RESENHA: MY MAGICAL GLOWING LENS – COSMOS

“Sideral”, a primeira faixa de “Cosmos”, disco de estreia dos capixabas do My Magical Glowing Lens, dimensiona um espaço sonoro que faz jus ao nome da canção: guitarras distorcidas e sintetizadores que marcam o primeiro plano como uma transição contínua.

A voz de Gabriela Deptulski ganha densidade à medida que a repetição instrumental cria o ambiente do disco. Com uma temática que se concentra, realmente, em relatar sobre o espaço, a abordagem psicodélica da banda contata o ouvinte ao suspendê-lo e, nessa suspensão, aplicar diferentes sonoridades que não necessariamente confirmam o precedido. Os símbolos materiais (óculos escuros) são relatados como símbolos que recebem o natural (raios de sol). “Cosmos” se baseia em momentos cotidianos e aplica nestes toda a vasta dimensão do universo. A própria capa revela como um momento é estendido de outras percepções que, elas mesmas, caracterizam uma constante renovação do olhar.

O flerte sonoro com diversos gêneros também exemplifica a capacidade da banda ao olhar as coisas em uma multidimensão, como se o fim de uma camada fosse – necessariamente – a continuação de outra. Essa elegância psicodélica pinta todas as canções com detalhes que demandam muitas audições pra não passarem desapercebidos – ainda assim, eu acho que deixei escapar muita coisa.

Em teoria, o disco estaria bom já a partir dos múltiplos detalhes organizados por uma cuidadosa produção, mas o olhar generoso da banda sobre o que está ao redor (e, de alguma forma, a falta de uma interioridade – “Não Há Um Você No Seu Interior”) é o que deixa a mediação entre o “ser” e o “espaço” ser exercida preenchendo vácuos. É sempre em uma transição que a sonoridade da banda se ancora, e isso foi o que mais me chamou a atenção.

“Cosmos” é um dos 50 discos selecionados pra você ouvir no primeiro semestre:

Esse foco da banda, no entanto, não é uma espécie de “ânsia” pra preencher qualquer espécie de vazio, mas surge naturalmente da originalidade que um simples olhar pode gerar. Redescobrir olhares, pra sair do campo teórico, é investir em sonoridades sequenciais, que tenham o mesmo epicentro, mas quase nunca o mesmo destino específico. Por isso falar sobre as referências sonoras (que eu imagino) da banda seria tolice. O esmero ruidoso que as canções mostram também não demonstram aprisionamento algum. Num sentido mais amplo, a composição do My Magical Glowing Lens reflete muito conhecimento no funcionamento do conjunto, mas também uma liberdade em que nenhum caminho musical soa como prioridade. Tantos tons somente poderiam ser absorvidos (e, claro, criados) a partir de tal liberdade.

Como uma homenagem à capacidade de reinterpretação dos próprios membros da banda, “Cosmos” ritualiza formas de preencher a distância. Curiosamente, dessas formas originam-se outros revestimentos e por aí a fora. Claro, o empenho de tantas abordagens em um mesmo projeto só poderia render absorções múltiplas, que nunca conseguem catalogar o início de coisa alguma. É esse o tributo da banda ao próprio esforço: que cada vez que o ouvinte for em direção ao disco, este pode-se mostrar completamente renovado.

Se esses desenvolvimentos necessitam de uma atenção maior pra serem visitados é um esforço que cabe ao ouvinte, a banda já fez sua parte.

01. Sideral
02. Space Woods
03. Raio De Sol
04. Tente Entender
05. Não Há Um Você No Seu Interior
06. Azul Cósmico
07. Noite Estrelada
08. Da Selva Pro Mar
09. Portal
10. Supernova
11. Madruga

NOTA: 7,0
Lançamento: 29 de maio de 2017
Duração: 39 minutos e 00 segundos
Selo: Honey Bomb Records, Subtrópico e PWR Records
Produção: My Magical Glowing Lens

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