RESENHA – CROCODILES – CRIMES OF PASSION

UM GOZO

O quarto disco de Brandon Welchez e Charles Rowell como Crocodiles, “Crimes Of Passion”, é um tanto estranho pra quem vem acompanhando a obra da banda, mas é uma delícia.

Após um terceiro disco que não causou muitas emoções, “Endless Flowers”, de 2012, meio pau-mole, eles mudaram um bocado.

Pode ser o relacionamento ora intenso e bom, ora intensamente atribulado, de Welchez com sua ora ex ora esposa Dee Dee, da Dum Dum Girls, sendo que aqui haja um bocado de boas vibrações refletidas do momento em que passaram; pode ser o fato do disco anterior ter sido gravado em Berlim, na Alemanha, e esse novo, na ensolarada Los Angeles, Esteites, entre corpos oferecidos; pode ser a escolha do Raveonettes Sune Rose Wagner; mas o fato é que há um bocado de alto astral no som de “Crimes Of Passion”, exalando sexo por todas as notas.

O som do Crocodiles, que outrora mergulhava nas ruidosas ligações com o Jesus & Mary Chain (principalmente nos dois primeiros discos, “Summer Of Hate”, de 2009; e “Sleep Forever”, de 2010), hoje amplia bastante o espectro, sendo percebido quase como um disco… do Raveonettes.

E isso é bom. Fosse de fato um disco do Raveonettes e seria um bom disco do Raveonettes, ou não teria dívida alguma em comparação com a discografia dos dinamarqueses. Ponto pra Sune Wagner, que detectou na dupla Welchez e Rowell o que percebe de melhor pra si.

Amaciar a velocidade sônica e a acidez dos mestres Jesus & Mary Chain não foi uma jogada ruim em “Crimes Of Passion”. Há uma muralha menos expressiva de microfonia, fazendo com que o ouvinte perceba a participação da cantora soul Afrodyete, do Breakestra, na peça de abertura, “I Like It In The Dark”, com pianos e um gingado desconcertante. A banda se aproxima do Primal Scream. Faz sentido pra quem quer requebrar, seguindo uma linha lógica de referências musicais.

“Marquis De Sade” é uma das melhores do álbum, pop intenso e simples, como o Jesus & Mary Chain já fez diversas vezes, apresentando um refrão delicioso, pra se meter numa boa e bem-vinda barulheira eventual (pra alegrar os fãs de longa data). Aliás, é pra fãs de longa data que existem “Cockroach” e “Gimme Some Annihilation”, aceleradas, dançantes, lascivas, pra ouvir alto enquanto dirige inconsequentemente por uma estrada livre, já avisando o que vem por a seguir no disco. É Sune mexendo seus pauzinhos (!) na mesa.

Ouça “Marquis De Sade”:

Aí, o disco chega na sua fase de melodias assobiáveis, bem Raveonettes. Como não se entregar a “Heavy Metal Clouds” (com um inusitado solo de guitarra), “Teardrop Guitar”, “She Splits Me Up” e, claro, “Me And My Machine Gun”?

A dupla (com apoio total do produtor) fala de sexo, sexo violento, intenso, amor, sem ser melosa, discutindo o nada-demais, só falando sobre o assunto e sendo o mais direto possível – tudo refletido na sonoridade adolescente, ainda cheia de energia, sem se preocupar em contê-la. É um delírio, uma explosão, um “extravaso”, um gozo.

Há até uma lentinha encerrando o disco, “Un Chant D’Amour”, porque em francês é mais gostoso.

Os crimes de paixão do Crocodiles são muitos, a lista em suas canções é até óbvia, mas o melhor “crime” deles é fazer do jeito que gostam. A música, bem entendido. Aqui, um ménage à trois com seu produtor. Pra ouvir, suar, sorrir e acender um cigarro depois.

Ouça “Teardrop Guitar”:

NOTA: 7,0 (mas a nota que a Pitchfork deu é mais legal)
Lançamento: 20 de agosto de 2013
Duração: 34 minutos e 01 segundos
Selo: Frenck Kiss
Produção: Sune Rose Wagner

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