RESENHA: SIXKICKS – YOU SHOULD SING IN PORTUGUESE BUY MORE PEDALS AND PLAY LOWER (EP)

Conselhos bons são conselhos sinceros, mas conselhos úteis são aqueles que não se distribuem, melhor guardar pra si. Ainda mais em expressões artísticas, algo muito pessoal. Na música, a parte técnica é uma seara onde muitos gostam de meter o bedelho em busca de uma precisão que é talvez ainda mais relativa, porque depende das intenções artísticas, que, repito, são muito pessoais.

O divertido título do primeiro EP das mato-grossenses-paulistanas SixKicks, “You Should Sing In Portuguese Buy More Pedals And Play Lower”, é justamente o contrário do que elas fazem: cantam em inglês (tem uma em português também, por que não?), possuem uma configuração simples e explosiva, com baixo e guitarra apenas, e definitivamente não tocam em volume baixo.

As quatro canções oferecem um noventismo bem longe de ser reverencial e reducionista como a geração dos 2000/2010 costuma mostrar, incorporando stoner, garage e forró e maracatu sem a usual condescendência forçada. O “parecer brasileiro” da música do SixKicks não força a barra, algo que o Macaco Bong fez muito bem no ótimo “Macaco Bong”, de 2016 (vá aqui). “Forrock” (releve o título) é exatamente isso, com um vocal deliciosamente posado e caipiresco (a letra é uma adaptação desse clássico local).

Há um bairrismo velado (como nosso machismo e nosso racismo, que o brasileiro insiste em ser “mito” ou invenção carregada de “vitimismo”) dos paulistas e cariocas com relação ao resto do país. Como se em São Paulo residisse todo conhecimento, inteligência e sabedoria sobre qualquer assunto e por isso fosse “natural” aconselhar como quem vem de fora deve se portar, ouvir, produzir, fazer. A tosquice não é regra, mas ela está bem presente também nos subterrâneos da música, onde deveria haver empatia como regra.

“Take Time” fala dos sonhos de construir um futuro por conta própria, sem os urubus atazanando no caminho. Leva tempo chegar lá e nem sempre é possível – e se não for possível, os arautos da sabedoria dirão que foi “intransigência”, teimosia. Mas a música jovem e explosiva se faz justamente ignorando os conselhos e a dita “sabedoria”. É uma música de tentativa-e-erro, de bobagens e enganos. É uma expressão artística baseada nos hormônios da idade, do auto-conhecimento e desarranjo com a realidade total (em arranjo apenas com a própria realidade e rala experiência). É aí que mora a graça. É inconsequente. Eis que, então, “Take Time” só podia falar de desejos e sonhos, porque lá pra frente, com a maturidade e novas experiências, isso muda. Se levar tempo de mais pra qualquer coisa, o que é relevante agora pode se tornar vergonhoso ou descartável.

Só que a SixKicks explode suas energias agora, não tem pra depois. É algo instintivo, músicas feitas na hora, com o rife e a ideia que surgir naquele momento. Como aceitar conselhos quaisquer num cenário desses? Melhor não, vai soar por demais falso e destruir essa “pureza” da dupla. Marjorie Jorie (guitarra e vocal) e Theodora Charbel (bateria e vocal) funcionam no ímpeto, na intuição. O ouvido, a pele, o coração comandam acima de qualquer possibilidade de razão.

1. You Wanna Fuck Me
2. Forrock
3. Take Time
4. Doom

NOTA: 8,5
Lançamento: 25 de setembro de 2017
Duração: 16 minutos e 38 segundos
Selo: PWR Records
Produção: Alejandra Luciani

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