RESENHA: COLD WAR KIDS – DEAR MISS LONELYHEARTS

Há uma semelhança cruel entre esse novo disco do Cold War Kids e o mais recente do Strokes, “Comedown Machine”. Ouça ambos e pense nas escolhas que as bandas realizaram na criação deles. Está no olhar do pop radiofônico dos anos 1980 a aposta de dois grupos tão distintos.

Enquanto o Strokes escorregou feio na suposta ousadia oitentista-eletrônica, como um pé-no-pau-da-barraca pra expurgar os péssimos relacionamentos internos e institucionais da banda, o Cold War Kids parece realmente acreditar ser essa uma boa saída pra sua música.

Os anos 1980 foram vigorosos e tristes na mesma medida, como qualquer década ou momento da música pop. Saber distinguir o lixo do luxo, o joio do trigo, é tarefa difícil, que só o tempo facilita. Lá se vão, pois, vinte e tantos anos, já dava pra ter uma ideia do que é legal copiar e o que não é.

Strokes e Cold War Kids, embora por motivos diversos, afundaram praticamente na mesma lama. Em ambos os casos, é uma pena. O Strokes pela banda divertidíssima que se mostrou na vitalidade do início da carreira; o Cold War Kids pela ideia inicial de resgate do blues-cristão negro do sul dos Esteites, no bom “Robbers & Cowards”, de 2006.

O impacto inicial foi se diluindo nos discos seguintes e “Mine Is Yours”, de 2011, apesar dos bons momentos, com as quatro primeiras faixas, foi renegado até pela banda. Esperava-se, pois, que o próximo passo fosse uma volta ao passado, uma jogada de segurança, olhando-se pro princípio do Cold War Kids.

Bem, “Dear Miss Lonelyhearts”, o quarto disco do quarteto, foi mais longe e se deu mal. Apesar de “Miracle Mile” começar “pra cima”, uma cara de Cold War Kids do melhor do disco anterior, o que vem a seguir é digno de uma estampa sub-Coldplay (“Lost That Easy, “Bottled Affection” e, principalmente, “Water & Power”) ou sub-Duran Duran (“Loner Phrase”). É pop metido a se imaginar em estádios lotados – não que isso seja realmente um demérito, mas normalmente o que consegue êxito nessas intenções tende ao desprezível.

Ouça “Miracle Mile”:

Pelo menos a produção de Lars Stalfors e Dann Gallucci é menos pavorosa que a do Strokes. Gallucci não pode reclamar de onde se meteu. Ele mexeu bem no som da banda. O ex-guitarrista do Modest Mouse entrou no lugar de Jonnie Russell, que deixou o grupo antes das gravações.

O pior é que a ideia inicial era bem boa: o disco é baseado em “Miss Lonelyheatrs”, livro de Nathanael West, de 1933, sobre um jornalista que escreve sob pseudônimo uma coluna de conselhos, em Nova Iorque. Seu trabalho é considerado uma piada entre seus pares. Lendo as cartas desesperadas de seus leitores, ele começa a apresentar quadros de depressão, alcoolismo e violência. Começa sua jornada pra tentar amenizar a dor, tendo relações perigosas com mulheres casadas e tudo o mais.

O clima pesado pós-Depressão de 1929 é o tom o romance dark de West. Curiosamente, o Cold War Kids achou uma boa transformar essa dor toda em uma felicidade sonora gratuita. À exceção das melancólicas “Fear & Trembling” e “Tuxedos” (a primeira “estranha”, as duas ótimas), da faixa-título (um veículo de exibição dispensável do vocalista Nathan Willett – também autor de todas as letras), e do encerramento com “Bitter Poem”, que bem poderia ser uma canção qualquer da, sei lá, Carly Simon ou Mariah Carey, há animação demais pra um tema tão lúgubre.

Ouça “Fear & Trembling”:

Apesar de tudo isso, “Dear Miss Lonelyhearts” causará menos estragos na carreira do Cold War Kids do que “Comedown Machine” na do Strokes, mas isso só porque o Cold War Kids é uma banda que nunca foi “ninguém”, não tem importância nenhuma. Tinha potencial, mas insiste em negá-lo.

NOTA: 4,0
Lançamento: 2 de abril de 2013
Duração: 36 minutos e 49 segundos
Selo: Downtown Records
Produção: Lars Stalfors e Dann Gallucci

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