JUNA – MARINA GOES TO MOON (EP)

São apenas cinco músicas, mas “Marina Goes To Moon”, o primeiro EP da dupla gaúcha (de São Leopoldo) JUNA, é um ótimo cartão de visitas. “Prazer, somos a Juna”, dizem Victória Appollo e Thomas Almeida, com essa belíssima coleção de canções, e o ouvinte não só estende a mão e abre um sorriso, como vai ter que se controlar pra não querer abraçar os dois.

Exageros deixados de lado, os dois adolescentes (ela tem 17 anos, ele tem 20) têm de cara uma virtude reverenciável: pegaram um bocado do que foi hypado nesse novo século pelos sites mais “descolados” e transformaram em música boa o que poderia ser uma mixórdia intragável, sem se importar com troços como “originalidade”. De Beach House a Air, passando por The Thrills, Cults e My Bloody Valentine (que em breve período voltou à ribalta), a dupla refinou a máquina de reciclar influências tão ativa neste século (não, não cabe aqui rediscutir a indiscutível-discussão sobre o que é “música original” ou não) e entregou um produto tão inocente quanto reluzente.

Inocente porque com essa idade, por mais que você tenha ouvido, lido e visto, nunca ouviu, leu ou viu o suficiente, o que tira os vícios e sublinha a espontaneidade. Do que se ouviu, leu e viu, Juna empacotou tudo muito bem, desde a capa tirada de “Le Voyage Dans La Lune”, o curta de 1902 de Méliès que todo mundo conhece mas quase ninguém viu, até a deliciosa introdução a la The Thrills em “Prologue” – se a dupla ouviu, se arrepiou e copiou de fato The Thrills, já merece aplausos, oras!

“Marina Goes To Moon”, a faixa-título, é de uma beleza tão acachapante, com sua melodia floreada e o vocal acalentador, que você quer que Marina vá ainda mais longe. O espaço é colorido, tem milhões de cheiros e sabores, ele se torna algo como um “Plunct Plact Zum” indie, psicodélico e fofinho ao mesmo tempo. A personagem vai nesse espaço e vamos juntos. Mas ela volta, e, ainda bem, sua volta também é preciosa: “Aniram” é mais sombria e longa, mas é um complemento perfeito e exigido à canção anterior.

É animador perceber que a dupla não se acomodou em fazer a viagem mais segura possível. Atreveu-se aos sobressaltos, incluindo ruídos, drones, camadas e quetais. Quis incomodar minimamente, flutuar pra além da aprazibilidade da canção formatada.

Eis que “Drop The Satellites” nos empurra na truculenta reentrada na Terra: o barulho, o fogo, o pavor de se dissolver em pedaços, os momentos de tensão e de beleza de se encontrar cara a cara com o desconhecido e o improvável, e enfim a descoberta se deu tudo certo ou não. “Reprise/Two Times” é, então, o epílogo, o fim da viagem.

Juna nos fez chegar sãos e salvos, na torcida pra reembarcar logo e começar tudo de novo.

“Marina Goes To Moon” foi gravado no verão de 2017 (tem, porém, a cara de um verão com aquele vento polar volta e meia), em São Leopoldo, cidade da dupla, com produção, mixagem e masterização da própria banda, no Estúdio Buraco Negro. As composições são da dupla.

Há duas participações: Daniel Rosemberg, guitarra solo na faixa-título, e Clandio De Bem, no baixo de “Prologue”.

O disco tem a assinatura do selo local Lezma Records, o mesmo que lança a ótima (e uma das preferidas aqui da casa) Siléste. O lançamento é do dia 5 de fevereiro de 2017.

1. Prologue
2. Marina Goes To Moon
3. Aniram
4. Drop The Satellites
5. Reprise/Two Times

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