RESENHA: HOUSEWIVES – TWILIGHT SPLENDOUR

Um dos desejos clássicos de toda criança está se tornar um astronauta quando crescer. O magnífico fascínio que o mundo espacial, cheio de possíveis aventuras e descobertas, inunda a mente ainda em formação da criança. Há descobertas durante toda a vida, pra quem não tranca a mente e as possibilidades. Ser astronauta fica pra trás com a maturidade, mas não os mistérios que o mundo guarda, esses, até o fim da existência de cada um de nós, ainda estão esperando serem desvendados.

Experimentação. Termo que deságua nas descobertas. Erros e acertos, tentativa e frustrações. O Housewives vai tateando até chegar ao seu fascinante universo de descobrimentos. Depois do disco de estreia “Work”, de 2015 (ouça aqui), o quinteto vendeu suas guitarras e alusões ao pós-punk pra se infiltrar no mundo eletrônico introspectivo. Equipamentos de baixa qualidade, antigos e ainda produtivos levaram o Housewives a dar em “Twilight Splendour”, seu segundo disco, uma reviravolta radical.

Não que em “Work” o quinteto estivesse disposto a concessões. Não era bem assim, como se ouve em seus temas cheios de quebras e sobressaltos. A estrutura criativa ousada continua em “Twilight Splendour”, embora sem a agressividade anterior. As canções são espectrais, com o vocal a la Ian Curtis, impressionando pela falta de dedicação à facilidade. A banda está experimentando de outro modo – “a modernidade é caótica e complexa. Não há uma maneira fácil de se envolver com essas coisas, parece que a única maneira de responder é com caminhos e formas complicadas e diferenciadas”, eles disseram em entrevista.

As oito faixas se sucedem como um viagem tranquila, reflexiva, em busca de um destino não determinado. O baixo expressivo, o sax imprevisível (em “SmttnKtts” e em “Texu”) e a bateria sempre errante distribuem pistas sobre o passado e o presente, nunca sobre o futuro, porque o futuro é uma incógnita. O futuro é o fascínio. E por “futuro” entenda-se a relação espaço-tempo da própria banda. Onde quer chegar, como quer chegar, os motivos que a levam até esse querer: assim como uma mente ainda vazia de criança, o Housewives simplesmente ponderou que ainda há muito o que descobrir, mesmo com uma carreira já iniciada, mesmo com uma monta de fãs já angariada. Nada é impossível de desejar, nenhuma teoria é impossível de construir.

Housewives foi em busca de um novo universo. “Sublimate Pt. I” e “Sublimate Pt. II” podem ser um universo reconhecível, mas é o mais próximo que o ouvinte vai ter. Na mancha criada entre o soturno e o vibrante, brotam músicas de sentimentos complexos, fáceis de definir numa etiqueta pré-fabricada de crítica musical, mas inqualificáveis no plano emocional. É uma viagem estimulante e errante por aí, destino algum em vista, numa rota que se altera a cada audição, como o mais bem-vindo dos imprevistos.

1. Beneath The Glass
2. Speak To Me
3. Dormi
4. SmttnKttns
5. Texu
6. Sublimate Pt. I
7. Sublimate Pt. II
8. Hexadecimal Wave / Binary Rock

NOTA: 9,5
Lançamento: 22 de março de 2019
Duração: 36 minutos e 54 segundos
Selo: Blank Editions
Produção: Housewives

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