RESENHA: ISABEL NOGUEIRA – METEORO-PHOENIX

“Meteoro-Phoenix” parece exercitar minha paciência (sem demérito algum) enquanto delibera sequências impensáveis a partir dos sintetizadores de Isabel Nogueira. A jornada inconsciente que Nogueira propõe suspende o ouvinte em sons “puros” (apesar de distorcidos) emitidos fragmentadamente. É como se ela nos entregasse uma espécie de “tempo próprio” pra, principalmente, sentir tudo o que ocorre na gravação.

Essa abordagem, portanto, forma um terreno – cheio de ranhuras e modificações forçadas e silêncio interrompido – que, como um vírus, se adapta ao seu meio sonoro e é modificado por ele enquanto influencia diretamente nos contrastes experimentados pelo ouvinte. A única peça é essa estática faixa, que invade e constrói, muda e destrói. A “falta” de batidas (tão comuns em música eletrônica) desorienta qualquer eixo narrativo possível em “Meteoro-Phoenix”. Uma vez que o som de Nogueira sintoniza sua mente, a suspensão faz seu efeito e o deslocamento sem ritmo algum está instalado.

Eu escutei a peça algumas vezes consecutivas e sinceramente fiquei desorientado com a proposta. “Se perder em sons” é um clichê tão comum, mas que se encaixa destramente com Isabel Nogueira. As próprias chacoalhadas que formam uma argamassa densa têm um impacto significativo quando prosseguidas de um silêncio que, sem intervalo algum, se torna em outro reduto sonoro, apesar de utilizar das mesmas propriedades. Todas essas variações de tipos de sons emitidos – e também o nível do volume – tornam “Meteoro-Phoenix” algo indubitavelmente físico.

A densidade fica mais perversa e sombria – ainda assim carregando as variações – aos vinte minutos, quando um drone fica de plano de fundo enquanto sequências indeterminadas acompanham uma onipresença maior. Nos últimos minutos da audição, eu encarei um paradoxo: ao mesmo tempo em que a peça soava com alguma composição (no sentido clássico), as rupturas eram mais bruscas e violentas, estabelecendo como necessidade última uma suspensão espectral. Como se fosse um buraco magnético que suga qualquer intervenção possível, multiplicando os elementos na audição.

Esses sons constantemente recriam espaços e exploram possibilidades. Esse procedimento que recusa “batidas” porque não quer pré-fabricar ritmos, mas sim uma acumulação sonora que ambienta divergências, reuniões e agrupamentos improváveis. Isso dá a Isabel Nogueira uma assinatura sonora, da qual ela submete o ouvinte a experiências que desafiam seus próprios limites, já que constantemente são reformuladas.

(pra ouvir na íntegra e ler mais sobre a obra, vá ao artigo original que o Floga-se publicou quando do lançamento do disco, clicando aqui)

NOTA: 8,0
Lançamento: 20 de abril de 2017
Duração: 30 minutos e 00 segundos
Selo: Mansarda Records
Produção: Isabel Nogueira

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