RESENHA: MELIES – EPHEMERIS

É tão bonito e eu não quero pensar que tá tudo horrível.

Assim sendo, a noção efêmera da beleza (ou felicidade) estende-se pra poder checar a vida com olhos fortalecidos. Eu digo isso porque logo na segunda faixa, “Sea Of Stars”, eu já estava rendido à ambientação do Melies, em seu disco de estreia. E depois que desliguei o som, aquelas melodias faziam parte de mim e, reparando no silêncio da casa vazia, eu reparei que elas continuavam sendo reproduzidas em mim – de modo que o silêncio externo era rompido. Você poderia chamar isso de impressão, mas eu prefiro me atentar pra graça de ser verdadeiramente tocado pela música. Ser fragmentado parecia ser completo. Eu aderi ao instante, eu presenciei uma comunhão que eu havia esquecido ser possível.

O axioma da distância com o mundo estava suspenso, o piano (ou teclados) de “Abyss” embalava uma libertação (ainda que provisória) das cláusulas do mundo. Eu não era mais social, eu não estava mais rebaixado – eu era qualquer outra coisa. Ser este vácuo me deixou aberto ao testemunho de outras possibilidades, outras variações.

No entanto, o ponto crucial do Melies talvez precise ser melhor exemplificado. É que os vestígios impressos em “Ephemeris” são retalhos de qualquer coisa (experiências, técnicas, esboços) que surgem pra se confirmar e elevar o som a algo puro e, temporariamente, sem vestígios conceituais ou tecnicistas. As funções não importam muito e nem o tempo objetivo da (curta) duração das faixas. Elas fazem jus ao nome do disco que alçam detalhes aparentemente tão pequenos a uma dimensão cósmica e, portanto, humana.

O problema da maioria da música contemporânea é que ou os artistas acham que devem permanecer sonoramente pequenos e fazer umas coisas apenas “legais” ou acreditam (talvez por causa de uma fanbase xiita) que o que eles estão fazendo é “gigantesco” em função dum pequeno nicho. É um problema muito mais na maneira de se encarar a música do que condições técnicas para produzi-la. O Melies é importante não por precisar de subterfúgios tão vagos pra afirmar algo, mas por reconhecer em seus mínimos vestígios as transformações abruptas que os próprios sons podem incorporar.

1. Breathe
2. Sea Of Stars
3. Fireflies
4. Far From You
5. Abyss
6. Waves Of Light
7. Return
8. Submerse
9. Seakalm

NOTA: 8,0
Lançamento: 1º de março de 2017
Duração: 23 minutos e 07 segundos
Selo: Nap Nap Records
Produção: Danna e Giovanni Caracho

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