PENSE OU DANCE: AS PALAVRAS IMPORTAM

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“Eu sei, nossa simples existência já é uma afronta / Os demônios em você não aguentam ver / Outro preto que desponta / Um grito vem da alma / Fogo nos racistas! / Eu disse, ‘fogo nos racistas!’ / (Expõe pra queimar) / Fogo nos racistas! / Eu disse, ‘fogo nos racistas!’ / (Deixa queimar)”: a música do terceiro disco do Black Pantera, “Ascensão”, um dos melhores, senão o melhor, de 2022, não tem meias-palavras: racista tem que se foder.

O Black Pantera não usa poesia rebuscada pra falar o que precisa falar porque essa gentalha só entende o recado de um jeito e só mesmo quem sofre na pele as injúrias e os crimes desse pessoal sabe que uma comunicação direta faz efeito maior do que discursos floreados.

Vale pra racista, mas vale pra toda corja transfóbica, que bate em mulher, que odeia pobre, que acha que “minorias” precisam se submeter à “maioria”. É fogo nos racistas, é fogo nos imbecis.

Obviamente, o Black Pantera não milita por uma caça à bruxas, com fogo em praça pública. O fogo aqui é tão metafórico quanto direto. E eficaz no discurso – “não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor”.

Neste dia 8 de janeiro de 2023, os imbecis entraram em ação de novo. Enquanto eles estavam sendo alvo de chacota em acampamentos em frente aos quartéis em todo o Brasil, seus financiadores planejavam algo maior, um golpe de Estado. Pagaram transporte, comida e levaram a estupidez pra protagonizar um dos episódios mais aterradores da história da República brasileira. O quebra-quebra promovido nas sedes dos três poderes constituídos foi transmitido ao vivo e a imprensa tratou como sempre tratou: com palavras que não traduzem os fatos.

As transmissões começaram chamando os verde-e-amarelos de “manifestantes” e, diante dos aterradores fatos vistos ao vivo, os jornais foram promovendo uma “atualização” pra “grupo de vândalos” e, então, pro que esse pessoal realmente é: “terrorista”.

Palavras importam. Em um país onde as pessoas se mostraram facilmente manipuladas por notícias falsas disparadas por aplicativos de mensagens e redes sociais, chamar as coisas daquilo que elas são é mais efetivo. “Ah, e o outro lado?”, perguntaria alguém. Diante das imagens, seria preciso?

Por muito tempo, desde 2013, esse monstro foi gestado sem ser chamado daquilo que ele realmente era. A extrema-direita, os radicais, tinham os apupos dos comentaristas políticos. Os crimes de Sergio Moro tinham os poréns das manchetes. A estupidez e os crimes de Bolsonaro não eram chamados de estupidez e de crimes. As pessoas foram lendo por anos e anos e entendendo que não eram crimes ou estupidez.

Neste domingo de ataques, Lula falou que esse foi “o maior ataque à nossa democracia”. Foi um dos. Getúlio já deu golpe, Jânio Quadros já tentou um golpe, os militares deram um golpe e ficaram lá matando gente por duas décadas com a imprensa e as escolas chamando de “revolução”, Dilma Rousseff hoje inocentada caiu com um golpe parlamentar. A nossa democracia vai assim, tomando porrada a todo momento, sem chamar a porrada do que realmente é.

E continuará. Em vídeos em redes sociais, os criminosos de ontem não se importavam de mostrar a cara. Enquanto nada acontecer, se acham inimputáveis, que nada vai acontecer. Os patrocinadores também. São como o PCC, os barões da droga. Porrada, cacetete, bala de fuzil só pra pobre que vende droga em favela. Rico que financia o tráfico vira senador (lembra do helicóptero?). Os criminosos de ontem espalham hoje que foram “infiltrados” que promoveram o quebra-quebra. E acreditam nisso.

Os criminosos de ontem acreditam que estavam lutando por uma suposta liberdade, sem se atentar que foram livres pra dizer o que quiseram e pra ir a Brasília quebrar tudo. Eles acreditam em tudo, porque nunca foram educados politicamente – não no sentido de dizer o que é “certo” e o que é “errado”, porque isso ninguém pode determinar; mas nunca foram talvez ensinados a ponderar, pensar por conta própria, debater, buscar o contraditório e tudo o mais.

Há que se continuar dizendo. Todos somos livres. Inclusive pra ser criminosos. Uma pessoa pode ser racista, homofóbica, bater em mulher, roubar banco, sonegar impostos… pode fazer o que quiser. Mas uma sociedade estruturada pressupõe punições a quem fizer tudo isso. Numa sociedade avançada você é livre pra dizer e fazer o que quiser. Mas deve arcar com seus atos, até com a privação de liberdade. E é preciso ser dito a todo momento que a sociedade não aceita essas condutas.

A música do Black Pantera é importante porque vai direto ao ponto. Como a imprensa, as escolas, os pais, os amigos, os políticos precisam ir. O que se viu no dia 8 de janeiro foi terrorismo contra o Estado brasileiro. Ao final do dia, a imprensa já havia se dado conta e já tinha promovido os “vândalos” a “terroristas”. Era tarde demais. Não há conversa com racista e não há conversa com terrorista, mesmo que seja a sua tiazinha da porta ao lado. Mais do que isso, é preciso ser duro e pegar os donos do dinheiro. Fogo nos financiadores dessa corja. Fogo nos promotores do discurso de ódio na Internet. Fogo em quem não respeita o próximo. Fogo em quem não respeita a sociedade.

Chega de tratar com leniência essa gente.

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