JÚLIO FERRAZ – A ILHA DA INCONSCIÊNCIA NO ESPELHO POLIFÔNICO DAS BIFURCAÇÕES DO TEMPO

Júlio Ferraz é um dos caras do Novanguarda, com uma história de vida inspiradora (um cara “salvo pela música”, leia entrevista). Aqui, com “A Ilha Da Inconsciência No Espelho Polifônico Das Bifurcações Do Tempo”, ele chega ao primeiro disco solo.

Lançado dia 4 de abril de 2016, de maneira independente, apresenta nove faixas, todas piscodelicamente e tropicalicamente sessentistas: melotrons, escaletas e Hammonds dominando, junto a guitarras lamuriosas e vocais metálicos. Canções de amor, de paixão. Todas mulheres, as mulheres-personagens de Ferraz.

“O álbum é o primeiro capítulo de uma trilogia, que também é uma espécie de diário dos meus dias. Logo, algumas dessas garotas são de fato reais, outras são personagens fictícios, inspirados em momentos que eu passei, ou que vi acontecer, seja na rua, ou em qualquer lugar que seja”, conta Júlio ao Floga-se. “Os personagens, cada um tem sua própria identidade, personalidade, porém eu entrego muito do que sou derramando meu estado de espírito neles”.

Escolher mulheres como personagens principais não foi exatamente uma busca primária. Júlio conta que sempre foi rodeado de mulheres, desde guri. “Eu por muitos anos morei só com minha mãe e duas primas. Não sei explicar ao certo porque razão usei esse modelo, apenas foi acontecendo e de certo modo eu colocava tudo que eu queria dizer, às vezes uma reprodução do que me faltava nas palavras do dia a dia, de uma conversa comum. Tem muito do que eu sou nisso tudo, mas tento aplicar em um olhar que eu desconheço, que seria o grande desafio, um olhar que sempre esteve presente, e sempre busquei perceber e entender”.

“A Ilha Da Inconsciência…” é um trabalho solo, mas Júlio juntou uma banda competente pra trazer à tona suas acessíveis loucuras sonoras. Ele pensou a princípio fazer um disco sozinho, tocando todos os instrumentos. Mas a limitação vem e perceber isso em si foi o passo essencial pra evolução da ideia. “Então, fui recrutando músicos, convidando pessoas que tocavam instrumentos que eu sabia trabalhar, mas não os tocava de fato, não tinha a prática, e assim a banda foi acontecendo. Nesse disco existe uma banda, mas é tudo gravado separado, fiz célula por célula; então, marcava uma sessão pra cada músico, e terminei com um time muito legal já pra ensaiar o show, pois todos gostaram muito do resultado e da minha forma de produzir”.

“É um disco onde eu me coloco na posição de arranjador, coisas que poucos sabiam que eu tinha um certo domínio disso, de fazer as instrumentações, divisões, etc. Então, foi bem legal, pois pude explorar outros lados meus, não só como guitarrista, ou apenas como instrumentista, mas como regente”, diz.

Júlio escreveu e produziu todo o trabalho, gravado entre 2014 e 2016, no Estúdeio Kaos, por Adriano Leão, com masterização de Yargo Feghali.

Você pode ouvir na íntegra aqui:

“Tudo nesse disco foi completamente proposital. As texturas psicodélicas sempre foi algo que me atraiu muito, e a coisa de gravar no rolo. É um disco que carrega muitas influências, apesar de eu não demonstrar talvez de forma nítida: vai de Caetano Veloso, Rogério Duprat, Frank Zappa, Bob Dylan, muita coisa… Miles Davis, Syd Barret, Mutantes… A lista é enorme, eu sempre estou ouvindo e estudando música”.

Júlio pegou tudo isso e repaginou ao seu modo. É como começar de novo: ouvir, inspirar-se, criar. Nada se cria, etecetera e tals. Eis o porquê do título da obra: “são ponteiros, o não ter medo de ir adiante, de fazer algo novo, isso é a ‘Ilha Da Inconsciência No Espelho Polifônico Das Bifurcações Do Tempo’. São os ponteiros”.

O tempo é importante pra Júlio. A vida passa rápido. Essa fugacidade não é algo que o apavore. É algo que ele reconstrói e dá sentido às coisas que envolvem sua vida – em forma de música.

1. Débora
2. Roberta
3. Lilly
4. Helena
5. Marcelle
6. Beatriz (clique aqui pra ver o vídeo)
7. Cecília
8. Giselle
9. Marina

Foto que abre o artigo: Marina de Azevedo

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