MINISTRY NA AUDIO CLUB – COMO FOI

“The Land Of Rape And Honey”, de 1988, “The Mind Is A Terrible Thing To Taste”, de 1989, e “Psalm 69”, de 1992, são os discos que fizeram o Ministry “explodir”. Juntos, venderam mais de dois milhões de cópias só nos Esteites. Depois deles, nunca mais conseguiram ver a caixa registradora computar tantas vendas. Mas o estrago estava feito. Ministry era a banda perigosa a se admirar. Sucesso inclusive aqui no Brasil, com uma boa base de fãs.

Curiosamente, nunca veio se apresentar por cá. Apesar das tentativas, e da vontade de Al Jourgensen vir pro país, isso nunca aconteceu. Até essa sexta-feira, dia 6 de março de 2015. Show único, antes de uma volta pela América do Sul, vinte e sete anos depois do “auge” (a banda segue lançando discos, o mais recente é “From Beer To Eternity”, de 2013).

Era de se esperar uma loucura desenfreada pra vê-los. Não foi exatamente o que aconteceu, mas a resposta foi boa.

Nem a chuva que caiu pesada na noite de sexta-feira, parecendo atender a todas as rezas do governador de São Paulo, atrapalhou a peregrinação à Audio Club. Era um momento, digamos, histórico. A chuva mesmo só fez o show atrasar um tanto o seu começo. Quem esperou duas décadas, espera uma hora a mais.

O colaborador Marco Antônio Lopes foi um dos que esteve lá e, literalmente, sobreviveu pra contar história. É o relato de um fã daquela banda no auge, e de alguém que sabe que o tempo passou – pra todos, Jourgensen e público. O tempo traz maturidade e sapiência, mas nem por isso essa estreia do Ministry no Brasil foi menos divertida e insana.

Ministry economiza na munição e dá uma travada na guerra civil
Texto: Marco Antônio Lopes
Foto: Sabina Koenig

Quem gosta conhece o esquema: shows do Ministry rendem pancadaria, pogo violento, mosh e, se a plateia estiver mais empolgada, briga de torcida, assassinatos, esquartejamentos, decapitações. Como mistura metal pesadão com harcdore e industrial, esses impulsos pra luta livre desenfreada aumentam. Quando eles tocam os hits, os fãs tentam se trucidar a cada “fuck” soltado das estranhas do vocalista Al Jourgensen. Em São Paulo, na Audio, o clima do primeiro show do Ministry no Brasil parecia prenunciar tudo isso. Mas Jourgensen, de dreadlocks, coque, camisa do Che Guevara (é, foda-se), cavanhaque e cara de quem deu uma exagerada nas plásticas – fora o visual combalido de quem saiu na semana retrasada da clínica de reabilitação –, achou melhor não mexer com o perigo e deu uma economizada nos hits.

O Ministry abriu com um punhado de músicas dos discos de 2013 (“From Beer To Eternity”), 2006 (“Rio Grande Blood”) e 2007 (“The Last Sucker”), com aqueles rifes chapados de metal tipo Slipknot e White Zombie, efeitos visuais meio chinfrins no telão, pra babação da plateia, formada, na maior parte, por fãs de 30, 40 anos ou mais. Como em todo show do gênero, a Audio ficou parecendo presídio em dia de visita, com internos vestindo camisetas da Galeria do Rock. Havia também os arroz-de-festa nesses eventos, aqueles caras que parecem vikings, mas que na real são dos Abutres ou afins.

A certa altura, parecia que era o Slipknot mesmo no palco. Houve quem bocejasse. Então, tirando “Rio Grande Blood” e “LiesLiesLies”, mais conhecidas, que fizeram os fãs começarem a se estapear, mas de boa, sem machucar, o show transcorria numa placidez de apresentação de banda de boteco que toca cover do Skid Row e Iron Maiden (“argh” duas vezes).

Mas aí começram os acordes de “N.W.O” e iniciou-se o que se pode ver em “In Case You Didn’t Feel Like Showing Up” (1990), o disco ao vivo lançado em DVD em que o grupo toca com uma cerca gigante na frente do palco, como se estivesse dentro de uma jaula. A plateia, nesse disco, é assassina: sobra porrada pra tudo quanto é lado, em meio aos principais hits. Lindo, memorável, punk. A Audio ensaiava essa delinquência esbaforida. Aumentou em “Just One Fix”. E chegou ao auge, à catarse sem noção, com “Thieves”.

Foi então que, diante do pedestal com caveira (fiz agora o símbolo do metal agora com as mãos), Jourgensen, vendo as dancinhas truculentas virarem porradaria e guerra civil na frente do palco, decidiu agir. No que parece ser uma fase “paz e amor” do cara, Al terminou “Thieves” e pediu calma aos presentes. O pior (ou o melhor, depende do ponto de vista) é que foi atendido.

Na música seguinte, o megafucking sucesso “So What”, o povo das camisas pretas e barba de viking seguiu as orientações do cara. Não teve mais roda sendo aberta de porradaria na plateia. O povo decidiu apenas gritar e pular mesmo. Na vertical, e olhe lá.

Como eu estava perto dos black-blocks do show, até achei melhor mesmo. Já tava imaginando saindo da Audio num veículo do Samu. Mas o ruim foi que não teve mais hits. Não rolou “Stigmata”, com seus dez minutos de explosão e baixo vulcânico, nem os “fuck you, fuck me, fuck everyone, fuck jesus, fuck mary, fuck bush” regulamentares dessa letra. Nem “Burning Inside”.

Para evitar o pior, Jourgensen paz e amor saiu rapidinho do palco, antes que um atentado terrorista rolasse ali. De qualquer forma, a sequência final dos hits elevou a temperatura. Só deu uma travada nos ímpetos homicidas da plateia. Mas curti o show. Fui feliz e sem sequelas, de carro, pra casa. O meu mesmo, e ouvindo Ministry.

01. Hail To His Majesty
02. Punch In The Face
03. PermaWar
04. Fairly Unbalanced
05. Rio Grande Blood
06. Señor Peligro
07. LiesLiesLies
08. Waiting
09. Worthless
10. Life Is Good
11. N.W.O.
12. Just One Fix
13. Thieves
14. So What

BIS
15. Khyber Pass

Veja como foi “So What”:

(vídeo por Jader Moreira)

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. sei la…
    li em outros blogs por ae que seria “o show” do ano!
    pelo que entendi, eles começaram a ficar velhinhos!

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