OS DISCOS DA VIDA: ALL FOLKS FEST

O All Folks Fest chega à quinta edição no dia 29 de junho de 2013. À quinta!

Pra um festival que não tem nenhum apoio financeiro e que celebra um estilo que foge do oba-oba dos indies-festivos, chegar à meia dezena é um feito e tanto.

A brincadeira começou em 2011, quando rolou, em novembro, a primeira edição. De lá pra cá, as escalações tiveram L’Avventura, Theo, Lestics, The Outside Dog, Phillip Nutt, Caio Corsalette & Dollar Furado, Johnny Fox, Phillip Long, Rafael Elfe, Gilmore Lucassen, Monoclub, O Bardo & o Banjo, Pedro Pastoriz, Leprechaun e Mustache e os Apaches.

Todas as edições aconteceram no belo Centro Cultural Rio Verde, um espaço cultural na Vila Madalena, bairro boêmio (e baladeiro) de São Paulo, que mais parece um sítio – é daqueles lugares que fazem você esquecer que está numa cidade de mil e quinhentos quilômetros quadrados de estresse e loucura, nada mais apropriado pra um festival que entrega música folk.

Os responsáveis pela façanha de manter ativo tal evento por (até aqui) cinco edições são Pedro Gama e Amanda Mont’Alvão.

Ele é responsável pelo vocal e violão da The Outside Dog, banda que está na quinta edição do festival e participou de todas as outras. Além de Pedro, a banda, que é de São Paulo, tem Rafael Elfe (voz, violão e banjo), André Sanches (baixo acústico e elétrico), Ciro Jarjura (harmônica) e Mateus Polati (bateria e percussão). O trabalho mais recente é o EP “Outros Caminhos – Parte I” (ouça na íntegra aqui).

Ela é jornalista, escreve no ótimo Suppaduppa (um dos sites preferidos aqui do Floga-se), é responsável pelo Mixtape Heartbeat e faz parte do time do podcast “O Resto É Ruído” (no qual o Floga-se também se infiltra).

Pra marcar a quinta edição (cujo serviço taí embaixo e que carrega o clima de Festa Junina, com várias brincadeiras referentes), o Floga-se abriu espaço na coluna “Os Discos Da Vida” pra que ambos pudessem elucidar quais os álbuns que conduziram a vida deles a essa empreitada. O resultado é surpreendente, tanto na lista dele, quanto na dela.

Os caminhos que levam ao folk, pra esses dois abnegados, são tortuosos e empolgantes.

All Folks Fest – 5ª Edição (edição junina)
Dia: 29 de junho de 2013 (sábado)
Abertura da casa: 22:00h
Início dos shows: 23:00h
Local: Centro Cultural Rio Verde (Rua Belmiro Braga, 119, Vila Madalena, São Paulo)
Ingressos (as entradas só serão vendidas na hora): R$ 20,00 até meia-noite; e R$ 25,00 após a 0:00h
Bandas: O Berço, Benjamim e The Outside Dog
Censura: 18 anos
Mais detalhes sobre a quinta edição: clique aqui

PEDRO GAMA

Led Zeppelin – “Led Zeppelin II” (1969)
Meus primeiros álbuns foram da tríade do rock (Zeppelin , Purple e Sabbath), mas aquele que realmente “grudou nos ouvidos” foi o segundo trabalho da melhor banda de todos os tempos. “Whole Lotta Love”, “Heartbreaker”, “Living Loving Maid”, uma porrada atrás da outra e pronto: decidi comprar a primeira guitarra!

Ouça “Heartbreaker”:

Metallica – “Master Of Puppets” (1986)
Parece que depois do rock entrar na sua vida, quanto mais guitarras, distorção e rebeldia melhor. Esse álbum me levou a conhecer o heavy e o trash metal e fez com que me escondesse atrás da vasta cabeleira durante muito tempo. Maiden, Slayer, Megadeath e Motorhead me foram apresentados e, por consequência, as camisas pretas invadiram o armário.

Ouça “Master Of Puppets”:

AC/DC – “Back In Black” (1980)
Clichê ou não, lembro que, quando comprei esse disco, o que mais me impressionou foi o contraste da capa e contracapa pretos com o disco em si: o mesmo era rosa! Rosa? Rosa! Esses australianos realmente têm colhões. O disco é um “Best Of” por si só de fazer inveja a muita discografia de banda por aí. É do tipo “aumenta o som, abre uma cerveja e divirta-se”.

Ouça “You Shook Me All Night Long”:

Van Halen – “Best Of Volume I” (1996)
Bem, não é exatamente um álbum e sim uma compilação das “melhores faixas”, mas pra mim isso é infância. Esse disco foi lançado em 1996 e me lembro que em 98 meu pai e eu ouvíamos isso no repeat todos os dias que andávamos de carro. Pra escola? Van Halen! Viajar? Van Halen! Supermercado? Ahnnn… Van Halen! Depois disso, tudo que você quer é uma guitarra com alavanca pra poder fazer os solos mais malucos – mesmo que eles nunca soem como os originais (como no meu caso).

Ouça “Jump”:

Zakk Wylde – “Book Of Shadows” (1996)
Como sempre fui um grande fã do Ozzy Osbourne, acompanhei também os trabalhos paralelos dos membros de suas bandas. No caso do Zakk Wylde, a Black Label Society era minha predileta até esse álbum aparecer na minha vida. Junto às guitarras e distorção, violões de aço, gaitas e pianos compõem esse disco. As harmonias feitas com duas ou três linhas de violão tinham o mesmo peso das guitarras plugadas de antes. Hoje eu vejo que esse álbum definiu muito do meu gosto musical atual.

Ouça “Way Beyond Empty”:

Bruce Springsteen – “We Shall Overcome: The Seeger Sessions” (2006)
Em 2005, tive a oportunidade de ir pra Argentina com alguns amigos e em um dos dias, enquanto todos foram visitar o estádio do Boca, eu (que prefiro peteca a futebol) fui me perder pela cidade. Numa dessas esquinas, uma charmosa loja de discos/livraria/café me chamou atenção, e depois de cinco minutos de papo com o vendedor, ele me apresenta esse álbum. Perguntei com desconfiança: “esse não é o cara dos tecladinhos?”; “esse mesmo, só que ele está tocando música folk!”. Pronto, minha vida toda mudou. E mal eu sabia que compraria um violão de aço ainda nessa viagem, que venderia minhas guitarras dentro de seis meses, que me tornaria fã incondicional do “cara dos tecladinhos” (Sim! amo todos aqueles teclados), que o rock daria lugar pro folk… Sim, eu devo tudo a um álbum de coveres!

Ouça “Mrs. McGrath”:

Neil Young – “Harvest” (1972)
Vamos começar com o pé direito. Antológico, único, sensacional, obrigatório e um “muito mais” de coisas faz desse disco uma audição obrigatória pra quem quer um dia compor, tocar e escrever qualquer coisa relacionada à música folk, ou até mesmo à música em geral, eu diria. Tirei todas as músicas desse disco na época e foi uma lição difícil e altamente recompensadora.

Ouça: “The Needle And The Damage Done”:

Bob Dylan – “Blood On Tracks” (1975)
Cada fã tem um álbum desse gigante como preferido e todos têm argumentos incontestáveis do porquê esse ou aquele disco é o mais emblemático ou fundamental de sua obra. A verdade é que todos estão certos, mas independente dos meus argumentos, meus ouvidos e sentimentos colocam esse clássico como a melhor coisa que ele fez em toda sua carreira. Um álbum feito à base de um coração partido (acho que não há combustível melhor), que cansou de rodar dentro do meu som incontáveis vezes.

Ouça “Shelter From The Storm”:

Jakob Dylan – “Seeing Things” (2008)
Do mesmo artista não pode, mas acho que da mesma família não tem problema. Não tenho nenhum argumento pra colocar esse disco nos 10+ da minha vida e também nenhum pra tirá-lo. O que sei é que ele me acalma de uma maneira única, e este é um álbum que deveria ficar dentro daqueles vitrais com o escrito “Quebre aqui em caso de emergência”. Eu uso ele com moderação pra justamente não perder essa magia.

Ouça “I Told You I Couldn’t Stop”:

The Avett Brothers – “Emotionalism” (2007)
Essa é minha banda de cabeceira. Tenho tudo em formato físico e digital e é impossível nomear um disco que seja meu preferido. Coloquei o “Emotionalism” porque foi o meu primeiro, um presente (de alguém muito especial) que definiu tudo que eu entendo hoje por “música de alma”. Tudo que esses dois irmãos da Carolina do Norte fazem é de extremo bom gosto e uma vez que você se propõe a ouvir sua obra, se prepare pra adquirir um novo vício! Não importa se você buscar os últimos álbuns produzidos pelo Rick Rubin, a época que eram de um pequeno selo, ou mesmo as demos e gravações caseiras com timbres e qualidade terrível, o embrião da honestidade e da crença no que fazem está em cada um desses registros. Uma música que cura e que recupera a fé!

Ouça “The Ballad Of Love And Hate”:



AMANDA MONT’ALVÃO

Ramones – “Brain Drain” (1989)
Ganhei esse disco no meu aniversário, dado por um legítimo fã da banda – até o cabelo era cortado igual. Fico lisonjeada até hoje, pois interpretei o presente como um cartão de visitas pra um mundo novo. Eu tinha 13 anos, devia ser a primeira festinha em que eu convidava os meninos (não só as meninas) e ainda podia substituir os Cheiros de Amor, Evas, Shakiras e Netinhos por 30 minutos geniais. Eu ouvia claramente os pratos da bateria em “I Believe In Miracles” e a caixa fortemente socada em “Zero Zero UFO”; o disco já tinha me ganhado nas duas primeiras músicas. “Punishment Fits The Crime” permanece minha favorita dos Ramones mais de 10 anos depois.

Ouça “Punishment Fits The Crime”:

Pearl Jam – “No Code” (1996)
Lá pelos 14 anos, comecei a comprar todos os discos do Pearl Jam e a ler tudo sobre eles e o tal do grunge. Não me sentia confortável em colocá-los no saco “grunge”, porque eles sequer soavam como o Mudhoney, e isso ocorria em uma época em que 11 em cada 10 críticos enfatizavam que o Pearl Jam era a mais superestimada das bandas daquela “cena”. Quando eu comprei o “No Code”, fiquei incomodada com minha dificuldade em rotular aquelas músicas, tão distintas entre si. Meu repertório era basicamente formado por verso-refrão-verso-refrão-ponte, e aí apareciam músicas como “Who You Are”, “In My Tree” e “Lukin” pra desestabilizar minha percepção. Foi então que as peças se encaixaram e fizeram completo sentido: o Pearl Jam vinha de berço grunge, mas tinha largado a sonoridade já no segundo disco. Tendo isso em mente, as experimentações com outros arranjos ou melodias me soavam bem naturais, o que fez com que eu abraçasse a banda com ainda mais admiração. Foi também com esse disco que eu comecei a cair de amores por músicas com andamentos imprevisíveis, anti-clímax e afins.

Ouça “Who You Are”:

Cap’n Jazz – “Analphabetapolothology” (1998)
Jimmy Eat World, Get Up Kids, Sunny Day Real Estate e Further Seems Forever já tinham pavimentado meu gosto pelo emo na adolescência, mas foi o Cap’n Jazz quem me mostrou que esse meu relacionamento com a sonoridade seria de amor de vida longa, e não de paixão fugaz. Até hoje me emociono quando abro essa coletânea de 1998 e vejo as fotos dos irmãos Tim e Mike Kinsella tocando na sala de aula do colégio. São adolescentes tocando pra adolescentes uma explosão criativa de angústia, impaciência e desconforto catalisados em canções como “Little League”, “Oh Messy Life”, “Ooh Do I Love You” e “Basil’s Kite”. Começava, então, meu encantamento por músicas com tempos completamente quebrados.

Ouça “Oh Messy Life”:

Elvis Costello – “When I Was Cruel” (2002)
Em 2003, me mudei pra Londrina, pra fazer faculdade, e fiquei encantada com a maneira como a cidade me inspirava musicalmente. Muito disso estava relacionado ao fato de eu ficar andando pra cima e pra baixo com meu discman (vulgo bolachão da Aiwa) e de, já na primeira semana, ter comprado esse Elvis Costello numa loja porque eu simplesmente estava com vontade de comprar um CD. Claro que esse não é um registro perfeito como o “My Aim Is True”, mas é aquele que me reconciliou com esse outro rei Elvis, já que eu tinha (tenho) uma birra gigantesca de “She”. Esse disco é meu reduto de sofisticação e ironia preferido, e “When I Was Cruel” desbanca “Sexual Healing” no quesito música sexy.

Ouça “When I Was Cruel”:

Beastie Boys – “Licensed To Ill” (1986)
É raro eu considerar o primeiro disco de uma banda como o mais importante, mas minha relação com os Beastie Boys de fato parte desse álbum de estreia. Primeiro porque me soa muito simpático uma banda sair do hardcore e adotar uma sonoridade completamente nova e fresca, ainda mais quando o nome (Beastie Boys) foi escolhido justamente pra ter as mesmas iniciais que os ídolos Bad Brains. Cheio de graça e de ironia, o “Licensed To Ill” fez com que eu me apaixonasse por bases rítmicas feitas a partir de outras músicas, treinando o ouvido e abrindo caminho pra preciosidades posteriores como o “People’s Instinctive Travels And The Paths Of Rhythm”, do A Tribe Called Quest.

Ouça “No Sleep Till Brooklyn”:

Portastatic – “Summer Of The Shark” (2003)
Um amigo de infância gravou esse Portastatic pra mim e fiquei impressionada: as músicas eram muito adoráveis, e eu podia ouvir o disco em volume alto sem queixas das minha colegas de pensionato. O mais bizarro é que esse projeto paralelo do Mac McCaughan me redirecionou pra banda principal dele, o Superchunk, e despertou a curiosidade por aquilo que, com bons olhos, era chamado de indie. Comecei a ouvir tudo do catálogo da Merge Records, e aí, o “estrago” já tava feito. Eu, que já gostava um bocado de melodias e arranjos baseados em pianos, violinos e trompetes, deitei e rolei com esse disco, ainda mais que ele parecia uma trilha sonora particular, se encaixando perfeitamente nos quatro anos da faculdade.

Ouça “Paratrooper”:

One Last Wish – “One Last Wish” (1986)
O One Last Wish é aquilo que chamamos de intervalo, rito de passagem: com o Guy Picciotto e o Brendan Canty na formação, a banda surge do fim do Rites Of Spring e se transforma no embrião do Fugazi. Quisera eu que toda entressafra de bandas resultasse em um disco como esse. Aqui está a síntese melódica de nossas melhores heranças dos anos 80, com aquele registro espontâneo e fulminante típico da recém terminada cena hardcore americana. Emocionalmente, foi um disco importante pra eu aprender que finais e separações nem sempre deixam um resíduo negativo.

Ouça: “My Better Half”:

Neil Young – “Harvest” (1972)
O folk se consolidou como uma sonoridade querida no meu repertório a partir de artistas mais recentes, como o Bonnie Prince Billy, Sean Beam ou David Bazan, e de preciosidades como o Loudon Wainwright III e o Townes van Zandt. Mas foi o “Harvest”, do Neil Young, apresentado pelo Pedro, que me trouxe o assombro com a “Americana”. Nesse disco da década de 70, que soa como se fosse de 80, ou de 90, ou dos anos 2000, fica claro que o folk é atemporal e perfeitamente ajustável aos anseios de qualquer geração. E por mais que tenham surgido subvertentes polêmicas como o freak folk (se você pensar em Devendra Banhart, CocoRosie ou Joanna Newsom), e elas tenham se espalhado com ênfase nos idos de 2002-2007, não dá pra aplicar qualquer sentido de modinha a uma sonoridade que se baseia no violão, este que é usado por 9 entre 10 pessoas como primeiro contato com a música.

Ouça: “Heart Of Gold”:

Black Flag – “My War” (1984)
O Black Flag representa muito bem uma teoria que tenho de que os discos merecem nossa maturidade. Tentei ouvir o “My War” aos 16 anos, época em que fiquei viciada nos hardcore melódicos mela-cueca dos vídeos de skate, mas imagina, achei aquilo tudo muito amargo, nervoso demais. Eu queria glicose e estavam me oferecendo jiló. Lá por 2003 eu peguei pra ouvir de novo, mas era época de encantamento com os artistas da Merge, 4AD, Kill Rock Stars, e aí não encaixava. Anos depois, 2009, já morando em São Paulo, o ritmo de vida era outro e eu já não tinha tempo de ter a mesma relação contemplativa que o tempo me permitia ter com os discos. Melvins, por exemplo, fazia muito mais sentido. Mas peraí, tem um disco que vai sublimar ainda mais esse estado nervoso. E aí, o “My War” vestiu meus ouvidos feito luva. Admiti pra mim mesma que a agressividade como estética e como arte dialogava muito bem comigo e sanava algumas questões internas em que você precisa adormecer o monstrinho dentro de si pra conviver pacificamente em sociedade, principalmente naqueles momentos em que se deseja ter posse de arma a cada vez que te empurram no metrô.

Ouça “My War”:

Sufjan Stevens – “Illinois” (2005)
Arrisco dizer que “Illinois” é uma obra-prima, fruto bem resolvido do cérebro fervilhante do demente Sufjan. Porque só mesmo uma pessoa fora da curva pra compor dezenas de músicas e esse jorro criativo ser tão bom qualitativamente quanto em quantidade. O bom do “Illinois” é que ele dispensa modéstia, pois não carrega a pretensão e a grandiloquência como fardos, mas sim como trunfos. É um disco que promete beleza e cumpre do começo ao fim. Considero o Sufjan o principal narrador da geração dos anos 2000, e fico perplexa com a capacidade dele de se reinventar. O “Illinois” exerce pra mim um papel de nivelamento básico de qualidade, de educação de ouvidos: depois de ter acesso a ele, fica impossível acreditar em certas mediocridades indie por aí.

Ouça “The Predatory Wasp Of The Palisades Is Out To Get Us!”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: La Cumbuca”.

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