RESENHA: COLORAMA – CHAOS WONDERLAND

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As primeiras notas de guitarra tremuladas de “And” dão uma falsa impressão de “Chaos Wonderland”, fazendo o ouvinte crer que está diante de um disco psych na essência.

Não, esse obra não é nada disso. Não é nada do que você possa imaginar, ao ouvir aleatoriamente qualquer uma das suas dez canções. Porque “Chaos Wonderland” é um tanto quanto o título perfeito pra identificar um disco que é caoticamente descentralizado de referências.

Tem Beatles (pule direto pra ótima “Crosville”; além de “Except You”), em grande parte, tem britpop (“Me & She”), tem country, tem pop, tem retrô sessentista (“Black Hole”) tem a facilidade de quem não quer se prender a nada. Tem também o risco da moçoroca cair na vala da não-compreensão.

Mas sabe-se lá que pó mágico Carwyn Ellis utilizou pra juntar essas dez canções de um modo tão carismático, fácil e acessível que nem parece uma coleção de experiências próprias, mas uma oferta aberta de self-service sonoro rasteiro de rápida apreciação e nenhuma ligação afetiva.

Ellis, membro do Pretenders, amigo e colaborador de longa data de Edwyn Collins, parece usar o Colorama, aqui no sétimo disco, como um passatempo bem-sucedido. Isso oferece liberdades, claro.

Acontece que o ouvinte não está lá preocupado muito com tais detalhes. Ao ouvir “Chaos Wonderland”, de acordo com o autor, memórias de lugares que visitou como músico, cheio de vida, movimento e caos, quem faz essa viagem é justamente o receptor. E não é a mesma viagem do artista. Nunca é.

Os lugares não são os mesmos, as experiências são diferentes, as memórias talvez sejam irreais, misturadas com filmes, outras músicas, fotografias, reportagens, documentários e, no fim, “Chaos Wonderland” é só um disco pop pra se ouvir despreocupado, ao fundo, e simplesmente esquecer, descartável, como certas memórias.

Obras “descartáveis”, claro, nunca são essencialmente “descartáveis”, porque elas existem, existiram e estão na memória de alguém, mesmo a “pop art”. Nesse caso, o sentido de “descartável” é de “passageiro” e deve ser o sentido que Ellis pretendeu dar ao seu disco: a ideia de que passamos e retira o melhor daqueles momentos quem for mais hábil observador e tiver o coração e a mente mais abertos.

01. And
02. Dusty Road
03. Me & She (com Lay Low)
04. Black Hole
05. Crosville
06. Except You
07. Damn Tune
08. Conchita
09. Please Tell Me
10. Reconciliation

NOTA: 7,0
Lançamento: 31 de julho de 2020
Duração: 34 minutos e 46 segundos
Selo: Recordiau Agati / Banana & Louie Records
Produção: Shawn Lee

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