RESENHA: NEW ORDER – MUSIC COMPLETE

Muita gente pode pensar que esse é o último disco no New Order. O título ajuda nessa percepção. A música está completa, o ciclo se completa. Gilliam Gilbert, a tecladista boa-praça, afirmou à Folha de S. Paulo que não, esse não é o último disco do grupo: “pensam que este é o nosso último dico ou um álbum de aniversário da banda. Na verdade, quando você ouve as faixas, elas soam como uma coleção completa do New Order. Queríamos recriar um pouco da atmosfera que permeava os discos antigos, só que tudo de uma vez”.

Essa afirmação é mais ou menos tudo o que você precisa saber sobre o décimo disco do New Order, “Music Complete”, lançado em setembro de 2015. Diz muito sobre o que você vai ouvir nas onze faixas.

De fato, é possível, com esse direcionamento e sugestão em mente, identificar fases criativas da banda aqui e ali. Mas essencialmente parece que essa auto homenagem se limita aos segundos inciais de cada canção. No resto de cada uma delas, há uma explosão tecno/dance como há muito não se ouvia com a banda, talvez desde a coletânea “Substance”. Gilbert, afinal, não contou tudo, não entregou todo o jogo.

Até porque “Music Complete” não é nem o New Order completo. Embora a própria tecladista tenha voltado à formação, mais de dez anos depois de ter se afastado pra criar suas duas filhas (com o baterista Stephen Morris) – ela de fato só não participou das gravações de “Waiting For The Sirens’ Call”, o disco imediatamente anterior, de 2005, e das turnês desde 1998 -, Peter Hook, o icônico baixista, pela primeira vez não é creditado num álbum do New Order. Pra muita gente, isso faz toda a diferença. Será?

Quando Gilbert tirou seu sabático pra cuidar das filhas (segundo ela, uma escolha do casal, já que seria mais fácil a banda substitui-la do que substituir Morris), Phil Cunningham assumiu seu lugar nas apresentações ao vivo e no disco em que ela não participou. Está na banda até hoje, assumindo uma das guitarras, quando ela retomou seu lugar de direito.

Já pro lugar de Hook, que não voltaria de jeito nenhum, por conta da briga judicial com os ex-companheiros (ele pede quase quatro milhões de dólares em “royalties devidos”), o grupo recrutou Tom Chapman, parceiro de Bernard Summer no insosso Bad Lieutenant.

Chapman e Cunningham mantiveram-se nos postos pra “Music Complete” e o New Order é oficialmente um quinteto, enfim.

Pra uma banda que de certa forma sempre foi autorreferencial, e que vive ora remoendo o passado, ora surpreendendo-se com um presente sempre alguns anos a sua frente, são mudanças consideráveis.

“Music Complete” consegue divertir. É um disco positivo e otimista em todas as faixas. Sempre pra cima. É feito pra dançar, pra se esbaldar. E cumpre seu objetivo.

Se o começo de “Restless” ecoa a fase mais “guitarra” de “Get Ready”; o começo de “Singularity” vai mais ao passado e lembra algo do “Movement” ou do “Power Corruption & Lies”, assim como “Stray Dog”, que também poderia estar em “Republic”. “Tutti Frutti” e “People On The High Lane” poderiam estar em “Technique”. Há várias autorreferências no começo das faixas. Mas isso não é tudo. O New Order está absurdamente mais dançante e aí é que está a diferença de “Music Complete”.

Ouça “Restless”:

Porque se a ideia é homenagear o passado, a banda também olha pro futuro com mais desprendimento, sem tanto exigência de parecer mais moderna – vale lembrar que ao New Order sempre coube o peso de ser influenciador; mas quando, a partir de “Technique”, passou a deixar de ser, ficou com a impressão de estar sempre correndo atrás de um mundo cada vez mais rápido pra banda (os oito anos de diferença de “Republic” pra “Get Ready” não foram à toa).

O New Order de “Music Complete” parece ter, enfim, se ajustado a essa velocidade dos tempos atuais. Se as coisas acontecem rápido demais, a solução foi relaxar e se abrir pra todo tipo de influência: os novos integrantes, a saída de Hook, os convidados especiais (Iggy Pop, em “Stray Dog”; Brandon Flowers, do Killers, em “Superheated”; Elly Jackson/La Roux, em outras três faixas), a dance music que permeia a própria carreira e as influências do passado e do presente.

Daí que os apaixonados por Hook não podem reclamar de linhas de baixo contundentes – elas existem em “Nothing But A Fool”. Também não podem reclamar da falta daquela disco (e esperteza) que influenciou “Blue Monday” – “Plastic” é a faixa mais Donna Summer que Giorgio Moroder poderia imaginar. Muito menos da fatia pop criativa e melódica que o grupo já mostrou em tempos áureos – “Superheated” é radiofônica, forçada e curiosamente depreciativa.

Ouça “Plastic”:

Os únicos escorregões podem ser atribuídos a “Unlearn This Hatred” e “The Game”, mas isso é uma determinação muito pessoal.

Seria curioso se esse fosse mesmo o último disco do New Order. Uma banda dessa envergadura chegaria ao fim com o privilégio raro de encerrar a carreira com uma obra eloquente e distinta. Mas se realmente não for, como sugere Gilbert, pode ser o início de uma sequência bem frutífera na discografia do grupo.

O New Order finalmente descobriu seu lugar no novo século.

NOTA: 8,5
Lançamento: 25 de setembro de 2015
Duração: 63 minutos e 12 segundos
Selo: Mute
Produção: New Order e Tom Rowlands

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