J MASCIS NO SESC BELENZINHO – COMO FOI

J Mascis tem história, uma baita história. E não atende só por todo seu currículo com o Dinosaur Jr. como também – e vamos falar só recentemente – por dois bons discos solos lançados nos últimos anos, “Several Shades Of Why”, em 2011; e o belo “Tied To A Star”, de 2014, base pra essa nova turnê no Brasil.

Em São Paulo, ao que consta, ingressos rapidamente esgotados. Era pra ser regra. Pra geração que hoje tem entre trinta e trinta e cinco anos, J Mascis é um dos deuses na terra. Pra esse pessoal que abraça o noventismo com mais paixão do que a própria mãe, os cabelos prateados de Mascis são uma espécie de símbolo daquele tempo, um tempo que significa, de fato, o grande impulso do faça-você-mesmo, semente que hoje a Internet tratou de florescer por todo canto.

Um faça-você-mesmo que criou esse jeitão baixa-fidelidade de gravar, despretensioso e que apresentava um dos seus pilares ali, no palco da comedoria do SESC Belenzinho: J Mascis sozinho, ele, seu violão e uns pedais.

“Tied To A Star” é um disco calmo. Apropriado, pois, ao formato banquinho-violão. E apropriado pro protagonista, tímido que é, econômico nas palavras, com aparente intenção de se apresentar e se escafeder o mais rápido possível dali (no dia-a-dia, ao contrário do que demonstra no palco, Mascis tem fama de brincalhão e boa-praça).

Começa com “Listen To Me”, o que dava a crer que seria um show idêntico ao apresentado durante toda a turnê sul-americana, que havia passado por Goiânia (no Festival Bananada), Rio de Janeiro, Buenos Aires e Santiago. Os setlists são praticamente idênticos. Mas não aqui.

Mascis mudou a ordem das coisas levemente, de modo que na sequência ofereceu “Ammaring” e então mandou “Every Morning”, a primeira extraída de “Tied To A Star” – a melhor do disco, na minha desacreditada opinião. Dele também vieram “Stumble”, “Drifter” e “Heal The Star”.

O disco, apesar de delicioso, não parecia suficiente pra segurar o ímpeto da plateia. Ela queria, é compreensível, Dinosaur Jr. – e Mascis não titubeou em entender e entregar o desejado: “Not You Again”, “Alone” e outras. Fechou com a aguardada versão pra “Just Like Heaven”, do The Cure, isolada no único bis da noite.

Não é um show arrebatador. É um cara sozinho no palco, alternando a delicadeza do violão com os ruídos e sujeiras da guitarra, com quebras às vezes bem estranhas e rupturas que causam desconforto (todo desconforto na música é ótimo, pra falar a verdade, mesmo não sendo proposital). Em muitos momentos ficava a sensação de que falta “um peso”, “uma porrada”, mas evidentemente não era essa a intenção.

Na proposta, beleza, fez da morna noite de sexta-feira algo agradável. Só não foi inesquecível. Talvez seja questão de expectativa alta: a carreira de Mascis promete muito. Mas é uma história que ainda está sendo construída, com obras interessantes, mesmo trinta anos depois de iniciada. Ao contrário dos seus fãs, J Mascis não fica namorando o passado. A gente só espera que ele encontre logo um presente que seja tão relevante quanto.

Veja “Listen To Me”:

E veja também “Every Morning”:

Fotos: André Yamagami

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