PENSE OU DANCE: A CONTA ESTÁ NA QUANTIDADE DE USUÁRIOS

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Em janeiro, o Spotify divulgou os números referentes à sua operação no quatro trimestre de 2021. Entre dólares e euros de lucro líquido e receita, o número que mais tem chamado atenção de investidores, ao analisar o balanço dessas empresas de tecnologia (ou seja, não vale só pro Spotify, mas também pra Amazon, Apple, Méliuz, Netflix, Getninjas etecetera etecetera), é o da quantidade de usuários, incluindo os que pagos e os gratuitos, embora a diferenciação seja importante.

Isso porque embora muitos dessas companhias ofereceram serviços pagos, o gratuito também é importante, pois é aquela velha máxima de que quando o serviço é gratuito o produto é você.

No caso do quarto trimestre, as notícias não foram lá muito boas pro Spotify. O número de usuários ativos mensais (MAUs, na sigla em inglês) chegou a 406 milhões. É uma alta de 18% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O mesmo ocorre com o número de assinantes da versão “premium”, que cresceu 16%, chegando a 180 milhões, sendo 406 milhões de usuários, contando também os gratuitos. Embora haja crescimento, ele veio carregado de preocupações pro futuro.

Pro primeiro trimestre de 2022, projeta-se levar o MAU a 418 milhões e chegar a 183 milhões de assinantes. Mesmo com números tão parrudos, o Spotify sofreu nos últimos tempos. Suas ações na Bolsa de Nova Iorque encolheram quase 17% no dia da divulgação do relatório. Há uma série de problemas rondando a plataforma. Um deles, todos conhecem muito bem pelo nome e sobrenome: Joe Rogan.

O podcaster racista, que tem contrato com o Spotify, virou o centro das atenções não só entre quem tem o mínimo de decência humanitária, mas entre os investidores e músicos. Com programas recheados de falas racistas, motivou o irretocável Neil Young a dar o ultimato: “ou ele ou minha músicas”. O Spotify preferiu Roga, e Neil Young caiu fora, levando consigo, infelizmente, apenas uma solidária, Joni Mitchell. Todo o resto fez a egípcia.

Mas nos dias seguintes à decisão de Young, as ações da empresa encolheram quase 15%, e quando dói no bolso, os executivos resolvem tomar alguma atitude. Não demitiram Rogan, mas deletaram mais de setenta episódios de seu podcast. Rogan ainda teve que fazer uma pouco convincente declaração pedindo “desculpas”.

O caso é que o Spotify pode até queimar gente em praça pública, literalmente, e espancar as mães dos usuários, que ainda assim os usuários estarão lá, em termos assanhadíssimos de dezenas de milhões. Mas algo está lentamente mudando. Há concorrência em crescimento e esse é um dos motivos mais claros pra queda das ações. O dinheiro de Daniel Ek, o dono do Spotify é ilimitado, mas dos seus assinantes, não. Pra muita gente, especialmente na América Latina, maior responsável pelo crescimento de assinantes no quarto trimestre da empresa sueca, é bastante difícil assinar mais de um serviço desses.

Embora o Spotify seja ainda, de longe, o líder em assinantes, há motivos pra preocupações. Como bem lembrou o Music Ally, a Apple Music, que está em segundo lugar nessa lista, tinha há dois anos 60 milhões de assinantes pagos. O mais recente relatório financeiro da empresa mostra que houve crescimento, mas a Apple não divide as coisas. Não está claro exatamente quantos assinantes a própria Apple Music possui, mas os serviços de assinatura da empresa, incluindo a Apple TV, agora têm um total de 785 milhões de contas – um aumento de 165 milhões nos últimos doze meses.

Nos último tempos, especialmente os de pandemia, o Spotify viu sua liderança perder terreno. A empresa de Ek tem 32% de todos os assinantes pagos desse tipo de serviços no mundo. A Apple Music presume-se que tenha 16%, com a Amazon Music logo atrás, chegando a 13% (ou 55 milhões de assinantes, mas é outra empresa que não deixa claro quantos são assinantes de qual produto, embora só nos Esteites sejam 172 milhões de inscritos no Prime), junto com o chinês Tencent, que também tem 13%. A Google, com seu YouTube Music, tem 8%, ou 50 milhões de assinantes (embora o número de contas cadastradas, incluindo as gratuitas, seja imbatível, com 2 bilhões). Netease (4%), Deezer (2%), Yandex (2%) e Pandora (1%), juntos, ainda não fazem cócegas na turma de cima. Mas sabem que há terreno pra progredir.

E é um terreno extremamente disputado. Disputando a grana dos assinantes mensalmente, ainda tem a Disney, a Netflix, a Hulu, a HBO, as empresas de jogos online. Há espaço pra todos, mas o gasto ainda é visto como supérfluo por muitas famílias, especialmente em economias periféricas, como o Brasil. Se o ponto de crescimento está justamente nessas economias, a briga ainda vai ser longa e sangrenta, ainda mais com a Covid-19 continuando fazendo estragos em vidas, em empregos e negócios, já que a vacinação não anda na velocidade que todos desejam.

Enfim, talvez ainda não seja um mercado acomodado. Talvez ainda seja preciso esperar alguma normalidade econômica minimamente duradoura pra entender quem vai se mexer melhor nesse campo. Por ora, a pandemia tem sido bastante generosa com essas empresas. Mas conforme a vacinação avança e as pessoas vão tomando liberdade pra sair de casa e retomar uma certa normalidade de rotina, a concorrência por esse suado dinheirinho também aumenta. A tendência é uma estagnação no avanço de novos usuários pagantes desses serviços, o que pode afetar ainda mais as ações de quem é muito dependente ou não tem produtos físicos pra vender (Microsoft e Apple se saem melhor, em tese).

Com tantas incertezas e barreiras, uma coisa é certa: provocar a sociedade, dando voz a aberrações como Rogan, não parece uma tática muito boa.

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