RESENHA: IN VENUS – RUÍNA

O In Venus parece ter a coragem de enfrentar (e, mais importante, aceitar) as múltiplas instâncias contemporâneas, observando a fragmentação como possibilidade que abastece seu som. É um grupo que utiliza diversos recortes sonoros que aderem seu discurso pra relatar assuntos urgentes.

Mas o que mais chama a atenção no quarteto é que parece que ele fez um tratado e cada instrumentista não se deixou definir por papéis prévios (o que é um deserto criativo pra muitas bandas novas) de forma que cada músico impulsiona o outro (mais ou menos como num ensaio aberto). É este esforço conjunto que grita por uma existência, por um espaço (criativo) que não se ausente perante as dificuldades presentes.

Sabe-se que qualquer coisa é política, mas a forma urgente que a banda mostra seus temas (como em “Digital Relationships”) evidencia que “se engajar” de verdade e, acima disso, numa abordagem estética que foge dos tantos clichês da “música politizada”, requer um esforço de sempre estar em movimento, se recusando a uma estagnação. Por isso, a narrativa de experiências que se fundem (pelo pouco que eu pude entender das letras) – através da percepção isolada do eu-lírico – em uma situação social degenerada. Como indivíduos que se situam bem no meio desta avalanche de informações globalizada, que têm de trabalhar e ainda assim topam levar este troço de “ter uma banda” pra frente, enfrentando problemas que eles mesmos constatam.

Se eles “correm em círculos” e veem um mundo de significados escassos, constatar que ainda não estão sozinhos, em conjunto com os acordes distorcidos, cristaliza uma fresta no instituído, uma saída, ainda que tímida, da continuação estúpida a qual estamos todos submetidos. Assim, como diz o título, o mundo está – de fato – em ruínas, mas esta espécie de “falta plena” cristalizada em valores dizimados não é o suficiente pra calar a banda e deixá-los subordinados a seja lá qual forma de poder atada aos tornozelos.

As várias influências que gritam no disco não embaçam o berro próprio que “Ruínas” vai formando – socos na cara como a faixa “Cotidiano” precisam ser desferidos constantemente, mas mais do que isso, eles precisam ser expressos no mais urgente agora, pra que as estruturas não pesem tanto nas costas a ponto de impossibilitar qualquer eco próprio.

A ponto das mentiras que controlam e programam nossas atividades, nossos “likes” e nossos “inbox”, serem desveladas pra se atentar a uma cidade refém de transeuntes que estão sempre em outro lugar. Porque cantar isso não necessariamente traz conforto, mas é um grito de desespero contra o próprio desconforto de vagar em terras devastadas.

1. Youth Generation
2. Burn
3. Better Days
4. Digital Relationships
5. Mother Nature
6. Go
7. What Do You Fight For?
8. Cotidiano
9. Inverno Da Alma

NOTA: 7,5
Lançamento: 16 de maio de 2017
Duração: 32 minutos e 43 segundos
Selo: Howlin’ Records
Produção: Lucas Lippaus

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