MEDIALUNAS – INTROPOLOGIA

A Medialunas é a dupla formada por Liege Milk e Andrio Maquenzi, o casal 20 do “grunge brasileiro” (entre aspas porque, bem, a banda não se resume a isso, como se verá aqui). Depois de bons singles lançados em 2011 e 2012, a banda finalmente chega ao primeiro disco cheio, “Intropologia”.

São doze faixas, algumas delas, como “Humming”, “Slo-Mo Dancer”, “Chunby” e “Colorful”, já bem conhecidas.

A gravação, segundo Liege, foi toda “em casa”: “inicialmente, tínhamos gravado com bateria eletrônica, aquelas de padzinho, sabe? A execução é normal, mas os timbres eram escolhidos digitalmente. Lembrei de quando começaram a surgir os primeiros discos ‘remasterizados digitalmente’, ali no final dos 90, inicio dos 00’s”, ri. O Andrio gravou as guitarras da mesma forma… Sem amplificador, com os timbres escolhidos digitalmente também – engraçada essa palavra”, diz ele, referindo-se a “digitalmente”.

“Resumo da história: o disco tava pronto em maio, mas eu não gostei da bateria. Sei lá… Tava tudo tão bonitinho, não tinha erro, não parecia ter dinâmica, não parecia eu (reforça o “não parecia eu”). Eu não tenho técnica. Eu dou caixada errada, eu oscilo pacas o tempo! Senti falta do som orgânico, de som ambiente, da reverberação dos tambores numa sala, das imperfeições. ‘O rock é imperfeição’ – eu nunca discordo do Dave Grohl”, conta Liege, que completa: “eis que num belo dia, eu cheguei ao trabalho do Andrio, no Coletivo 4’33, e disse isso pros guris Valmor Pedretti, Brenno Di Napoli e Thiago Grün. Pra não ter de regravar vozes, guitarras, firulinhas, tudo de novo, eu teria de tocar com o maldito metrônomo. Nunca me entendi com esse bicho aí, mas se era isso que eu tinha que fazer, vamoaê!”.

“Daí marquei seis horas no Estúdio Ampola, estúdio que é praticamente meu segundo lar, com a bateria que aprendi a tocar, dos queridos amigos Lauro e Felipe, nos fundos da casa deles, e os meninos do 4’33 levaram todos seus microfones e aparatos gravatórios, e encarei a maratona de gravar onze músicas em mais ou menos quatro horas, com a bosta do metrônomo. Ouvi só por uns minutos e mentalizei: ‘você vai ver só, seu fdp. você não me pega!’ e foi que foi. De lá pra cá, foi uma questão do Andrio e do 4’33 ajustarem a mix, masterizar e cá estamos. Parindo o filho, como ele tinha que ser. Natural. Cru. Como a gente é”, conta.

A capa também tem uma história bacana. Ela foi feita pelo amigo da banda, Fabio Vieira. Liege o considera um “artista de mão cheia”, um “gênio de nascença, irmão de alma”. “Ele sacou na hora a essência do que pensávamos e já no emocionou desde o rascunho. Queríamos uma capa como a capa do ‘Dookie’, do Green Day, que achamos fascinante: até hoje a gente olha pra ela, e encontra um detalhe a mais que não tínhamos percebido nas antigas. Algo simples e rico em referências. Referências do que somos. Do que vivemos (…) Foi tudo feito a mão e com muito amor. Com muito cuidado. E ninguém mais cuidadoso e caprichoso do que o Gunther Natusch, outro grande amigo, pra finalizar a coisa digitalmente. Duas feras!”.

Sobre o nome, é curioso notar que “Intropologia” não aparece na capa – é pra confundir mesmo. Liege conta como surgiu o título: “palavra que eu acho que não existe, que soltei um dia desses sem querer. Que é o que esse disco reflete: um estudo antropológico de nossas essências. Um processo de conhecimento mútuo, um do outro, juntos, pelo qual passamos desde que resolvemos resolver nossos problemas dentro de um estúdio, musicalmente. Depois de anos resolvendo as coisas como um casal normal, com DR’s e conversas chatas pra caralho”.

O ouvinte atenta perceberá que a banda se enveredou pelo espanhol em algumas canções. Causa estranheza, já que a dupla se baseia nas guitarras noventistas de grupos estadunidenses, embora o nome Medialunas já seja uma aproximação. Liege explica: “fomos tocar no Uruguai em novembro do ano passado e ficamos muito frustrados por não conseguir nos comunicar 100% diretamente e claramente com os caras que moram aqui do lado. Acreditamos na música como um instrumento de quebra de barreiras. A voz como apenas mais um instrumento dentro dela. O nome Medialunas vem das Medialunas argentinas, pelas quais nos apaixonamos quando fomos pra Buenos Aires. Eu, particularmente, queria muito compor em português. Mas não consigo! Isso é com o Andrio. Mas ao mesmo tempo, não queria ficar compondo só em inglês. A ideia é compor em tudo que o Google Tradutor ajudar. Ou até mesmo criar um idioma, como o Sigur Ros faz. A voz é só mais um instrumento”.

Ela ainda faz questão de corrigir o escriba aqui, com precisão. “Não nos identificamos apenas com bandas estadunidenses. Gostamos muito também de El Mato A Un Policia Motorizado, Fun People, Impermeables, Gepe… E várias outras bandas hermanas!”.

E pode-se ir além, pra escapar da pecha de “grungeiro”. “Memorabilia” é My Bloody Valentine descarado: “a bateria é um sampler da ‘Soon’, do My Bloody, sim. homenagem pura”, avisa Liege.

O disco está disponível na página da dupla na Trama Virtual. O download não vai lhe custar nada. Uma versão física deve sair ainda em 2012 ou no começo de 2013. Mas aí é um esforço mais amplo, em conjunto com um bocado de gente boa, com os selos Balaclava (SP), Transfusão Noise Records (RJ), Punch Drunk (RS), Rajada Records (PA) e Fora do Eixo.

Você pode ouvir na íntegra aqui:

01. Arboles De Navidad
02. Humming
03. Slo-Mo Dancer
04. No Te Va Gustar
05. Chester, Cheese and Onion
06. Rotten Peaches
07. Memorabilia
08. Chunby
09. Frames
10. Colorful
11. Conversando Com Os Meus
12 (faixa escondida) Marillou-Crownby

Veja a dupla tocando “Rotten Peaches” de uma maneira intimista (“na casa do Gringo” Victor V-B):

As fotos deste post são de autoria de Liege Ferreira e Theo Portalet

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Comentários

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10 comentários

  1. Curti. Manda a música reta, sem frescura, direto no ponto, sem ficar com ondas “modernosas” nem se esconderem atrás do rótulo “lo fi”. Apesar do espanhol soar meio canastrão às vezes, é o tipo de som q funciona tanto ao vivo qto pra ouvir em casa (pra mim, pelo menos). Galera tá de parabéns.

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