RESENHA: BATISMO – TRILHA PRUM POSSÍVEL CURTA

Você pode ouvir “Trilha Prum Possível Curta” e perguntar se a demo está a serviço duma construção imagética objetiva (um curta em questão), mas pode fazer como eu e ouvir isso caminhando por sua cidade – afinal música não constrói imagem nenhuma. O “ser” em questão (a música enquanto objeto de consumo e também enquanto objeto de interação) logicamente sai dessas insinuações superficiais pra estabelecer uma relação no ouvinte que reinventa o contexto enquanto a ouve. Ou seja, mesmo que pra um conceito específico (um possível curta) a música sempre vai sair do seu mundo designado pra aplicar representatividade na assimilação alheia. Isso é inevitável. Há um predicado pra construção da trilha mas nunca pra sua assimilação. Esta é multirrepresentativa.

O trabalho apropriador de minha relação com esta trilha é construir o “meu” curta-metragem. A demo é uma dimensão ativa no ouvinte, ela sobrecarrega multirrepresentações e usurpa também o tempo externo – as arrastadas rítmicas do Batismo (codinome de Cássio Figueiredo) perpetuam uma contra-andança ao passo que é impossível fazer outra coisa senão seguir em frente. Pode-se ter a intenção de voltar no tempo, pode-se ter a intenção de apagar o passado, mas mesmo em um terreno plenamente subjetivo é impossível não persistir na continuidade.

Eu tentei compreender a relação música-trilha mas acabei absolutamente trancado em concepções próprias estranhamente auxiliadas por esta trilha. Porque estes poucos minutos do trabalho recolocam uma ordem x em eixo y – por exemplo, os murmúrios da “Cena 1” em cima de algo instrumental desafinado e desgastado.

Pouco a pouco (e com um pouco de insistência) a distinção externa apelativa cede espaço pra nossa interação e ela começar a falar mais alto. Ela começa a sair da nomeação feita pelo Batismo e a relacionar movimentos externos da música dentro dos ouvidos. Ouvir “Trilha Prum Possível Curta” é uma mergulho na capacidade de ressignificação e como isso é capaz de maravilhar, de essencialmente transcender o objetivo anteriormente proposto e inaugurar sensações antes impensáveis (e por isso impossíveis). A demo é parte de algo e também é uma origem com representações múltiplas enquanto estas se deformam por nossa imposição e, paralelamente, deformam nossa concepção.

1. Cena 1
2. Cena 2
3. Cena 3

NOTA: 7,5
Lançamento: 3 de janeiro de 2017
Duração: 8 minutos e 2 segundos
Selo: Nöfi Rec
Produção: Cássio Figueiredo

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