RADIOHEAD NO ALLIANZ PARQUE – COMO FOI

Show é um evento, né? Perguntando assim a resposta vai soar meia óbvia e sem sentido, mas eu sendo um dos (poucos?) sujeitos que abomina eventos pra mais de oito, dez mil pessoas, porque torna tudo impessoal demais, fico nesse liquidificador onde misturam-se sentimentos como pertencimento de algo grande e, em teoria, “histórico”, com empolgação e construção de um passado. As coisas estão acontecendo nesse momento, querer participar disso não é algo desprezível.

Mas não é qualquer evento. Há uns que carregam uma força emocional tão intensa que se tornam praticamente uma exigência. O Radiohead é uma dessas bandas que impactaram algumas gerações, culpa do “OK Computer”, mas lá se vão vinte e um anos. Há gente maior de idade hoje que não tinha nascido quando o disco foi lançado e não se pode exigir esse mesma ligação.

Quem recebeu o “OK Computer” direto na testa, depois de uma década flutuante entre grunges e shoegazers e Gun’n’Roses e uma enxurrada de MTV, notou que a música comercial podia ser bem “esquisita” (entre aspas, porque a gente sabe que não tem nada de esquisita, o Radiohead é bem acessível) e isso era delicioso pra quem gosta de se aventurar por novidades e tals.

Em 2009, quando a banda esteve pela primeira vez no Brasil, “In Rainbows” trazia outra novidade, embora comercial (leia aqui), reciclando o terreno cimentado em 1997. Só que o impacto da primeira vez é sempre mais marcante. Aquele show foi inesquecível, apesar dos muito pesares – Los Hermanos e seus seguidores, o local terrível, a estrutura péssima. Por que a gente se sujeita a esse tipo de tratamento?

É a mesma pergunta que me fiz nesse domingo, 22 de abril, na saída do Allianz Parque, em São Paulo. Porque era o Radiohead, a resposta continua a mesma.

Não, a banda hoje não me balança tanto mais. Os dois discos entre 2009 e agora, “The King Of Limbs” (2011) e “A Moon Shaped Pool” (2016), não são discos tão bons, mas ainda possuem muitos atrativos (ah, “Lotus Flower”… ah, “Present Tense”…). Então, está na memória do passado o impulso pra enfrentar mais de trinta mil pessoas num estádio de futebol pra vê-los outra vez.

Vê-los é modo de dizer. Quem não ficou na arquibancada ou na pista premium não viu nada. Os dois pequenos telões, que poderiam ser o contato com a banda, com as danças desengonçadas de Thom Yorke, não funcionaram pra função que foram designados pela lógica: mostrar a quem estava longe do palco o que acontecia no palco (pobres dos baixinhos…). Ao contrário, serviram de figuração na sempre interessante cenografia do grupo. Sem contar aqueles enormes andaimes que tiravam a pouca visão que restava.

Show é evento. A gente paga caro pra ver e ouvir nossos ídolos, os artistas que admiramos. Nesse caso, ver não foi possível e ouvir, pra quem estava na pista não-premium, foi um suplício. Som terrível, baixo e oscilante, que só foi melhorar mesmo lá no meio do primeiro bis (quem estava na arquibancada não teve o que reclamar nesse sentido, mas show é evento e é pra todo mundo). O som parecia preguiçoso. Pra uma banda que trabalha nos climas, nas alternâncias de intensidade, é uma tragédia.

Foi um desastre, mas um desastre com o Radiohead nunca é um desastre total. É justo pensar pra além de qualquer hipérbole tingida por fãs declarados. Entretanto, por outro lado, é preciso entender que a reverência não é gratuita. São apenas nove discos (só “Pablo Honey” não teve nenhuma canção executada) e a lista de músicas mostra uma banda uniforme, com capacidade pra emocionar, fazer dançar, pular, cantar e explodir.

Além do mais, a banda que muita gente acha preguiçosa no palco até se esforçou. Mudou o jeito de tocar algumas canções (“Idioteque” ficou mais robusta), entregou sucessos (“Fake Plastic Trees”, “My Iron Lung”, “No Surprises”, “2 + 2 = 5”) e tocou por mais de duas horas (foram vinte e seis músicas).

Teria sido melhor se a gente pudesse ver e ouvir a banda. Teria. Pelo valor do ingresso, era o mínimo. Mas como negar à memória esse afago? Apesar dos pesares, o que fica na lembrança foi a presença, é ter feito parte disso. É pouco, mas evento é principalmente isso.

01. Daydreaming
02. Ful Stop
03. 15 Step
04. Myxomatosis
05. You And Whose Army?
06. All I Need
07. Pyramid Song
08. Everything In Its Right Place
09. Let Down
10. Bloom
11. The Numbers
12. My Iron Lung
13. The Gloaming
14. No Surprises
15. Weird Fishes/Arpeggi
16. 2 + 2 = 5
17. Idioteque

BIS 1
18. Exit Music (For A Film)
19. Nude
20. Identikit 9
21. There The
22. Lotus Flower
23. Bodysnatchers

BIS 2
24. Present Tense
25. Paranoid Android
26. Fake Plastic Trees

Fotos: Celso Tavares/G1

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Comentários

comentários

Um comentário

  1. Juro por Deus na hora que acenderam as luzes eu não acreditei…esperei tanto por esse show e os caras fazem miguelagem com as músicas.poderia ter sido muito, muito melhor.

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