RESENHA: SPIRITUALIZED – SWEET HEART SWEET LIGHT

A TENTAÇÃO DE OUVIR UMA MÚSICA SÓ

É por aí. “Sweet Heart Sweet Light”, o sétimo disco do Spiritualized, comete uns errinhos bestas. O principal: começar com a extraordinária “Hey Jane”.

A música, de oito minutos e cinquenta e dois segundos, é tão boa, tão “épica”, que ao final talvez o ouvinte não esteja exatamente disposto a ouvir mais nada. Rigorosamente mais nada. E ela é tão superior às demais, que corre o risco de muita gente achar que “Sweet Heart Sweet Light” deveria se resumir a ela.

Ouça “Hey Jane”:

Seria uma pena, entretanto. Se o ouvinte passar pela preguiçosa e pouco inventiva “Little Girl” (tem até um solo de guitarra deslocado), e chegar a “Headin’ For The Top Now” e “I Am What I Am” ficará ainda mais embasbacado. São parceiras à altura.

Antes, porém, vai passar por “Get What You Deserve”, violenta, suja e que remete a tempos de Spacemen 3 (“Playing With Fire”). O cenário descrito parece ótimo, mas ela peca por ser mais longa do que devia. Seguir em frente vai ser um bom negócio.

Chegue a “I Am What I Am”, uma miscelânea de ruídos e distorções que há muito não se ouvia e via o Spiritualized criar (o disco anterior, “Songs In A&E”, de 2008, é um tropeço). São esses ruídos que empurram o ouvinte adiante, pra encontrar o ambiente preferido de Jason Pierce: seu conflito com a religião.

“Mary” é um lamento pela dor do pecado (“não há nada pra ser salvo”), um blues sujo, arrastado e rouco, com Pierce aparentemente forçando pra parecer ainda mais chapado. E “Life Is A Problem” é o que sugere o título, com a melhor letra do disco:

“Jesus won’t you be my radio
Broadcast direction where I got to go
Send me your signal, I will will receive
Jesus please be there to take care of me

Jesus please be my automobile
Won’t get to heaven unless God’s at the wheel
Send me your chauffeur, I will get in
Jesus please drive me away from my sin

(…)

Jesus please be my bullet and gun
Shoot all the sinners down, everyone
Slay all my demons and life will be fine
I will be reloaded all of the time

(…)

I won’t get to heaven
I won’t be coming home
I will not see my mother again
(…)”

É assim que ele emenda com a derradeira “So Long You Pretty Thing”, que começa com um choroso e um tanto infantil “se você se sente sozinho e o mundo está contra você”, avança pra balada grandiosa implorando com “help me, lord/help me, jesus”, pra crescer ao melhor estilo “fim de culto” e encerrar um dos melhores trabalhos já pensados por Pierce.

Ele deu entrevistas dizendo que esse disco foi todo criado durante a turnê recente que reviveu o clássico imbatível do Spiritualized, “Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space”, de 1997. Sim, o “Ladies And Gentlemen…” é tão forte em espírito e presença que inspirou (continua inspirando) o próprio criador a mais, provocando-o a fazer melhor.

Mas Pierce não conseguiu se superar, porque isso seria impossível. Até porque a comparação é injusta. Não dá pra colocar na mesma balança do clássico qualquer coisa que o Spiritualized lançou além de “Ladies And Gentlemen…”.

No caso deste novo lançamento, o ouvinte pode incorrer mais ou menos no mesmo erro e tentar colocar tudo na mesma balança de “Hey Jane”. Não faça isso: há beleza além da canção. “Sweet Heart Sweet Light” é bem mais do que ela, tão bom quanto.

NOTA: 9,0
Lançamento: 16 de abril de 2012
Duração: 59 minutos e 43 segundos
Selo: Double Six Records
Produção: Jason Pierce

Leia mais:

Comentários

comentários

8 comentários

  1. Ouvindo o disco agora e gostando bastante. O mundo segundo Jason Pierce e eu gosto. Estava sentindo falta de um pouco de distorção na vida.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.