REVISITANDO: KAOU DIARRA – FATOUMATA (2012)

“Fatoumata” tem data, tem procedência, tem identidade, nacionalidade, mas não tem história. É curioso. “Fatoumata” é uma obra de 2012, de Kaou Diarra, um griô mali (de Bamaco), que foi lançado pela francesa Discobox em 11 de setembro de 2012.

São quatro temas de mais de doze minutos cada onde Diarra conta histórias de seu mentor chamado Fatoumata, acompanhado apenas de seu ngoni e de uma certa Penda nos vocais e no estalar os dedos. As histórias são contadas/cantadas em árabe, francês e algum dialeto local não identificado.

O ngoni é um instrumento de cordas, geralmente três, em corpo e braço de madeira, usado pelos griôs pra musicar suas histórias. É bem comum na Mauritânia e no Mali. É um ancestral do banjo, mas seu som é mais oco e sem alcance. Daí que “Fatoumata” é uma curiosa mistura entre um blues primitivo e um rap cru, uma música falada com inserções melódicas durante a execução, em refrões repetitivos e intercalados. Os temas apresentados se baseiam em notas circulares, que possibilitam uma distante, porém válida, relação com o kraut.

A grande questão é: quem seria Kaou Diarra? Há pouco ou quase nenhuma informação sobre ele. O Google quase não retorna resultados sobre o Diarra cantor, mas sobre um bocado de outros Kaou Diarra, um nome aparentemente bem comum. Por outro lado, há uma boa quantidade de vídeos e áudios no YouTube com músicas do artista, incluindo o que parece ser o mais recente lançamento, de 2017 (vá a um deles aqui).

Nem mesmo com o selo é fácil conseguir contato. O Discobox Music, de Paris, França, não tem conta ativa em redes sociais, não tem site, não tem e-mail pra contato, mas sua página no Bandcamp é um deleite pra descobrir sons “africanos e afro-caribenhos”, como a descrição ressalta. Há discos maravilhosos de Jospeh Cotton, Titan Wann (ouça aqui), do grande Baba Gallé Kanté (ouça aqui, um “samba com flauta” da Guiné) e muitos outros.

O que faz de “Fatoumata” algo ainda mais singular. O mistério em torno do artista, da obra e do selo, oferece ao ouvinte não só uma música deliciosamente hipnótica, como joga uma luz no alcance menor da rede mundial de computadores. Nem tudo está na Internet. Diarra segue fazendo sua música, Penda segue a seu lado, e ele, pelo o que se ouve no YouTube, acrescentou novos instrumentos à sua criação. Ou seja, ele existe, está por aí, mas por algum motivo é difícil conhecer mais sobre ele.

Seria interessantíssimo entrevistá-lo, saber mais sobre sua música, sua obra, sua biografia. O griô também pode virar história. Por ora, “Fatoumata” é sua identidade.

1. Fatoumata part 1
2. Fatoumata part 2
3. Fatoumata part 3
4. Fatoumata part 4

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