RESENHA: DEAF KIDS – CONFIGURAÇÃO DO LAMENTO

O Deaf Kids é resultado de uma violenta imersão em várias ramificações de música ruidosa. Seguindo cada vez mais em sua ruptura com qualquer tipo de formulação simples, temos em “Configuração Do Lamento” uma concatenação caótica de diluições – a música tribal, as guitarras distorcidas – explorando um cenário brutal. “Configuração Do Lamento” não só flagra tradições musicais em ruínas, como o próprio álbum parece sugerir um caminho pra devastação.

A agressividade vale ser a pena mencionada e como ainda é possível fazer trabalhos que transitam e chocam o ouvinte em uma época que até as coisas ditas “pesadas” parecem surgir de algum tipo de formulação estancada.

O ritmo frenético flertando com o d-beat – a bateria rápida, os rifes – se distancia da estrutura tradicional em uma cacofonia abrasiva. A distinção máxima da banda é não apenas explorar uma possibilidade; eles se afundam em um pretexto e tiram proveito de sua estrutura até o fim, muitas vezes com a evocação de música concreta.

O resultado é ao mesmo tempo elétrico e perturbador, nós realmente ficamos incomodados. A complexidade temática exigia realmente isso: a repetição sangrenta na história de formação da América Latina. Pode-se tatear a dizimação com cada pancada que “Configuração Do Lamento mira no ouvinte”.

É essa disparidade de direções que culminam em um mesmo alvo que me faz vibrar com este álbum. É como se a violência pudesse surgir de qualquer direção abrindo caminho numa turbulência crescente. E nessa pancada nenhum membro do corpo passa ileso – é incrível como não há contenção na explosão dos elementos. Fica uma áurea irônica de despejo possível e que resvala até num preciosismo sonoro, cortando qualquer perspectiva conservadora. E por isso é uma música radical. Porque se aproveita das diversas influências dos integrantes e as arremessam em um processo que parece um ritual deplorado.

“Configuração Do Lamento” é um dos discos mais difíceis deste ano, mas também é a montagem de um painel que nasceu de um sofrimento inexprimível. Não poderia ser de outra maneira.

A
1. Veia Aberta
2. Entranhas
3. Lâmina Cortante
4. As Mesmas Ferramentas, Os Mesmos Rituais
5. Propagação

B
1. Pés Atados
2. Mordaça
3. Distopia Permanente

NOTA: 8,0
Lançamento: 26 de maio de 2016
Duração: 22 minutos e 53 segundos
Selo: RAW Records e Burning London Records
Produção: Dovglas Leal, Andre Leal e Kleber Mariano

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