RESENHA: ACADEMIA DA BERLINDA – DESCOMPONDO O SILÊNCIO

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As mesmas conversas não são exatamente as mesmas, mas há uma impressão indissolúvel de já ter ouvido esse disco algumas vezes, uma familiaridade que emerge do conhecido, do que soa próximo.

Cada andança pelos momentos de glória permite o refinamento do que já foi adquirido. É extremamente difícil forjar outras inclinações quando já se está constituído. Isso é traduzido em “Fala”, em que o cansaço do conhecimento parece um imenso fingimento e não há mais confiança numa representação da verdade. Dessas palavras de ceticismo restam a sobrevivência e o prato de comida; a repetição, então, seria dos problemas imediatos da vida, o caos social e a quebra do modelo liberal.

Em outras palavras, a Academia Da Berlinda percebe um mundo sobrecarregado de problemas, mas é na continuidade, no próprio modelo de repetição do cotidiano, que pode se enfrentar tal contexto. É claro, significa um álbum de constância, um aprimoramento do que a banda vem fazendo nos últimos dezesseis anos. Ainda assim, eu me pergunto se é justo comparar um artista somente a si mesmo e se a beleza de um corpo único de trabalho ressoa sozinho.

Talvez “Descompondo O Silêncio” não soe especialmente novo pra quem escuta o conjunto há algum tempo, mas é claro que qualquer novidade não é garantia nenhuma de propriedade. Seus lapsos são preenchidos por outros sons, como o próprio disco afirma: há uma potencialidade sonora em cada esquina silenciosa.

A mais evidente advocacia do disco é pela transformação a partir da persistência, o que é muito justo pra quem tem aprimorado sua MPB, cumbia, coco, frevo e mangue beat, especialmente na última década. Dentro desses longos corredores, a disputa pode ser superada pela resistência, pelos cantos, pela energia sem fim que emana das pessoas entoando uma melodia em conjunto.

Mas honestidade e confirmação da trilha não conseguem marcar, sozinhas, o encontro entre persistência e autoafirmação. Em “Solução”, a banda enuncia “pense no problema”, o que me levou a pensar na problemática e solução dos problemas: são parte da mesma moeda e coexistem na medida que a cotidianidade se perpetua. As mesmas exclamações continuam em “Rude”, em que a reclamação é transposta pra segunda pessoa, e tanto letra quanto melodia buscam por uma compreensão que possa esclarecer porque duas pessoas próximas ficaram distantes.

Na filosofia de “Descompondo O Silêncio”, a esperança de mudança é na confirmação de uma cotidianidade que se acumula enquanto os dias decorrem. A última oração do disco é: “mudou?”, e a gente fica pensando se o direcionamento dessa questão não nos leva pra mesma raiz do disco.

01. Derrotas E Vitórias
02. Fala
03. Calma
04. Tudo Que É Bonito
05. A Música Não Para
06. Semente Do Semba
07. Estrela Do Norte
08. Dia A Dia
09. Solução
10. Rude

NOTA: 6,0
Lançamento: 27 de março de 2020
Duração: 36 minutos e 38 segundos
Selo: Coala Lab e Olindace
Produção: Alexandre Kassim

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