PENSE OU DANCE: AINDA TEMOS MUITO O QUE APRENDER

Você já deve ter visto os vídeos do Jeff Tweedy, vocalista do Wilco, tirando onda com duas músicas do Black Eyed Peas. Não viu? Veja “I Gotta Feeling”:

“My Humps”

Eu, primeiro, como espero que tenha acontecido com você, me mijei de rir, depois, vi que valia uma reflexão: nos Esteites, apesar de serem hipócritas como são, eles, quando conveniente, descem a lenha uns nos outros. Sem dó. Fazem cover tiração, como no caso de Tweedy, fazem piadas barra-pesada em rede nacional de televisão, metem a boca no sujeito na Internet etc…

O artista que não gosta do que o outro faz, como qualquer cidadão deve proceder, se quiser, rebate e pronto. Simples assim. Qual o problema? Além de ser um exercício legítimo da liberdade de expressão, ajuda a aguçar na massa apática de espectadores, algum senso crítico.

Daí, pensei como é difícil, quase impossível, ver uma tiração de onda desse tipo na Internet ou televisão entre músicos brasileiros. Tirando Lobão e João Gordo – que, diga-se de passagem, já viraram caricaturas de si mesmos – e um caso que mencionarei abaixo, não me lembro de alguém simplesmente dizendo que tal cara é um mal compositor, ou que aquela senhora não canta nada. Algo que, enfim, estimule o público a pensar, questionar a qualidade do que lhes é enfiado goela abaixo, dia após dia.

Fiquei tentando me lembrar de algum episódio parecido com o da paródia acima e não me veio nada à mente. Aliás, as imagens que surgem quando penso nos “artistas” brasileiros são de beijos, abraços e babação de ovo. Todos parecem se amar, adorar as músicas uns dos outros e viver em perfeita harmonia, de mãos dadas, cantando num imenso gramado sob o sol. Todos dopados de alegria por estarem uns ao lado dos outros e acima dos demais mortais brasileiros.

Se transportássemos, mal e porcamente, para o Brasil, a paródia feito pelo Jeff Tweddy com as músicas do Black Eyed Peas, seria como se, sei lá, o Edgar Scandurra (impossível achar um Jeff Tweedy no Brasil) tirasse uma onda com a Ivete Sangalo. Consegue imaginar? Não? Nem eu. Aliás, pior, consigo sim é imaginá-los numa parceria.

Um episódio que considero importante, ocorrido anos atrás, foi a treta entre o Chorão (Charlie Brown Jr.) e o Marcelo Camelo (Los Hermanos). O Camelo teria dito alguma abobrinha (o que não é difícil de acreditar) sobre o Charlie Brown Jr. e o Sr. Chorão, ogro que só ele, ao encontrar Camelo no aeroporto, por conta da suposta abobrinha, lhe deu uma muqueta. Resultado: Chorão com um processo nas costas e Camelo com nariz quebrado.
A questão é que, abobrinha, ou não, o Camelo tinha todo o direito de dizer o que bem entendesse. Por fazê-lo, levou porrada. Literalmente.

Lá nos Estaites, pelo menos no universo musical, quem opina, critica, ou, em suma, exerce sua liberdade de expressão, é escutado, avaliado, aplaudido, vaiado e pode até virar hit da Internet como é o caso de Tweedy.

No Brasil, vira caso de polícia.

Nos resta aplaudir Jeff Tweedy, pela música maravilhosa que faz, pelo senso de humor e presença de espírito que teve nessa paródia e, invejarmos os Esteites, pelo menos, nesse aspecto.

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