ENTREVISTA: VALENTIGER – UM PÉ NA MODERNIDADE

Um disco bastou para o Floga-se se empolgar com o Valentiger. “Power Lines To Electric Times”, de 2009, foi o pontapé inicial. Porém, parecia quase certo que seria uma banda a sumir logo após o bom primeiro disco. Mas 2011 veio e “Oh, To Know!” apareceu, surpreendendo com um trabalho final ainda melhor.

Se mesmo com esses dois discos você ainda não conhecia o Valentiger, a banda se apresenta aqui, nessa entrevista exclusiva, respondida por Brent Shirey, o guitarrista e vocalista.

Direto de Grand Rapids, Michigan, Esteites, o Valentiger pode ser que não tome o mundo de assalto, mas você precisa ouvir a música deles, uma deliciosa mistura de muitas raízes sessentistas, que incluem folk e country, mas que se resume naquilo que se acostumou chamar apenas de “rock’n’roll”. E não tá bom demais?

Apesar dessa base, o Valentiger tem seu pé na modernidade. Quer discos com capas, encartes e vinil, ao mesmo tempo que sabe dosar bem suas medidas nas novas tendências digitais e tirar proveito de um mercado que é completamente diferente daquele que foi dominado pelos seus ídolos. Caso contrário, seria difícil chegar aos nossos ouvidos aqui no Brasil (pelo menos por enquanto).

Ainda bem. Ainda bem que esse quadro mudou.

A torcida agora é que a banda chegue de fato ao país, para alguma apresentação. Quem sabe durante os shows que fará com a Some Community no SXSW 2011 pinte o convite e a oportunidade.

Estamos torcendo. Com um pé na realidade.

Floga-se: Valentiger ainda não é uma banda bem conhecida no Brasil. Apresentem-se, então, aos brasileiros. Quem é quem?

Brent: Eu sou Brent Shirey e sou o compositor da banda. Toco guitarra e violão, além de gaita. Sou também o vocalista principal. Nos discos toco um monte de outros instrumentos. Também sou responsável pelas as artes das capas, camisetas, pins e pôsteres. Nos negócios, eu cuido dos direitos autorais. Scott Rider é o baterista, que de vez em quando gosta de cantar. Nos conhecemos desde que éramos garotos e sempre gostamos de fazer música juntos. Scott cuida de toda a promoção e agendamento pro Valentiger, o que não é bolinho pra uma banda do nosso nível, completamente independente. Eric Kehoe é o baixista, e também toca piano. Ele é o mais inteirado em tecnologia e está sempre procurando novos caminhos pro progresso da banda no mundo digital.

F-se: Como e quando o Valentiger começou? E o que esse nome quer dizer?

Brent: A banda existe há uma década. Embora, oficialmente tenha se tornado Valentiger em 2008 e lançado o primeiro disco com esse nome, “Power Lines To Electric Times”, em 2009. O nome é nada mais do que a combinação de “valentine” e “tiger”. Eu dei um presente naquele ano (de Dia dos Namorados), que considerei um “valentiger”, e quando a banda estava a procura de um nome apresentei este pros outros rapazes. Meio que rimos e então percebemos que, pelo menos, não odiamos esse nome como odiamos todos os outros que soavam como um asilo de idosos. Meio que grudou na gente esse nome. Não tem nenhum significado real e é fácil de pesquisar na Internet, ao contrário de nosso nome anterior (nota: a banda se chamava Happy Hour).

Vídeo oficial de “Leaving Town” (de “Power Lines To Electric Times”):

F-se: Do primeiro disco pro seguinte, “Oh, To Know!”, o que mudou no processo de composição? Foi difícil fazer esse segundo disco? Todos conhecemos a tal “maldição do segundo disco”…

Brent: Acho que todos os discos estão solidificados no que fizemos na nossa banda anterior. Nós já havíamos superado esse lance do segundo disco. Entretanto, o que eu achei difícil neste segundo disco é que havíamos nos dado um prazo. Nós fomos escalados pra tocar no SXSW 2011, em Austin, Texas, e realmente queríamos ter um disco pra promover no festival e durante as semanas de turnê que viriam antes e depois. Então, criou-se um calendário e começamos planejar os prazos pras demos, as guitarras bases e baterias, arte e tudo o mais. Foi uma tarefa difícil pra mim, porque simplesmente “sabíamos quando a música estava pronta”, sempre. Costumamos gravar perto de vinte canções e escolher as dez melhores. Mas dessa vez escolhemos dez músicas e gravamos as dez. Isso nos permitiu um esforço maior numa quantidade menor de material, possibilitando o melhor resultado, como se vê nos shows e no disco. Há (em “Oh, To Know!”) uma vivacidade e uma energia que não eram proeminentes em “Power Lines To Electric Times”. É o mais perto dos nossos shows que as pessoas podem conseguir (em disco).

F-se: Algumas pessoas dizem que vocês fazem algo como “country-indie-pop” (“Hard To Let Me Down” é um bom exemplo). Como definir o som do Valentiger? O que cada um ouve em casa? Quais bandas fizeram vocês quererem fazer música?

Brent: Nós costumamos definir nosso som simplesmente como “rock’n’roll”, mas se você se aprofundar, nós temos referências dos anos 60. Nós derivamos de um bocado de melodias e harmonias daquela época, mas definitivamente damos um toque moderno. Acho que as letras e o estilo da minha guitarra são que nos fazem “mais folk” ou “country”. A banda é muito baseada na perspectiva do compositor. Scott é um fã dos Beach Boys e Silver Jews, e Eric demais do Wilco e dos Beatles. Somos grandes fãs de Neil Young e Kinks. Algumas das minhas bandas favoritas são Pink Floyd, Smashing Pumpkins, Pixies, Pavement e REM. Para dizer mais algumas que eu realmente gosto e me sinto influenciado, Replacements, Television, Clash e um bocado das guitarras do começo do Red Red Meat. Digo, todos nós curtimos um artista que pode ser experimental, mas não temos que focar na música deles. Gostamos quando uma canção pode ser destrinchada ao máximo e ainda assim parecer bem boa.

“Hard To Let Me Down”, na série “Field Recording”:

F-se: Como vocês divulgam sua música, em dias em que gravadoras, rádios e álbuns físicos não são mais tão importantes? Há uma fórmula pra isso?

Brent: Sim, é muito importante estar por dentro das novas tendências digitais. Estivemos tateando o iTunes alguns anos atrás e na cola de redes sociais como o MySpace (quando ainda era relevante) e o Facebook. Nossa música rodou no Pandora no começo da década passada, agora está nos carros. Isso tem me deixando louco. Pessoas querem consumir as coisas facilmente e de imediato, sejam boas ou ruins. A indústria da música está começando a parecer um pouco como fast food. E todos estão irritados com isso. Acho que as pessoas voltarão a querer uma capa de disco, encartes e simplesmente a melhor qualidade sonora. Leva um tempo antes de você comer três refeições no McDonald’s num dia e pensar consigo, “eu deveria estar fazendo melhor que isso”. Você tem que simplesmente usar o que está a sua disposição para facilitar o que você tá tentando fazer. E é levar a música pras pessoas. A melhor opção no momento é prensar um disco de 12″ em vinil com um MP3 para download dentro. É o melhor dos dois mundos. Embora o vinil possa ir direto pra prateleira, a capa, as letras e as informações ainda estarão lá.

F-se: O que vocês acham de blogues, mídia social e Internet divulgarem a sua música? E o que acham de pessoas que baixam música de graça?

Brent: Acho demais os blogues e as mídias sociais. Mas tá ficando difícil perceber quando alguma coisa é autêntica nesse vasto mar de conteúdo. O critério de qualidade foi definido por baixo e as pessoas estão aceitando isso. Há muito coisa boa por aí, é só que a confiança e a confiabilidade são cada vez mais difíceis de se encontrar. Mas acho que se você faz as coisas do jeito certo, pessoas reconhecerão um bom conteúdo – se elas realmente procurarem.

F-se: Imaginaria que sua música chegaria tão longe? Como se sente com isso? Há chance de vocês tocarem no Brasil algum dia?

Brent: Oh, sempre há uma chance. O Valentiger é uma banda cheia de surpresas e parece que nós nunca sabemos o que nos espera. Jamais teria adivinhado que poderíamos estabelecer uma conexão com o Floga-se, mas isso não me surpreende, com os longos braços da Internet. Eu fico muito feliz que alguém goste da música e tome seu tempo para acompanhar o que uma banda faz. Significa muito pra gente quando alguém pega o single e acaba conhecendo o que nós somos.

F-se: No Brasil, banda no começo de carreira não pode viver da música propriamente dita. A música paga as suas contas ou vocês tem outros empregos?

Brent: Estamos bem próximos de pagar nossas contas apenas com o Valentiger, mas não chegamos lá ainda. Especialmente nesse momento, quando acabamos de prensar os CDs, vinis, camisetas, pôsteres, pins e financiamos uma turnê de três semanas. Todos temos empregos de meio período pra manter as coisas. Eu dou aulas de guitarra e às vezes trabalho como cozinheiro. Scott é barista e Eric, professor substituto. Senhor K, se preferir.

“Man On Fire”, na série “Field Recording”:

F-se: Seus vídeos são bem simples (como na série “Field Recording”). Dá pra ver que há bem pouco dinheiro envolvido. Como vocês fazem, então? E como surgiu a ideia para a “Field Recording”?

Brent: O Valentiger normalmente faz mais por menos. Mantemos as ideias simples e tentamos manter o foco. Por sorte, todos nós somos apaixonados pela criação em geral, então quando chega a hora de fazer um vídeo, um de nós normalmente tem a câmera ou o equipamento de gravação e assume voluntariamente a frente do projeto. No caso das “Field Recordings”, era um modo de matar o tempo na estrada. Acho que foi uma ideia do Eric em primeiro lugar e foi um jeito da gente oferecer algum material intimista sobre nossa vida na estrada. Também permitiu que as canções do disco pudessem brilhar em sua forma mais crua. Planejamos fazer o mesmo na turnê de “Oh, To Know!”, junto com vídeos de coveres e material antigo. Chris, do (site) HalfWayHouseMusic, virá conosco para rodar os vídeos, assim como documentar nossa turnê e a passagem pelo South By Southwest. Temos alguns “ao-vivo-em-estúdio” no site dele (o Floga-se postou sobre, aqui). Ele fez um trabalho incrível!

F-se: O que conhecem da música brasileira?

Brent: Honestamente, eu realmente não conheço muito. Entretanto, fiquei sabendo que vamos tocar com uma banda brasileira no South By Southwest, a Some Community. É isso? (nota: no Rock n’Beats, o gigante blogue que colaboro com um texto aqui e outro acolá, tá fazendo um diário da turnê da Some Community pelos Esteites; clique aqui para ler)

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