QUINTAVANT NO CENTRO CULTURAL SP – COMO FOI

A Quintavant tá no centro de uma boa reestruturação lógica sobre nanomercados. Pra aqueles que acham que não é possível adequar pequenos públicos dentro de uma estrutura mínima de consumo, o pessoal da Quintavant mostra que por menor que seja, esse público merece ser atendido e está disposto a gastar uns caraminguás pra ouvir novas notas.

Está acontecendo no Rio há um bom tempo. É o que se deseja de “uma cena”, com mídia (blogues e O Globo acompanham), casa (Audio Rebel), selo (QTV), artistas “engajados” (não como uma ideologia, mas por afinidade artística), produção e, veja, público, algum público, um público constante, um público que comparece e que, de alguma maneira, consome.

Quanto tempo se sustenta não se sabe. Por enquanto, o que se vê é uma expansão dos limites. Primeira parada, São Paulo. Centro Cultural Vergueiro, local croncretado e diversificado apropriado às intenções dessa turma. Evento gratuito. Horário decente (oito e meia da noite). Metrô na porta. Quase um convite.

A sala Jardel Filho é grande, recebeu bom público (chutemos aqui umas cem pessoas). Já é alguma coisa – um tanto mais do que a Audio Rebel costuma receber no Rio.

Mas em São Paulo, a estreia do evento levou três projetos que dificilmente aportam por aqui, o que também é um atrativo: DEDO, Chinese Cookie Poets e o quarteto Love Manso Zenícola Lacerda. Meia hora pra cada apresentação, deu pra ter uma ideia de como as coisas funcionam.

Tirando o Chinese Cookie Poets, mais conhecido, os outros dois projetos eram novidade pra maioria das pessoas presentes – alguns desavisados, incluídos, o que é muito bom, é um choque que eventos gratuitos proporcionam.

DEDO começou com seu noise aterrador. O trio Arthur Lacerda, Lucas Pires e Rafael Meliga ocupou o lado esquerdo do palco e, compenetrados, encheram a sala de ruídos, loopings, manipulações de sons e estranheza. Assustou os incautos, que se arrancaram da sala. Mas quem ficou conseguiu apreciar uma experiência sonora ímpar.

Foi uma boa prévia pro Chinese Cookie Poets, que fez na sua meia hora um enorme ensaio que parecia improvisado, que mostrava uma banda entrosada, com grande destaque nessa noite pro baterista Renato Godoy, com impressionante domínio do instrumento – os leigos em bateria como eu se impressionaram ainda mais com a performance do instrumentista, usando todos os recursos montados a sua frente, guiando a banda por caminhos que sempre surpreendem o ouvinte.

Mas o Chinese nem seria o melhor da noite, por incrível que pareça (a banda é uma das preferidas daqui da casa já tem um tempo). O quarteto Love Manso Zenícola Lacerda, formado por Paal Nilssen-Love (bateria), Eduardo Mando (guitarra), Felipe Zenícola, (baixo) e Arthur Lacerda (manipulações), apresentava o álbum “Bota Fogo”. Nunca havia ouvido o quarteto junto, nem mesmo na Internet.

Foi uma boa surpresa. Consigo definir ingenuamente o som como um “Chinese Cookie Poets viajante”, por conta dos climões de guitarra de Manso e dos ruídos de Lacerda. E parece bem mais improvisado, com altos e baixos de estouros, embaralhando o cérebro. Despertou enorme curiosidade pelo disco, e acho que era essa a intenção.

Depois de quase duas horas de espetáculo (o quarteto foi além da meia hora), bateu uma inveja branca dos cariocas, que colocaram a ideia pra funcionar de modo constante. É bom saber que há essa opção pra se divertir nas noites de uma cidade. Não parece uma aventura, nem uma brincadeira de poucos.

Se o movimento que se assiste há pelo menos dois anos no Rio de Janeiro não foi pensado ideologicamente (não foi, aconteceu com certa naturalidade, após muito suor), ele serve como exemplo pra outros tantos artistas que se vêem sem ter como ativar seus nanomercados, algo que o Floga-se sempre gostaria de ver pelo país, com estilos diversos.

Como viver disso não parece ser ainda a questão. O primeiro passo, criar regularidade de produção e apresentação, parece ter sido conseguido com louvor. Cada vez mais gente está de olho nesse movimento, mesmo não sendo um movimento orquestrado, repito.

Essa parada por São Paulo foi mais um acerto dessa turma admirável.

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