ENTREVISTA: SINGAPORE SLING – A VIDA NUNCA VAI MATAR O ROCK’N’ROLL

Em 2014, o Singapore Sling chegou ao sétimo disco, “The Tower Of Foronicity” (clique aqui pra ouvir na íntegra). Um shoegaze psicodélico e ácido, que tem a “curiosidade” de vir da Islândia, um país tão distante quanto exótico aos olhos desinformados de um outro país tão longe e exótico quanto o Brasil.

Os dois primeiros discos, “The Curse Of Singapore Sling” (2002) e “Life Is Killing My Rock’N’Roll” (2004), graças às altas doses de ruídos guitarrísticos, fizeram uma certa fama de Henrik Björnsson, o mentor da coisa toda. A Internet tratou de facilitar a vinda de sua música pra essas praias, pra alegria dos novos fãs do estilo.

Björnsson é um cara um tanto atarefado, por conta de uma aparente prolixidade, a despeito do que o mito do roqueiro chapado possa dar a imaginar (e suas letras reforçam um tanto disso): ele está, além do Singapore Sling, em outras bandas. A mais famosa, o Dead Skeletons, de 2008, que lançou o ótimo “Dead Magick” em 2011.¨Ele não consegue parar de produzir e de exalar música,

Há quem confunda o nome da banda com o drinque de mesmo nome, que leva abacaxi, licor, gim e angostura, mas Björnsson tratou de dizer que o nome vem de um filme grego bizarro chamado “Singapore Sling: O Anthropos pou Agapise ena Ptoma” (ou “Singapore Sling, O Homem Que Amava Um Cadáver”), do diretor Nikos Nikolaidis. Dá pra ter uma ideia de como flutua a mente do rapaz.

Mas ele não é um doidão. Nessa entrevista exclusiva ao Floga-se, Björnsson conta como foi a criação do novo disco, fala da distância entre Islândia e Brasil, de viver de música e se as atribuições da vida estão matando o rock’n’roll. Um papo que mostra um artista mais bem centrado e operário do que o maluco cuja inspiração e o som da banda sugerem.

Floga-se: Reykjavik e São Paulo estão distantes mais ou menos dez mil quilômetros. Por aqui, há pessoas que realmente gostam de sua música. Não há mais barreiras hoje em dia, mas lá atrás, em 2000, quando a banda começou, fazer sua música atravessar o Atlântico não era algo fácil. A Internet tornou as coisas mais fáceis pra banda em quais termos?

Henrik Björnsson: Sim, eu nunca imaginei que pessoas no Brasil sequer tivessem ouvido sobre nós, até porque nossos discos nunca foram lançados aí, então, sim, a Internet definitivamente ajudou. O Singapore Sling agora tem fãs no mundo todo.

F-se: Acredita que suas canções têm uma linguagem universal? Quais os temas que você prefere cantar?

HB: Música é uma linguagem universal e canções falam com pessoas onde quer que elas estejam. Se as pessoas entendem as letras, melhor ainda, claro. Os assuntos que eu costumo cantar são amor, ódio e obsessão. São assuntos geralmente negativos, mas trato-os com senso de humor.

F-se: Quais são os membros atuais da banda?

HB: A formação muda frequentemente entre os shows. Às vezes, somos um quarteto, e outras vezes, um sexteto ou até um septeto. Depende do que queremos fazer. A formação atual é um quinteto. Além de mim, tem Helgi Örn Pétursson na guitarra, Einar Þór Kristjánsson na guitarra, Ester Bíbí Ásgeirsdóttir no baixo e Björn Viktorsson na bateria.

F-se: No novo disco, “The Tower Of Foroncity”, você tocou todos os instrumentos? Sei que em “Never Forever” você tocou…

HB: Sempre toco a maioria dos instrumentos nos discos, tirando as baterias. Neste, toquei todos em todas as canções, exceto em uma.

F-se. Fale-nos sobre o título do disco. O que quer dizer?

HB: “Foronicity” é uma palavra inventada que significa ridículo ou absurdo, mas usualmente num sentido bem ruim. A torre de “foronicity” é interminável. Continua e continua. E quando você acha que chegou ao topo, você está realmente ainda na base.

F-se: Como foi o processo pra fazer o novo disco? Demorou muito?

HB: Gravei mais da metade dele três anos atrás, numa série de sessões inspiradas. Daí perdi o fio da meada e fiquei muito ocupado com outras coisas, então fiquei sem tempo ou espaço pra trabalhar nas canções de maneira adequada até fevereiro deste ano (2014). Tive que escrever um bocado de novas canções. Então, acabei com um monte de canção com as quais eu realmente estava satisfeito. Material suficiente pra dois discos que é o motivo pelo qual outro trabalho será lançado muito em breve.

F-se: Tá feliz com o disco?

HB: Sim, claro que estou. É o meu disco favorito de todos os tempos.

F-se: Pra você, há muitas diferenças entre esse disco e os anteriores? Como vê essa evolução?

HB: Esse novo disco tem as mais doentes, loucas e perversas letras que já escrevi. Também acho que musicalmente é o mais dançável de todos eles. É cheio de contrastes nas letras e musicalmente. Quanto à evolução, eu acho que me tornei um cara mais focado com o passar do tempo. Há sempre novas ideias em todas as canções que escrevo, embora elas sempre soem como o Singapore Sling mesmo.

F-se: Vocês já foram chamados de o “Jesus And Mary Chain da Islândia””, mas ao contrário com a banda dos irmãos Reid, o Singapore Sling não diminui a velocidade, há sempre um bocado de barulho. Você concorda com a comparação?

HB: Adoro The Jesus And Mary Chain e entendo porque as pessoas gostam de nos comparar a eles, mas embora existam similaridades no som, acho que musicalmente é um tanto diferente. Minhas bandas favoritas, tirando The Jesus And Mary Chain, são The Velvet Underground, The Cramps, Suicide e The Stooges. Também amo Nick Cave And The Bad Seeds, Wire, Pussy Galore, Spacemen 3, Loop, The Brian Jonestown Massacre… E bandas alemãs como Harmonia, Neu e La Dusseldorf… E artistas solo como Lee Hazlewood, Serge Gainsbourg, Link Wray, Lou Reed… Das mais recentes bandas, tem Ladytron, Clinic e The KVB. Há muitas bandas islandesas novas como Pink Street Boys e DJ Flugvél og Geimskip. Há muita coisa que eu amo e muita coisa que eu não suporto (e isso se reflete na minha música).

F-se: Como vai o Dead Skeleton? Algo em vista?

HB: Terá um disco ao vivo pra ser lançado em 2015 e é isso.

F-se: Você parece ser um cara muito ocupado, tocando com o Singapore Sling, o Dead Skeletons e o The Go-Go Darkness. Você ganha dinheiro suficiente pra viver de sua música ou a vida tá matando sua paixão, que é o rock’n’roll (a pergunta foi uma alusão um tanto tola sobre o título de uma das músicas mais famosas do Singapore Sling, “Life Is Killing My Rock’n’Roll”, perdoe-me por isso, leitor)?

HB: A vida nunca vai matar minha paixão, mas é bem frequente não ter tempo suficiente pro rock’n’roll. A vida tá sempre entrando no caminho. Se eu ganhasse o suficiente pra viver da minha música talvez ela, a vida, não atrapalhasse tanto, não sei, mas eu tento e sou tão focado e produtivo quanto eu posso, não importa como.

F-se: Você nunca veio tocar no Brasil…

HB: A razão de eu nunca ter ido ao Brasil é porque ninguém nunca nos convidou ainda. Se alguém convidar, adoraríamos, claro. Há muito tempo eu estou com vontade de tocar por aí.

F-se: O que conhece de música brasileira?

HB: Conheço, claro, João e Astrud Gilberto e Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque. Eu absolutamente adoro bossa nova mas eu temo conhecer bem pouco. Bem, sei que há Os Mutantes e Sepultura, mas nunca ouvi…

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