RESENHA: LINDBERG HOTEL – BEDROOM TRIPPING

Um disco que começa com uma canção chamada “Sound & Fury” sugestiona o ouvinte. “Life is just too short baby / It’s a long time to have fun”, canta Claudio Romanichen, curitibano dono do Lindberg Hotel. Mas o ouvinte não vai ouvir fúria como está acostumado. Há uma aparente ironia e alegria misturadas no balaio de “Bedroom Tripping”, segundo disco do projeto.

A vida é curta, mas é mais do que o suficiente pra se divertir. Você vive sua vida dentro de uma música dos Smiths (“Infinite Girl”). Tudo o que ele tinha era uma vida solitária quando foi atropelado por um carro (“Hit By A Car”). Romanichen canta em inglês e joga pra além das fronteira brasileiras o seu desânimo e entusiasmo com o derrotismo, a sua apreciação pelo desgosto e desamparo com os perdedores. É tudo meio misturado e impreciso, otimismo e pessimismo juntos.

O Lindberg Hotel já foi shoegaze no ótimo “Lindberg Hotel”, estreia de 2014 (ouça aqui), e hoje resolveu mexer com texturas, camadas e novas sonoridades mais limpas. “Bedroom Tripping” tem Teenage Fanclub (“Come To Bed” e “Hit By A Car”), tem Primal Scream (“Shooting Star”) tem Thrills (“Bedroom Tripping”), mas não tem fúria – nem adolescente, nem ideológica, nem romântica. É um disco sem explosão sentimental, mas não é um disco distante. É caloroso porque poderia ter sido feito por qualquer um com um pingo de humor diante dos piores momentos enfrentados e que saiba criar melodias saborosas (bom, não são muitas pessoas com esse privilégio).

É curioso ser enganado assim de cara e acabar agradecendo. Numa época feroz, com farpas políticas, democracia bamba ao sabor dos desejos do capital avassalador, sociedade desconexa, violência pra todo gosto, nem sempre uma obra tão abstrata cairia bem. A gente que é chutar as canelas dos opressores, ou pelo menos achar que está chutando. Mas “Bedroom Tripping” é um refresco. O escapismo é um refresco em épocas duras. Pode ser visto como defesa, ilusão, idiotia, mas ninguém é obrigado a cantar males e doenças. É que o que não cai bem é o amor idílico adolescente, o da rosinha, sol, montanha e violão. As tintas que carregamos com ironia e autodepreciação ajudam a pintar uma via de estudo pessoal (e social) tão voraz e contundente quanto. Também é uma arma. Nem só de voadoras na porta do sistema se vive a fúria da juventude. O coração também precisa bater e rir de si, criticar a si próprio.

Melhor do que soprar os problemas pra longe, é assobiá-los, com todo cuidado pra não esquecer deles.

01. Sound & Fury
02. Infinite Girl
03. Come To Bed
04. Hit By A Car
05. Cabaraquara
06. Sad Rainy Days
07. Good Soul
08. Shooting Star
09. Lovers Left Alive
10. Bedroom Tripping

NOTA: 7,5
Lançamento: 10 de agosto de 2018
Duração: 37 minutos e 03 segundos
Selo: Transtorninho Records
Produção: Claudio Romanichen

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