RESENHA: SIBA – DE BAILE SOLTO

Ouvir “De Baile Solto” é um evidente mergulho na região que Siba busca exprimir em suas letras. O vocalista e guitarrista produziu esse álbum com um objetivo claro – manifestar uma identidade musical estabelecida nas mais diversas expressões pernambucanas. Podemos perceber nesse rico conteúdo sonoro evocações que se referem a mitos, festas, cantorias.

É nessa ciranda da música tradicional que Siba resignifica a estética nordestina com o rock’n’roll que lhe influenciou tanto. Podem-se ouvir tantas expressões e vertentes sonoras em “De Baile Solto” que fica difícil determinar uma ocasião específica pra sua audição – embora o título do álbum dê a melhor indicação.

Considerando seu último trabalho, “Avante” (2012), “De Baile Solto” é um terreno em que os destinos das músicas são completamente imprevisíveis. Então, é evidente que se debruçar sobre a tão dita música “folclórica” está longe de ser um assentamento na zona de conforto. Siba atua como um verdadeiro pintor e descreve (as letras estão muito ancoradas em imagens) com tanta precisão os “atos” que preenchem o dia-a-dia pernambucano – sempre falando de valores como fé, reunião popular e, principalmente, celebrações. Na faixa-título, essa manifestação fica evidente quando em sua introdução há um “animador de festa”, que avisa sobre a orquestra que vai tocar.

Mas nem tudo é festa em “De Baile Solto”. Siba retrata temas com nostalgia e discorre sobre sonhos de infância, ao ponto que “empresta” memórias suas a objetos inanimados. Ele fala sobre as varandas que, embora tão comuns, são partes incondicionais das cidades. Suas músicas dialogam sobre as cores que preenchem a população pernambucana.

O consumo é abordado na relação desigual entre classe alta e classe baixa. Siba, em primeiro momento, constrói todo o clima do álbum pra mostrar o lado festivo da população que ele representa.

Mas tudo flutua e nada é estático em “De Baila Solto”; o cigarro abandonado na mesa do bar logo vai apagar, assim como o sonho do tal “cabra”, assim como o balão que voa até não resistir mais à pressão atmosférica. Siba reconhece que a brincadeira é inerente ao jogo de consumo em que ele tanto insiste ao decorrer do disco; o detalhe, nada insignificante, é essa resistência das marchas e das danças. Portanto, o cantor não apenas observa do alto de sua pirâmide; ele é tão participante dos acontecimentos quanto o Gavião. Não se trata de questões levantadas e muito menos de respostas óbvias – é um dizer do corpo. A compreensão brota da experiência.

Na íntegra:

Siba gosta de contar histórias e em toda sua discografia tem sido assim. Ele deixa claro que não quer ficar “apenas olhando”, então suas narrativas se fundem com sua própria trajetória artística e pessoal. É nesse ponto que “De Baile Solto” mais chama atenção; a expressão do “eu lírico” e as descrições espaciais se fundem tanto que é impossível desassociar ambas.

A “diversidade” da população pernambucana não é celebrada apenas por sua vastidão. Siba se debruça e produz cenas precisas e através delas (ou seja, da própria experiência) comemora tais fenômenos.

Por tudo isso, falar sobre “investigação” seria reduzir o que Siba vem construindo com sua obra há anos. Essa que vem se desenvolvendo em um corpo sonoro que comanda os “mergulhos” que o compositor crava pra afirmar não só a si mesmo, mas também uma população que não pode ser expressa senão por tamanha significância.

NOTA: 7,0
Lançamento: 13 de maio de 2015
Duração: 44 minutos e 14 segundos
Selo: Ybmusic
Produção: Siba

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