forma espontânea, isso é mais ou menos um sucesso. Mas em números absolutos, o Andrei é um sucesso de quatro mil downloads. É que como é de graça, não dá pra contar e controlar o que cai em Rapidshare e tal. A Herod tem um disco de mil e quatrocentos downloads. Eu gosto desse número, mas não tenho parâmetros de comparação.

F-se: E vocês esperam ganhar dinheiro?

Luiz: (de bate-pronto) Não.

Elson: (enfático, junto com Luiz) Não! Desde o começo, logo no primeiro dia, no dia-zero, foi uma decisão certa que a gente tomou: é assumir que nunca vai ganhar dinheiro com isso.

F-se: Nem se pintar na área?

Elson: Se pintar, a gente vai pensar nisso. Por enquanto, é uma decisão tomada. É uma coisa meio irônica. A gente pensou assim: se não tiver dinheiro na jogada, um monte de portas vão se fechar, se tivesse dinheiro, elas se abririam. Mas aconteceu justamente o contrário, o fato da gente não trabalhar com dinheiro abre portas. Porque se a decisão passar a ser “vamos ganhar dinheiro”, a primeira coisa a fazer é jogar fora todos os discos de post-rock, porque ninguém ouve, ninguém compra. É passar a trabalhar com emo, axé, que é o que dá dinheiro.

Luiz: Com isso, a gente acaba atendendo um nicho de mercado que praticamente não tem concorrência. Acho que o único trabalho focado em música experimental no Brasil, hoje, é a Sinewave. E nisso, o selo tem crescido muito.

F-se: Bom, vocês chamam de mercado uma coisa que na verdade não é mercado, porque vocês não comercializam nada.

Luiz: Ah, não. A gente costuma falar que a nossa moeda é mídia, é ganhar repercussão em sites, blogues…

Elson: Nosso foco é criar diversos produtos com a marca Sinewave, como mixtapes, podcasts, os próprios festivais, que é o principal produto hoje, sempre pensando como ganhar em termos de mídia, em termos de links pro nosso site. A gente sabe que dinheiro não vai entrar, então, o que faz valer a pena? É as pessoas comentarem, falar que ali tem um disco novo legal, de uma banda boa, que vai ter um festival da Sinewave; então, o selo sobrevive de links…

F-se: E vocês vivem do quê, então?

Luiz: Eu dirijo trem do Metrô. Sério. (falando pra si) Ninguém acredita… Sou operador da Linha Verde.

Elson: Eu sou gerente de projetos. Mas agora não tô trabalhando em nada. Tirei um ano sabático pra investir na banda e no selo. Mas como não vai dar dinheiro o selo, já, já, tô voltando pra área.

Luiz: Não vejo problema nenhum em ter um emprego “normal” e se sustentar sem ser com sua arte. Muita gente acha que você não é um artista profissional e completo assim.

F-se: Vou insistir: será que não dá pra ganhar dinheiro com isso?

Elson: Com post-rock não dá. Eu sempre achei que a gente era exceção, que a Sinewave não ganha dinheiro, mas outras pessoas devem ganhar. Mas não. Como eu constatei isso? Foi naquela mega entrevista com o Romulo Fróes pro (site) Scream & Yell. Eu sempre cito isso, porque acho um case. Quando li, fiquei uma semana digerindo tudo o que ele falou lá. O Fróes, pra mim, é um cara que já é top nesse universo independente, foi capa da Ilustrada (caderno de cultura do jornal paulistano Folha de São Paulo), disco elogiado pela Rolling Stone e tal, então ele tá num patamar acima do nosso. E ele fala: “eu não consigo ganhar dinheiro com música”. O cachê dele é de quatrocentos e cinquenta reais e ele fala que não consegue nem ganhar isso. O produtor que o chama pra fazer um show fala que ele consegue, mas vai tocar numa terça-feira, duas horas da manhã, não dá: vão só seis pessoas assisti-lo. Se o Fróes fala isso… Aquilo abriu minha cabeça. Então, ninguém tá ganhando dinheiro.

F-se: Mas você aparecer muito na mídia é diferente de você ser de fato ouvido. Porque aparecer onde quer que seja nessa mídia, em matérias que uma grande massa não lê, não é relevante pro ouvinte tomar a decisão de  gastar seu dinheiro. As pessoas se perguntam se esse ou aquele cara pode ser amigo do jornalista ou até mesmo ídolo do jornalista. A mídia cultural brasileira é feita de amigos.

Luiz: É, a gente tem mais perguntas que repostas. Justamente pelo fato da nossa imprensa ser assim é que o mercado não é tão profissional. Quer dizer, é um dos motivos. Eu paro pra pensar e de repente é isso mesmo. Mas a gente sempre se questiona e não sabe mesmo exatamente como é.

Elson: Nem com os festivais a gente ganha dinheiro. Ganha muito pouco, não cobre nem a viagem. E os festivais aparecem bastante em blogues e sites. Não são todos meus amigos. É o trabalho que tá sendo reconhecido. Isso é o que nos dá mais prazer. É satisfação.

Luiz: E proporciona oportunidades futuras. É um degrauzinho a mais na escada, na nossa subida.

Elson: A gente tá aprendendo com esses festivais. Nos de São Paulo a repercussão foi pequena, isso em 2009. Agora, em Curitiba em Porto Alegre, a recepção foi bem maior. Tem outras cidades que já tão pedindo: “quando é que vocês vêm pra cá?”. Então… A gente tá fazendo alguma coisa certa, sabe? Não entra dinheiro, mas acredito que a coisa certa tá sendo feita.

Luiz: Mas, olha, a coisa evoluiu mesmo. Quando a Sinewave começou, tinha quase nada de post-rock no Brasil. O que precisava ser feito, foi feito: colocar na pista o que é post-rock, pra depois colocar nossas bandas. É um passo de cada vez. E a mídia nisso, com amigos ou sem amigos, é uma moeda forte.

F-se: Parece o lance do ovo e da galinha. As bandas apareceram porque viram um canal aqui ou elas já existiam e vocês que foram atrás e garimparam?

Luiz: As bandas já existiam.

Elson: Como a gente disse antes, as bandas existiam, cada um no seu MySpace. A gente garimpou.

Luiz: Hoje a gente não precisa mais garimpar, as bandas vêm até a gente.

F-se: Quantas bandas vocês recebem por mês?

Luiz: Varia muito. Agora, com os festivais, começaram a aparecer bandas de todo lado, de todo lugar.

Elson: Um lance legal aconteceu no festival de Curitiba (em janeiro de 2011). No dia seguinte ao festival, uma banda que a gente nunca havia ouvido falar, o lavalsa, entrou em contato com a gente e disse: “a gente foi ao festival, achou do caralho e nossa banda é do estilo de vocês”. A gente ouviu, achou muito foda e já lançou na semana seguinte. Eles já tinham tudo pronto. Foi só colocar no site. Na verdade, é o que a gente faz. O selo não se envolve na gravação, não dá pitaco, tirando, claro, uns amigos mais próximos, que a gente até se envolve um pouco mais.

F-se: Como é o procedimento padrão de escolha das bandas? Não é só uma questão de gosto ou de afinidade, afinal de contas existe post-rock bom e post-rock ruim.

Luiz: Há prioridade pras bandas que dá pra fazer shows com ela, investir mesmo. Não compensa por exemplo, aquelas bandas de quem nunca vai sair do quartinho dele, da garagem dele. Pode ser boa, mas ela vai ser preterida frente a um projeto ótimo, de quem quer trabalhar pela própria música e pelo selo.

Elson: A Sinewave teve uma transição de 2009 pra 2010. Até 2009, durante um ano e meio, era lançado um disco por semana, invariavelmente. Toda sexta-feira, o prazo era cumprido. Assim, acabou-se lançando trabalhos que são bons, mas por serem caseiros não eram exatamente de uma banda que tinha carreira, que fazia um show e ajudava a divulgar a gente. A quantidade tava muito grande de bandas que não tinham carreiras sólidas, nem futuro pra crescer junto. A quantidade de downloads tava diminuindo, ao invés de aumentar. Além disso, no segundo semestre de 2009, a gente fez duas edições do festival e percebeu-se que havia dificuldade de montar o line up, mesmo com trinta bandas no nosso cast. Alguma coisa tava errada mesmo. Daí, congelamos os lançamentos e só voltamos em 2010, com uma decisão estratégica diferente: o negócio é investir mais em bandas que tenham carreira e que queiram crescer. Então, lançamos menos em 2010, em média um trabalho por mês. Foi uma estratégia que nem tínhamos previsto, possibilitando um crescimento maior e nunca visto antes, e que deu ao selo um catálogo de bandas pra, em qualquer lugar que se queira fazer um Sinewave Festival, tenha uma lá que tope participar. Hoje, temos um cast excelente de bandas.

F-se: Vocês falam muito “não” ou vocês deixam de responder pras bandas que mandam gravações e querem entrar na Sinewave?

Luiz: Hoje, a gente fala “não”. Tem muito material de banda gringa, mas a gente não tem o que fazer por elas. A Sinewave não é um blogue de MP3, sabe? Porque a única coisa que se pode fazer por eles é colocar lá a música pra baixar. Não é essa a proposta. Eu falo pra banda procurar outros blogues que podem fazer muito mais por ela do que a gente.

Elson: A Sinewave recebe bastante bandas pedidos de fora, pelo menos uma por semana. Hoje, a gente recusa, não trabalhamos com bandas de fora. Mas será que não tá na hora de lançar a Sinewave Internacional?

Luiz: A gente discute se isso pode mudar no futuro.

Elson: Já aconteceu da gente recusar quando é muito ruim a banda. Mas eu não falo diretamente qual o motivo. Também a gente não sabe qual é a forma certa de agir. Posso falar que vou ouvir e deixar pra lá ou dizer direto pra banda que não rola. A pessoa fica chateada. É normal. Eu me pergunto: “a gente fez certo?”. É difícil, é uma coisa delicada. Tento ser político.

Luiz: O pessoal não leva na boa (risos).

Elson: Eu levo numa boa. A Herod já foi muito criticada e acho que a gente aprende com isso. Mas não é todo mundo que pensa assim.

F-se: Quais são os direitos e deveres da Sinewave?

Luiz: O lance é militância. Não há cobrança de nada, não se envolve dinheiro, então é militância. O dever da banda é fazer o trabalho dela, porque ela fazendo shows, vai tá divulgando o trabalho dela e consequentemente o nosso. É arregaçar a manga. O direito dela é contar com nosso apoio e o de todas as outras bandas.

Elson: Nosso trabalho é colocar no site, disponibilizar o conteúdo e divulgar da forma que a gente conseguir, com media kit, releases, entrevistas…

Luiz: A verdade é que cada caso é um caso. Tem banda que a gente manda uns baita media kit e não tem retorno. Tem outras que tem. Não se sabe o motivo. De novo, temos mais perguntas do que respostas.

Elson: Como não há possibilidade de dar dinheiro e ajudar financeiramente as bandas, a gente desenvolve ações, todas virtuais, pra divulgar. É o caso das mixtapes, que sempre entra uma banda da Sinewave lá no meio; podcasts, onde sempre tem uma pessoa importante sendo entrevistada, como foi o caso no ano passado do Steve Albini, e no meio do programa tem bandas da Sinewave; tem as coletâneas, os festivais…

F-se: O fato de vocês terem banda ajuda a entender melhor as outras bandas?

Luiz: Pra caramba. O Mário, do Wry, abriu um bar lá em Sorocaba. É um bar foda, com uma puta estrutura. Porque ele já teve banda e sabe o que é melhor pra fazr um som.

Elson: Antes da gente ser produtor da Sinewave, a gente é músico e antes de ser músico, a gente era público – e leitor, eu leio pra caramba, livros, sites… Adoro ler sobre tudo de música. Então, a gente é músico, público, produtor e consegue assimilar esses vários papéis pra tomar as decisões.

Luiz: Os nossos festivais foram bons demais. Eu queria tá lá como público.

Elson: Nos festivais, eu tava orgulhoso como produtor; também como banda, de fazer parte daquilo, com aquela estrutura; e como público, por ser só música boa.

F-se: Dar música de graça. É um assunto polêmico. Vocês não tinham escolha, certo? Mas o tempo passou… Vocês pretendem mudar essa estrutura, tipo trabalhar com físico e limitar o número de downloads?

Luiz: Vou ser bem direto: o físico morreu. Morreu! Ninguém compra mais essa merda.

Elson: Pela primeira vez na vida, meus melhores do ano, o de 2010, foram todos virtuais, eu não tinha comprado nenhum. Não comprei CD absolutamente nenhum no ano passado. Então, acho que morreu mesmo. Na home do site, tem aquele textinho about us lá, em inglês, com uma frase que diz “We believe in free information”. Hoje eu questiono se o verbo acreditar (believe) é correto. Acho que a frese tem que mudar pra algo como a gente “constata que a informação é livre”. Ou seja, não faz muito sentido cobrar por isso hoje, sabe?

Luiz: Tem um dado assustador… Tirando pornografia, crime, fraude, 25% de todo o conteúdo da Internet hoje infringe leis de direitos autorais. Um quarto de todo tráfego da Internet hoje é… roubo!

Elson: Não sei se “roubo”, mas… vai, pirataria…

F-se: Bom, nos termos da lei é roubo.

Elson: Bom, é roubo, nos termos da lei.

Luiz: É aquela coisa, né? Quando todo mundo infringe a lei, a lei deve ser revista, ou não?

Elson: Não é a lei, não é o jornalista, nem a gente que tá tentando entender. É toda a indústria, o mercado, que tá tentando uma saída. A gente não tem resposta pra isso. Agora, é uma fase de transição, alguma coisa vai acontecer lá na frente. Pode ser amanhã ou daqui a trinta anos, mas vai mudar e vai acontecer. Enquanto isso, ninguém tem resposta pra nada.

F-se: Você não sabe nem se o esquema de vocês é o ideal?

Elson: Não. A gente se pergunta bastante isso: tá dando certo, a gente tá crescendo, as pessoas tão elogiando. Mas não se ganha dinheiro. Tá certo isso ou tá errado?

Luiz: A pergunta é: quem sabe o certo e o errado?

Elson: A gente tem mais perguntas do que respostas. Eu disse. Não sei responder um monte de coisas. Eu tô observando e vendo as coisas acontecendo e não acontecendo… Só teorizando… É tudo teoria!

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