RESENHA: BEACH HOUSE – 7

Ninguém imagina que a música ainda possa mudar o mundo. Raramente aconteceu, raramente acontece, dificilmente acontecerá. E se acontecer, não será a partir da criação vinda de bandas como a Beach House. Isso não é um demérito, ninguém tem essa obrigação. O caso é que a dupla Victoria Legrand e Alex Scally não faz a menor questão de viver no mesmo mundo de tantos problemas e atritos que o resto da humanidade habita. Sua música é inofensiva, mas não tão inofensiva que chegue a incomodar. É apenas uma “música de fundo”, música espectral, não palpável, distante, isentona.

“7”, o sétimo disco do duo (saiba mais aqui), é exatamente como os anteriores, de modo que o Beach House está deitado em seu berço esplêndido, sem muito esforço. “7” se aproxima muito de “Teen Dream” e “Bloom”, os bons discos de canções da banda. Mas, pra além disso, há a adição especial de um nome que injetou certa diferença: Sonic Boom.

O ex-Spacemen 3 Peter Kember assumiu a produção do disco pra dar uma forma mais elástica a esse distanciamento característico. O Beach House está lá, longe de tudo, viajando em seu próprio mundo, mas o peso adicionado às vezes coloca o grupo como algo perceptível e imaginável (vale ouvir “Dark Spring”, “Drunk In LA”, essa com Boom tocando acordeão, “Dive” e “Black Car” como exemplos dessa intromissão).

É como se a música se arrastasse ao redor do ouvinte e não pra dentro. Não carece de atenção. O que sai das caixas se apropria do espaço como se o espaço precisasse ser ocupado, embora não necessariamente como o ar, a luz, o calor, que a gente acaba nem percebendo essa ocupação. Apesar disso, está longe de ser música ambiente. É porque, embora seja considerado correto chamar o Beach House de “dream pop” (um rótulo e nada mais), nunca é só isso. “Look Your Smile” é um pop oitentista e radiofônico (daqueles pra tocar de madrugada) que estaria bem alocado nos créditos finais de um romance cinematográfico esquecível daquela década. As possibilidades são muitas.

Dentro do recorte social e comportamental hoje em dia, talvez o Beach House seja o duo ideal. Sem atritar, sem incomodar, mas também sem facilitar (não é feito pra dançar, não é feito pra adolescentes, não é exatamente pra tocar no rádio), ele é o que as pessoas de fato desejam pra si: existir sem atritar. Quem não busca o confronto, tem mais chances de crescer, é o que dizem. Quem quer a ribalta fácil, tem que puxar os sacos. Quem quer mudar o mundo, precisa lutar todo dia, contra quase todos. Quem só quer viver sem aporrinhação, precisa só existir. E essa é a maioria. Uma massa de gente que só nasce, cresce, sobrevive, reproduz e morre.

Pode parecer triste, mas tem lá sua poesia. É que somos tão diminutos, que soa um tanto egoísta querer se destacar disso, mas, oras, cada um faz o que quer e deseja o que quiser. O Beach House faz da música do distanciamento a música certa pros tempos atuais: estamos bastante conectados, mas não há calor nessa relação.

NOTA: 7,0
Lançamento: 11 de maio de 2018
Duração: 47 minutos e 05 segundos
Selo: Sub Pop
Produção: Sonic Boom e Beach House

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