“Gosto de descrever-nos como uma hipalgesia musical porque é bobo, mas meio que é uma ideia bacana”, disse Steven Kane, vocalista, guitarrista, pianista e programador do HAPPY PARTICLES.
Hipalgia, pra quem não sabe, é a diminuição da sensibilidade à dor; e o Happy Particles é um grupo escocês, de Glasgow, formado por Kane, Gordon Farquhar (bateria), Al Doherty (guitarra e baixo), Graeme Ronald (baixo), Ricky Egan (guitarra) e James Swinburne (piano e sax), que lançou em 25 de dezembro de 2011 seu primeiro disco, “Under Sleeping Waves”.
É realmente difícil descrever o quanto esse disco é bonito. Ele começa de certa forma frustrante, um bocado parecido com o Marcury Rev – a voz de Kane é muito parecida com a de Jonathan Donahue – mas logo com “Infinite Jet” e “Slowness” ele engrena de tal forma que você entende a hipalgia: é melhor você desenvolver a capacidade de diminuir sua sensibilidade à dor, caso contrário ficará em frangalhos ao final da audição.
Porque o Happy Particles não tem muito de “happy”, embora não seja exatamente triste, mas é vigoroso nos golpes contra nossa expectativa de melhora dos baques da vida. Não sara, afaga. Não recupera, estimula, o que em muitos casos já é de grande valia.
Alterna entusiasmados esboços de alegria, como as duas já citadas, com aveludadas reflexões sonoras, como “Guide Dogs Of The Inner Cities” e “Offline Contact”, e incríveis peças transbordando melancolia, como as belezas instrumentais de “Reprise” e “Classes In Silence (For Jess)” e as tristes e grandiosas “Come Hom All Dead Ones” e “Empty Circle”.
No final das contas, Kane quis dizer que quanto mais rasteiras você tomar da vida, mais imune à dor você tende a ficar. Não é uma teoria que alguém queira comprovar na prática, mas agora, ao menos, há uma trilha sonora pra ela.
01. Aerials
02. Infinite Jet
03. Slowness
04. Guide Dogs Of The Inner Cities
05. Offline Contact
06. Reprise
07. Come Home All Dead Ones
08. Empty Circle
09. Classes In Silence (For Jess)
10. AM Sky (Bleary)
Ouça a maravilha na íntegra: