RESENHA: VAMPIRE WEEKEND – MODERN VAMPIRES OF THE CITY

RITO DE PASSAGEM

O melhor jeito de começar a ouvir o terceiro disco do Vampire Weekend, “Modern Vampires Of The City”, é por “I Think UR A Contra”.

Não estranhe. A canção que fecha “Contra”, o disco anterior, de 2010, encaixa-se perfeitamente com a abertura do novo trabalho, “Obvious Bicycle”. Faça o teste, ouça ambas em sequência no seu tocador de MP3. “I Think UR A Contra” avisava: “você queria boas escolas, amigos com piscinas / você não é um revolucionário / nunca tome partido, nunca encolha um dos dois lados”. É um rito de passagem: as responsabilidades da idade adulta chegam pra todos e não adianta mais ser um revolucionário como se posava na juventude. A fase passou.

“Obvious Bicycle” começa avisando que “a manhã chegou, você vê o sol nascer / e tem que poupar seu rosto da lâmina / porque ninguém vai poupar o tempo pra você / ninguém vai ficar olhando você partir / de uma casa que você não construiu e não controla / já fazem vinte anos e ninguém te contou a verdade”. Você vai ter que aprender tudo por conta própria. O pessoal do Vampire Weekend se meteu nessa e se vira como pode.

Do primeiro disco, homônimo, de 2008, um sucesso surpreendente, que fez a alegria de indies-festivos, quando os integrantes da banda ainda eram muito jovens, beirando os vinte anos, até aqui, muita grana rolou nessa conta bancária, e muita porrada no rosto, é provável. Não é assim com todo mundo? Pelo menos a parte da porrada é provável.

Já na capa, a dureza da nova fase se avista: a fotografia de 1966 tirada por Neal Boenzi retrata o dia em que Nova Iorque enfrentou a pior poluição da história, que terminou com a morte de cento e setenta pessoas. O mundo lá fora é cruel.

A transição é feita com a marca registrada do Vampire Weekend: a deliciosa derivação do estilo world music de Paul Simon. Mas “Modern Vampires Of The City” não se limita a isso. Está no discurso da transição pra maioridade seu grande trunfo, e musicalmente a banda tentou acompanhar esse discurso.

O começo do disco é bastante positivo nessa intenção. O discurso de Ezra Koenig, 28 anos, é quase desesperador diante do desafio. “Unbelievers” fala de solidão: “o mundo é um lugar frio pra se viver / queria um pouco de conforto / quem irá guardar um pouco de conforto pra mim? / não estou empolgado / mas eu deveria? / esse é o destino que metade do mundo planejou pra mim?”. É uma das grandes canções do disco.

Ouça “Unbelievers”:

“Step” viaja pelo mundo (Angkor Wat, Camboja; Mechanicsburg, Pensilvânia; Anchorage, Alasca; Dar Es Salaam, Tanzânia) e pelo tempo (Creso, rei da Lídia), pra dizer que acabou a mamata de ser jovem: “sabedoria é um dom, mas você a trocaria pela juventude”. Sua proximidade musical com “M79”, do primeiro disco, faz parte da transição: é uma canção pop daquelas de manual.

“Diane Young” é um inteligente brincadeira de palavras e sons. Koenig finge ser Elvis Presley, enquanto canta que “morrer jovem não vai mudar sua mente”. “Die young / Diane Young” dá ao Vampire Weekend um bom humor que destrói o viés pretensioso que o disco poderia tomar. É divertida, mas poderia ser um lado B qualquer, porque destoa um tanto do resto do disco. Aliás, sepulta o resto de sapiência que “Modern Vampires Of The City” possui, com raras exceções ainda apresentadas mais à frente.

Se o discurso conceitual da banda segue eficiente, não se pode dizer o mesmo das músicas que envolvem a poesia. Koenig e companhia começam a transitar por um terreno musical estranho ao grupo já na balada insossa “Don’t Lie”, um pop descartável de FM. Esse tipo de escorregão talvez possa ser creditado à produção alienígena de Ariel Rechtshaid (Kylie Minogue e Justin Bieber), que atuou junto com Rostam Batmanglij, multi-instrumentista da banda e o cabeça por trás do DNA sonoro do Vampire Weekend.

A veia pop-butique criou aberrações como “Don’t Lie” e “Hannah Hunt”, por exemplo. “Everlanting Arms” traz Paul Simon de volta à fórmula e regata um pouco de integridade ao disco. A essa altura do trabalho, Koenig ambienta seus ouvintes com outro problema do amadurecimento: encarar relacionamentos desfeitos. Mas nem isso salva a irritante “Finger Back” e a cafona “Worship You” (bem descrita pelo Na Mira do Groove como uma boa opção pra aquecimento de show de sertanejo: “se colocar como playlist num show de espera de Fernando & Sorocaba, de repente a banda conquista mais um nicho”). Nem o King Of Leon faria pior.

“Ya Hey”, por sua vez, é outra amostra de que o Vampire Weekend é um grupo que avançou e erra por tentativa, por “ousadia”. Porque a canção está exatamente no meio-termo do que o disco propôs. Não é a melhor do álbum, mas é a que melhor resume essa transição pela qual a banda resolveu se enfiar. “Ya Hey”, jogo fonético pra chegar a “Yahweh”, ou “Javé”, o deus na Bíblia. Ninguém ama você, clama Koenig, “Ya Hey”. Chegamos ao dilema material-espiritual que quase todo mundo se depara em alguma parte da vida adulta.

“Ya Hey”:

O Vampire Weekend se deparou agora com essa dúvida: carregar-se nos dogmas descartáveis do indie-festivo bobo ou avançar, nem que seja pelas trilhas do pop radiofônico? A banda escolheu, incrivelmente, o caminho mais difícil, o que é louvável. A banda expandiu suas possibilidades. Há mais cordas, camadas e principalmente uso de pianos.

A música que encerra o disco é “Young Lion”, ao piano “clássico”. Tocante e curiosa. A letra se resume a uma frase: “você teve o seu momento, jovem leão”. Agora, já era. O seu futuro chegou. Suas responsabilidades surgiram. O que você fará a partir daqui?

NOTA: 6,0
Lançamento: 14 de maio de 2013
Duração: 42 minutos e 50 segundos
Selo: XL Recordings
Produção: Rostam Batmanglij e Ariel Rechtshaid

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