OS DISCOS DA VIDA: LEANDRO LEAL

“Quem Vai Ficar Com Morrissey?”, pergunta o paulista (de São Caetano do Sul) Leandro Leal em seu primeiro romance, lançado em março de 2014, via Editora Ideal.

A história é sobre a separação de um casal. Na divisão de bens, ele não quer que a agora ex fique com seus discos e músicas dos Smiths e do Morrissey. É o bem maior do personagem – uma situação que você, assim como eu, se já passou por ela, tem que enfrentar: há coisas que a outra parte não pode tirar do nosso coração ao sair dele e uma dessas coisas é a música, com o orgulho, a história e a ligação que temos com “nossas” canções.

O livro, embora com sua aura, digamos, “indie” de nascença, vai agradar não só aos fãs dos Smiths, claro. É uma história universal, pra todas as idades (Leal nasceu em 1977), pra todos que já sofreram por amor e ou ainda vão passar por isso.

Mas não é um livro pesado. Longe disso. Leal mesmo é um desses amantes da música. Ele sabe que a música é uma amante que nunca nos dará um pé na bunda e, por isso, merecedora de total consideração e admiração. Aqui, nessa edição de Os Discos Da Vida, ele lista dez álbuns que mudaram sua vida pra sempre, de alguma maneira. Alguns deles foram relacionamentos febris que influenciaram o próprio livro. Se você ainda não leu, vai ficar mais instigado a fazê-lo. Se já leu, entenderá melhor o personagem quase autobiográfico.

Leal, redator publicitário de carreira, escreve com leveza e os textos que explicam cada disco são deliciosos, um bom aperitivo pro livro. Mas você pode ler mais: ele tem um blogue pessoal, o Anotações Mentais, e fala sobre livros, cinema e musica no Resenha De 6.

Uma ex pode até rasgar nosso coração, mas não tira dele os sentimentos que tais discos encrostaram ali.

(foto que abre o post: Bruna Corrêa)

LEANDRO LEAL

“O Fernando Lopes me convidou para fazer esta lista. Mas, na verdade, eu a escrevo graças a outro Fernando – o Fonseca, protagonista de ‘Quem Vai Ficar Com Morrissey?’. Impregnado de música, meu primeiro romance me credenciou a ocupar o mesmo espaço onde já escreveram pessoas muito mais gabaritadas que eu. Este livro é devido, claro, à influência que Morrissey e os Smiths exerceram na minha vida. Meu contato com a obra deles – a forma como se deu e o que aconteceu a partir disso – inspira uma ficção que não é de todo fictícia, especialmente na relação do meu Fernando com a música. Eu não teria imaginação suficiente pra criar do nada uma paixão como esta. Morrissey teve um papel decisivo na minha formação musical, mas não atuou sozinho. Exatamente por isso, neste top 10, consta apenas um álbum dele. Usei as outras nove posições pra compor um panorama histórico da música que me marcou. Relacionei os álbuns cronologicamente, procurando ser o mais honesto possível – aqui constam figurinhas fáceis e nomes obscuros inexistem, porque, embora conheça e goste deles, enfim, procurei ser honesto. Das experiências que tive com os discos da minha vida, 20% se ambientam nos anos 1980, enquanto a maioria está na década seguinte. Depois disso, evidentemente, muitos outros me impressionaram, mas não de forma tão transformadora quanto estes – e outros que, infelizmente, ficaram de fora”.

Michael Jackson – “Thriller” (1982)
Foi lançado no final de 1982, mas só me lembro de ter me dando conta desse disco em meados de 1984. Na época, vivíamos o auge da moda do break, e o Michael Jackson – com o moonwalk que eu, garotinho de 7 anos, vivia tentando inutilmente copiar –, era meu ídolo. Michael era um gênio. Grande compositor, grande cantor, grande dançarino. O maior astro comercial da época, capaz de lotar estádios e bater recordes de vendas, oferecendo um produto de qualidade indiscutível – viu, Justin Bibier? Claro, em 1984, eu não me dava conta de nada disso. E o hoje clássico clipe da música que dá nome ao disco, com o Michael dançando entre zumbis num cemitério? Numa era pré MTV, assisti pela primeira vez na estreia no Fantástico, maior honraria que um vídeo de música poderia receber. “Thriller” foi o primeiro disco de música “séria” pelo qual me interessei, que eu meu irmão pedimos pro nosso pai. Ganhamos dele numa fita cassete branca, original, que tocou “Beat It”, “Billie Jean” e “Wanna Be Starting Something”, além da faixa título, até quase se gastar.

Ouça “Billie Jean”:

Legião Urbana – “Dois” (1986)
Na rua sem saída onde passei a minha infância, partidas de futebol (sempre joguei mal) e outras brincadeiras tinham como frequente trilha sonora o rock, que vinha em alto volume de uma das casas. O responsável pela discotecagem era o Vladimir, mais conhecido como Dade. Uns seis anos mais velho que eu, o Dade já era adolescente em 1986 e, involuntariamente, me apresentava o que pessoal da sua idade estava ouvindo de bom. Sem se preocupar com eventuais reclamações dos vizinhos, as caixas do seu aparelho de som disparavam U2, Titãs, Paralamas e, claro, Legião Urbana. O recém lançado disco “Dois”, em especial. De tanto ouvir, recordo de me pegar cantando “Quase Sem Querer” quase sem querer, enquanto fazia a rabiola de alguma pipa ou jogava bafo. Anos depois, eu mesmo adolescente, viria a ouvir o álbum com mais atenção, faixa por faixa. Faço isso até hoje – pulando, obviamente, “Índios’ e “Eduardo & Mônica”, que ninguém mais consegue ouvir. Mesmo que os anos tenham me levado a questionar os méritos musicais (conhecendo Smiths e Joy Division entre outras fontes de inspiração originais, fica difícil não fazer isso) e líricos (pra mim, as antes veneradas letras do Renato Russo, mais parecem apanhados aleatórios de frases de efeito) da Legião, “Dois” envelheceu muito bem aos meus ouvidos. Talvez o fato de ter descoberto alguns dos seus truques tenha, inclusive, revestido a mágica deles de certo charme adicional, desajeitado, brejeiro. Truques à parte, “Andrea Doria” continua linda e sendo minha favorita da banda.

Ouça “Andrea Doria”:

Guns N’Roses – “Appetite For Destruction” (1987)
No comecinho dos anos 1990, havia alguns discos que todo moleque da minha idade tinha, em fita ou LP – só os playboys já tinham CD. Eram eles: “The Real Thing”, do Faith No More; “Black Album”, Metallica; e “Appetite For Destruction”, do Guns. Apontado pela unanimidade – neste caso, inteligente – como o melhor disco do Guns, “Appetite…” não é apenas isso: é o melhor que o hard rock californiano tem a oferecer. Um bando de canções raivosas e poderosas de uma banda igualmente raivosa e poderosa, carregadas pelos rifes perfeitos de Slash. Hinos à degradação sexual (“Anything Goes”), às drogas (“Mr. Browstone”) e aos perigos de Los Angeles (“Welcome To The Jungle” e “Paradise City”), recheados de chauvinismo capaz de fazer feministas queimarem fábricas inteiras de sutiã, cantados pela voz rascante de Axel Rose no auge. Ele podia tudo então, até usar aqueles ridículos shorts de lycra estampados com a bandeira americana e continuar sendo, trocadilhos à parte, um badass. “Appetite…” figura na seleta categoria de álbuns perfeitos da primeira à última faixa – “Rocket Queen”, minha improvável favorita da banda. E tem, claro, seu maior sucesso: “Sweet Child O’ Mine” – um rife que figura em qualquer ranking de melhores, estando no primeiro lugar de muitos. Pra completar, a capa, uma afronta moral à altura das letras: uma lindamente ultrajante ilustração com um robô estuprador e sua vítima. Arte tesourada nos EUA, que passou incólume pela nossa censura. Nessa época, felizmente, ela já tinha perdido quase toda a sua força.

Ouça “Rocket Queen”:

Morrissey – “Bona Drag” (1990)
Sou, como você sabe, um grande fã do Morrissey – com os Smiths e em carreira solo. Poderia relacionar, no mínimo, cinco de seus álbuns entre os meus favoritos. Mas esta seleção trata de álbuns que, de alguma forma, me marcaram ou determinaram o rumo da minha vida; não necessariamente os preferidos. Certo, os tais cinco álbuns do Moz e dos Smiths se encaixariam também nessa categoria. No entanto, optei por escolher apenas um. Dentre tantos álbuns memoráveis da lavra de Morrissey, lembro de um que não é lá muito lembrado. Nada de “The Queen Is Dead” ou “Your Arsenal”. O disco que escolhi nem ao menos é um álbum a rigor: reunindo singles do “Viva Hate” e seus lados B, “Bona Drag”, o segundo lançamento assinado unicamente por Moz, é, no fim das contas, uma coletânea. Nele estão novamente “Suedehead” e “Everyday Is Like Sunday” – até hoje os maiores sucessos do cantor. Estão também as ultra-pop “The Last Of The Famous International Playboys” e “Hairdresser On Fire”. A chorosa “Yes, I’m Blid” e as emocionantes “Will Never Marry” e “He Knows I’d Love To See Him”. Em “Such A Little Thing, Such A Big Difference It Makes”, ele pede: “me deixem em paz, eu estou só cantando”. Mas ele estava mentindo: ninguém cantava daquele jeito, ninguém cantava letras como aquelas. Não que eu já tivesse ouvido. E não porque, aos 14 anos incompletos, o que já tinha ouvido não fosse tanto assim – se ouvisse Morrissey pela primeira vez hoje, aos 36, também ficaria impressionado. Antes daquele outono de 1991, já tinha escutado aquela voz no rádio, claro, mas foi só então, por meio de uma fita cassete gravada com “Bona Drag” e um walkman, que o milagre se operou de fato. O contato mais íntimo com o universo do compositor me colocou também em contato com outra dimensão de lirismo e de emoções. Depois deste disco, sim, viriam os outros mais aclamados, dele e dos Smiths. Viria todo o resto da minha vida. Viria, muitos anos depois, “Quem Vai Ficar Com Morrissey?”.

Ouça “The Last Of The Famous International Playboys”:

The Stone Roses – “The Stone Roses” (1989)
O ano de 1991 foi aquele em que se deu minha formação musical. Levando em conta que foi isso que definiu o que eu viria a ser, não é exagero dizer que foi o ano mais importante da minha vida. Naqueles meses, tive a felicidade de conhecer muitos álbuns que levaria comigo pra sempre. Além de “Bona Drag”, ouvi pela primeira vez pilhas de discos, das quais tiro o de estreia dos Stone Roses, que leva o nome da banda, e o próximo desta relação. Em 2009, quando fez 20 anos, a capa de uma revista de música inglesa (NME, se não me engano) apontava aquele como um dos melhores primeiros registros de uma banda. É só ouvi-lo para constatar que não há nenhum exagero na afirmação. A perfeição começa com “I Wanna Be Adored”, clamor ególatra que chega até nós vindo de trem, cortando o fog. Continua com “She Bangs The Drums” e seu contagiante rife, e se estende até “I Am The Resurrection”. No caminho até a ressentida faixa final, passamos por inspirados momentos de guitar rock, como “Waterfall”, “Made Of Stone” e “Shoot You Down”. Ficamos emocionados com a singeleza da curtíssima “Elisabeth My Dear” (um sopro de Simon And Garfunkel, talvez?) e sabemos da péssimas intenções da maravilhosa “Bye Bye Badman”. Tudo isso lindamente embalado pela capa inspirada em Jackson Pollock – de quem a banda é fã, capaz de comparar a paixão a um de seus quadros, no lindo single “Going Down”.

Ouça “I Wanna Be Adored”:

Ramones – “Road To Ruin” (1978)
Pergunte a qualquer fã de Ramones qual seu disco preferido da banda. A resposta mais comum será, sem dúvida, “Rocket To Russia”. Aposto que é o seu, certo? Mas eu, mantendo uma predileção pelos azarões, elejo “Road To Ruin”. Não que eu também não ache “Rocket…” uma das melhores coisas que qualquer banda do universo já gravou. Mas “Road To Ruin” é tão bom quanto e, pelo critério de desempate, que é o emocional, leva o título. Este disco, no definitivo 1991, me apresentou a banda – que hoje muitos levam no peito sem fazer ideia do que seja. Este quarto registro da banda é resultado de um esforço de produção pra fazê-la soar mais pop, após a sujeira dos discos anteriores. Mesmo mais polido, repleto de baladas – como as lindas “Needles And Pins”, “Don’t Come Close” e “Questioningly” – e trazendo aquele que seria um dos seus maiores hinos (“I Wanna Be Sedated”), o álbum foi incapaz de levar os Ramones às rádios, como esperado. Já na minha billboard pessoal, fez bastante sucesso. Lembro que, ao ouvir Joe cantando e não entender quase nada, achava que precisava melhorar meu inglês. De fato, precisava mesmo. Mas, como viria a descobrir depois, a dicção do cantor também não era das melhores. Como aquilo era punk rock, não aula de inglês, foda-se. A doçura da voz de Joe fazia contraponto ao peso da guitarra de Johnny, do baixo de Dee Dee e da bateria de Marky – que, àquela altura, já substituíra Tommy –, e tornava a banda perfeita. A partir de “Road To Ruin”, os Ramones se tornaram uma das minhas cinco bandas preferidas, posto que ocupam até hoje.

Ouça “I Wanna Be Sedated “:

U2 – “Achtung Baby” (1991)
Eu tinha 15 anos e uma certeza: achava U2 chato. Era meio na base do “não ouvi e não gostei”, da típica arrogância adolescente. Só conhecia as maiores babas, como “Sunday Bloody Sunday” e “Pride (In The Name Of Love)” e “With Or Without You”, e achava todas fáceis e bobas. Associava o U2 aos boyzinhos do colégio que gostavam deles e os colocava, U2 e boyzinhos, na mesma prateleira de babacas. Eu torcia pra outro time, o dos Smiths, e considerava os irlandeses seus maiores rivais. Toda vez que alguém dizia que o U2 havia sido a banda mais importante dos anos 1980, eu cerrava os punhos e rangia os dentes, pior do que faria se ofendessem minha mãe. Sem que eu soubesse, no entanto, em 1991, o U2 mudou tudo: a música que fazia e a ideia que eu viria a fazer dessa música. Se o ano anterior tinha sido tão significativo pra mim, também fora pra Bono e seus comparsas. Lançado então, “Achtung Baby” representava uma ruptura com o passado bem sucedido. Era uma aposta ousada, pretensiosa, mas que, feliz, fez a banda mudar de patamar artístico e, ainda assim, manter-se um sucesso comercial. Como muitas coisas então, cheguei ao álbum por meio de amigos mais velhos que, inconformados por eu não gostar de U2, me deram uma fita com “Achtung Baby” gravado e um conselho: “ouve com atenção”. Não soava como nada que a banda já tivesse feito – ou com o pouco disso que eu conhecia. A partir de “Achtung Baby”, fui buscar os outros discos deles, dos quais, livre do preconceito, acabei por gostar – inclusive das “babas”, que eram, afinal, grandes músicas. Esses álbuns, porém, confirmaram a supremacia de “Achtung…”: em nenhum outro, as letras de Bono foram tão reflexivas e poéticas, os rifes de The Edge, tão hipnóticos, a cozinha, de Larry e Adam, tão perfeita. Era o começo do flerte com a dance music, que avançaria em “Zooropa” e descambaria com “Pop Mart”. Nessa época, o U2 já era uma mega banda, e “Zoo TV” dava início às suas turnês pirotécnicas, nas quais a música era apenas parte de um espetáculo multimídia muito maior. Eu os assisti ao vivo em três ocasiões: a primeira em 1998, a segunda (e melhor) em 2006, a última (que de fato o será) em 2011. O U2 é hoje, infelizmente, uma daquelas bandas ligadas no automático, de discos irrelevantes, de shows de emoção encenada. Voltou a ser o que eu imaginava que fosse quando não gostava deles: banda de boyzinhos, banda de quem não (necessariamente) gosta de música. Ainda assim, pra mim, “Achtung Baby” continua sendo flawless victory: perfeito, de “Zoo Station” a “Love Is Blindness”.

Ouça: “One”:

Nirvana – “Nervermind” (1991)
Quando ouvi “Nevermind” pela primeira vez, na casa de um amigo mais velho, meus conhecimentos de punk rock limitavam-se a poucas audições dos Ramones e do Sex Pistols. Foi justamente à banda de Johnny Rotten que essa primeira audição do mais famoso álbum do grunge me remeteu. Passados 22 anos, afirmo o que já achava na época, mas não tinha coragem de admitir: “Nevermind” é superior a “Nevermind The Bollocks” – do qual, além da sonoridade, também emprestou o nome. A razão, que só viria saber muito tempo depois, era a obsessão de Kurt Cobain em conciliar a sonoridade pop à alternativa. Tinha como meta seguir os passos de duas de suas bandas preferidas, o Pixies e o REM – principalmente desta última, que alcançou o sucesso radiofônico sem deixar de ser indie –, mas foi mais longe do que imaginava. Meses depois, em 1993, depois de já ter vendido milhões de cópias, “Nevermind” venderia mais uma: o primeiro CD que compraria. Ficaria meses sem poder escutá-lo, à espera de um aparelho de som com CD player, que meu pai só me daria depois de muita encheção de saco. Nos dias em que escrevo isto, a morte do Kurt completa 20 anos. Lembro bem de como fiquei espantado ao ver a notícia no Jornal da Globo. O cara tinha só dez anos a mais que eu! Mas, com “Nevermind” tinha alcançado muito mais do que eu, mesmo vinte anos depois, fui capaz de conseguir. Sorte que tenho quase todo o resto da humanidade pra me acompanhar nessa incapacidade.

Ouça “Smells Like Teen Spirit”:

Oasis – “(What’s The Story) Morning Glory” (1995)
Dezembro de 1994. Eu dava a última olhada nas apostilas, numa preparação meramente protocolar pras provas de vestibular que estavam chegando, menos atento a elas do que ao que vinha do rádio. E foi dele, sintonizado na finada Brasil 2000 (Nota do Editor: rádio de São Paulo), que veio uma voz anasalada a me dizer: “você tem que ser você mesmo, você não pode ser ninguém mais”. Era “Supersonic”, música de uma banda inglesa novata, um tal Oasis. Caralho, eu gostei daquilo – não apenas da letra, uma autoajuda barata, mas legal, não apenas daquele vocal, estranho, não apenas da guitarra, labiríntica. Identifiquei aquilo como um hit, sem cara de hit. Um hit como eu gostaria que os hits parecessem. Se “Supersonic” colocou o Oasis no mapa, “Live Forever” colocou um alfinete sobre sua localização. Puta música e puta clipe, em que ídolos mortos na juventude no passado (como Janis, Jimi e John) e no passado bem recente, como Kurt, eram relembrados. O disco de estreia, “Definitely Maybe”, me apresentou à banda dos irmão Gallagher, mas foi o segundo que nos tornou íntimos. Lançado em 1995, comprei o CD “(What’s The Story) Morning Glory”, apenas em 1996. Rapaz, como ouvi aquele disco. Hoje, muitos dos meus contemporâneos renegam o Oasis, mas, naqueles tempos, os irmãos Gallagher eram unanimidade. Em qualquer balada com música ao vivo – essa aberração –, bastava a banda iniciar os acordes de “Wonderwall” pra todos cantarem a letra (errada, claro) em uníssono. Era acompanhada por “Don’t Look Back In Anger” no hit parade das rádios e dos karaokês. Tirando as mais óbvias, o disco tem preciosidades como “Roll With It”, “Some Might Say” e “Morning Glory”. E fecha com a épica “Champagne Supernova”. Mesmo que depois a banda nunca mais tenha gravado algo tão bom, “…Morning Glory” é mais do que suficiente para o Oasis ter conquistado um lugar na história da música dos anos 1990. E, claro, também nesta lista.

Ouça “Champagne Supernova”:

Chet Baker – “(Chet Baker Sings) It Could Happen To You” (1958)
Com 19 anos, me apaixonei perdidamente por uma menina mais velha. Aos 22, estudante de arquitetura, ela me parecia tão madura, tão conhecedora de tudo – tudo que eu não conhecia. Entre as muitas coisas que ela me apresentou no tempo em que estivemos juntos, a mais significativa talvez seja o Chet Baker. Nossa relação dura até hoje – a minha com Chet; a que tive com a menina acabou rápido. E quando acabou, fiquei com “It Could Happen To You”, CD dele que ela tinha emprestado. A voz suave do trumpetista serviu de trilha sonora pra maior fossa que eu já tinha conhecido até então, regada a vodca, tomada em generosos goles às escondidas, no meu quarto. Se você leu meu livro “Quem Vai Ficar Com Morrissey?”, talvez reconheça esta história das páginas dele. É uma das partes autobiográficas contidas no meu primeiro romance, no qual este disco representa um papel muito importante. Só não vou dizer o que é porque, sabe como é, vai que você não leu…

Ouça “I’m Old Fashioned”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Gustavo Jobim”.

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